São Paulo, domingo, 14 de maio de 2006

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EUA

Falta de acordo entre autoridades, arquitetos, parentes das vítimas e ONGs emperra construção de memorial do 11 de Setembro

Passados 5 anos, destino do WTC é incerto

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Se tudo der certo e o plano seguir conforme o combinado, nos próximos cinco anos os 16 mil acres do espaço que um dia foram o World Trade Center, na parte sul da ilha de Manhattan, vão receber três torres de escritórios e uma residencial, dois centros culturais, uma estação de parada de 13 linhas de metrô e uma de trem, dois memoriais batizados de "Reflecting Absence" ("ausência refletida") e -a peça de resistência- a Freedom Tower.
Cheia de simbolismos, a edificação teve sua pedra fundamental lançada no dia 27 de abril último, data em que o atual prédio mais alto da cidade, o Empire State, completava 75 anos. Terá 1.776 pés de altura, o equivalente a 541 metros, o que a tornará um dos mais altas do mundo. O número não é aleatório: 1776 é o ano da Declaração da Independência dos Estados Unidos.
Se tudo der certo, e o plano seguir conforme o combinado.
Mas o mais provável é que o contrário ocorra. Pelo menos, é o que vem acontecendo desde que, na manhã de 11 de setembro de 2001, dois aviões seqüestrados por terroristas se chocaram contra as duas principais torres do complexo de edifícios, levando tudo abaixo.
Cinco anos depois, em data que será celebrada em pouco menos de quatro meses, muito foi discutido, muito pouco dinheiro foi liberado, e apenas um edifício conseguiu sair do projeto.
Curiosamente, é o último a tombar naquele dia, o 7 World Trade Center. Está em pleno funcionamento, se se pode chamar de "pleno funcionamento" um prédio de 52 andares, classificado pelo construtor de "o mais seguro dos Estados Unidos", que abriga apenas três clientes, um deles a American Express.
O problema principal é o excesso de opiniões que têm de ser levadas em conta. O pedaço de terra onde ficava o World Trade Center e que desde aquela manhã foi rebatizado de Ground Zero, ou marco zero, pertence aos Estados de Nova York e Nova Jersey. Quem o administra é o diretor da Autoridade Portuária de Nova York e Nova Jersey.
Quem tem o usufruto é um empreendedor imobiliário veterano, Larry Silverstein. Como o terreno fica em Manhattan, nada pode ser feito sem o aval do prefeito, o republicano Michael Bloomberg. Cada construção teve o projeto destinado a um escritório de arquitetura, também com direito a voto e veto. Há ainda os parentes e amigos das quase 3.000 vítimas daquele atentado, assim como as centenas de associações e ONGs que brotaram desde então.

"Quase impossível"
"Lidar com tantas entidades diferentes é quase impossível", disse Larry Silverstein, 74, que fez seu primeiro negócio na cidade em 1950, foi classificado pela revista "New York" desta semana como um dos "influenciadores" locais e que seis semanas antes do ataque havia assinado o que foi chamado de maior acordo imobiliário da história, o direito de explorar comercialmente aqueles prédios pelos próximos 99 anos.
Ele tem razão. Na semana passada, instado pelas entidades de familiares das vítimas e seus advogados, o National Trust for Historic Preservation (NTHP), a entidade nacional de preservação de edifícios e marcos históricos dos EUA, declarou a "Escada dos Sobreviventes" "patrimônio histórico em perigo". A tal escada foi uma das únicas construções originais a sobreviver à limpeza pós-11 de Setembro. Se for mantida onde está, todos os planos citados acima terão de ser refeitos.
Tudo a um custo que pode ficar entre US$ 3 bilhões e US$ 6 bilhões e que ninguém está disposto a pagar.
"Tanto os governadores [de Nova York e de Nova Jersey] quanto eu achamos que US$ 500 milhões é mais do que suficiente", disse o prefeito Michael Bloomberg em entrevista coletiva. E cinco anos se passaram.


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