|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EUA
Falta de acordo entre autoridades, arquitetos, parentes das vítimas e ONGs emperra construção de memorial do 11 de Setembro
Passados 5 anos, destino do WTC é incerto
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
Se tudo der certo e o plano seguir conforme o combinado, nos
próximos cinco anos os 16 mil
acres do espaço que um dia foram
o World Trade Center, na parte
sul da ilha de Manhattan, vão receber três torres de escritórios e
uma residencial, dois centros culturais, uma estação de parada de
13 linhas de metrô e uma de trem,
dois memoriais batizados de "Reflecting Absence" ("ausência refletida") e -a peça de resistência- a Freedom Tower.
Cheia de simbolismos, a edificação teve sua pedra fundamental
lançada no dia 27 de abril último,
data em que o atual prédio mais
alto da cidade, o Empire State,
completava 75 anos. Terá 1.776
pés de altura, o equivalente a 541
metros, o que a tornará um dos
mais altas do mundo. O número
não é aleatório: 1776 é o ano da
Declaração da Independência dos
Estados Unidos.
Se tudo der certo, e o plano seguir conforme o combinado.
Mas o mais provável é que o
contrário ocorra. Pelo menos, é o
que vem acontecendo desde que,
na manhã de 11 de setembro de
2001, dois aviões seqüestrados
por terroristas se chocaram contra as duas principais torres do
complexo de edifícios, levando
tudo abaixo.
Cinco anos depois, em data que
será celebrada em pouco menos
de quatro meses, muito foi discutido, muito pouco dinheiro foi liberado, e apenas um edifício conseguiu sair do projeto.
Curiosamente, é o último a
tombar naquele dia, o 7 World
Trade Center. Está em pleno funcionamento, se se pode chamar
de "pleno funcionamento" um
prédio de 52 andares, classificado
pelo construtor de "o mais seguro
dos Estados Unidos", que abriga
apenas três clientes, um deles a
American Express.
O problema principal é o excesso de opiniões que têm de ser levadas em conta. O pedaço de terra
onde ficava o World Trade Center
e que desde aquela manhã foi rebatizado de Ground Zero, ou
marco zero, pertence aos Estados
de Nova York e Nova Jersey.
Quem o administra é o diretor da
Autoridade Portuária de Nova
York e Nova Jersey.
Quem tem o usufruto é um empreendedor imobiliário veterano,
Larry Silverstein. Como o terreno
fica em Manhattan, nada pode ser
feito sem o aval do prefeito, o republicano Michael Bloomberg.
Cada construção teve o projeto
destinado a um escritório de arquitetura, também com direito a
voto e veto. Há ainda os parentes e
amigos das quase 3.000 vítimas
daquele atentado, assim como as
centenas de associações e ONGs
que brotaram desde então.
"Quase impossível"
"Lidar com tantas entidades diferentes é quase impossível", disse Larry Silverstein, 74, que fez seu
primeiro negócio na cidade em
1950, foi classificado pela revista
"New York" desta semana como
um dos "influenciadores" locais e
que seis semanas antes do ataque
havia assinado o que foi chamado
de maior acordo imobiliário da
história, o direito de explorar comercialmente aqueles prédios pelos próximos 99 anos.
Ele tem razão. Na semana passada, instado pelas entidades de
familiares das vítimas e seus advogados, o National Trust for Historic Preservation (NTHP), a entidade nacional de preservação de
edifícios e marcos históricos dos
EUA, declarou a "Escada dos Sobreviventes" "patrimônio histórico em perigo". A tal escada foi
uma das únicas construções originais a sobreviver à limpeza pós-11
de Setembro. Se for mantida onde
está, todos os planos citados acima terão de ser refeitos.
Tudo a um custo que pode ficar
entre US$ 3 bilhões e US$ 6 bilhões e que ninguém está disposto
a pagar.
"Tanto os governadores [de Nova York e de Nova Jersey] quanto
eu achamos que US$ 500 milhões
é mais do que suficiente", disse o
prefeito Michael Bloomberg em
entrevista coletiva. E cinco anos se
passaram.
Texto Anterior: Artigo: Moscou, Pequim e o liberalismo Próximo Texto: Soldado relembra dia do atentado Índice
|