São Paulo, segunda-feira, 14 de maio de 2007

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Um milhão de turcos pede Estado laico

Manifestação em Esmirna contra governo de partido islâmico fortalece oposição para eleições no país, onde 99% são muçulmanos

Protesto é o quarto pelo secularismo em um mês; crise, que começou com candidatura de chanceler, é a maior dos últimos anos

Kerim Okten/Efe
Cerca de 1 milhão de manifestantes protestam em Esmirna contra o que consideram ameaças ao laicismo por parte do partido AK, do premiê Tayyip Erdogan

DA REDAÇÃO

Pelo menos 1 milhão de pessoas foi às ruas ontem em Esmirna, terceira maior cidade da Turquia, para defender o Estado laico. Foi a quarta grande manifestação, em um mês, contra o governo do partido islâmico moderado AK.
"A Turquia é secular e permanecerá secular" e "Sem sharia [a lei islâmica]", gritavam os manifestantes, em sua maioria de classe média urbana.
Os organizadores da manifestação acusam o governo de tentar solapar a separação entre Estado e religião no país, que é de ampla maioria muçulmana. Eles esperam que o protesto possa unir a oposição fragmentada para as eleições parlamentares, convocadas para 22 e julho próximo.
Ruas e edifícios da cidade portuária foram tomados por bandeiras vermelhas da Turquia e retratos de Mustafá Kemal Ataturk, que fundou a Turquia moderna, em 1923, e a governou até morrer, em 1938.
Os manifestantes chegaram a Esmirna vindos de todas as partes da Turquia, assustada pela explosão de uma bomba em um mercado da cidade, no sábado, que deixou um morto e 14 feridos. Ainda não se sabe quem foram os responsáveis.
A poderosa elite secular -que inclui os partidos de oposição, juízes de alto escalão e generais do Exército- impediu seguidamente a eleição no Parlamento do chanceler, Abdullah Gül, para a Presidência. Pressionado, o premiê Recep Tayyip Erdogan, do partido AK (centro-direita), foi forçado a convocar eleições para julho.
A elite secular teme que, na Presidência, Gül, de passado islâmico, possa romper a separação entre religião e Estado -algo que tanto o chanceler quanto o AK negam.
Sob o governo do AK, a Turquia iniciou conversações sobre sua inclusão na União Européia. Também baixou a inflação e imprimiu forte crescimento econômico, após um período em que o país foi governado por uma coalizão fraca, marcada por corrupção e instabilidade econômica.

"Maioria silenciosa"
"O AK deve ganhar as eleições, mas seus membros terão que levar em conta essas manifestações e o que as pessoas estão dizendo. Eles não podem mais permanecer arrogantes", disse Haluk Berk, professor da Universidade de Esmirna. "A maioria silenciosa está enfim desabrochando."
Pesquisas apontam que o AK vencerá, mas não deve conseguir maioria e seria forçado a fazer uma coalizão.
O Partido Republicano do Povo (centro-esquerda), principal partido de oposição, e o Partido da Esquerda Democrática, que devem formar aliança, querem usar as manifestações como trunfo nas eleições.
Mas eles estão correndo contra o tempo. "Muitos jovens não sentem que os partidos de oposição os representem. Eles não sabem em quem votar", disse o professor Dogu Ergil, da Universidade de Ancara.
Os secularistas dizem que Erdogan fracassou ao tentar solucionar um problema enraizado nos 72 milhões de turcos: dissuadir os temores dos secularistas e, ao mesmo tempo, atender seus simpatizantes, que desejam uma papel maior do islã em suas vidas.


Com agências internacionais


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