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Um milhão de turcos pede Estado laico
Manifestação em Esmirna contra governo de partido islâmico fortalece oposição para eleições no país, onde 99% são muçulmanos
Protesto é o quarto pelo secularismo em um mês; crise, que começou com candidatura de chanceler, é a maior dos últimos anos
Kerim Okten/Efe
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Cerca de 1 milhão de manifestantes protestam em Esmirna contra o que consideram ameaças ao laicismo por parte do partido AK, do premiê Tayyip Erdogan
DA REDAÇÃO
Pelo menos 1 milhão de pessoas foi às ruas ontem em Esmirna, terceira maior cidade da
Turquia, para defender o Estado laico. Foi a quarta grande
manifestação, em um mês, contra o governo do partido islâmico moderado AK.
"A Turquia é secular e permanecerá secular" e "Sem sharia [a lei islâmica]", gritavam os
manifestantes, em sua maioria
de classe média urbana.
Os organizadores da manifestação acusam o governo de
tentar solapar a separação entre Estado e religião no país,
que é de ampla maioria muçulmana. Eles esperam que o protesto possa unir a oposição
fragmentada para as eleições
parlamentares, convocadas para 22 e julho próximo.
Ruas e edifícios da cidade
portuária foram tomados por
bandeiras vermelhas da Turquia e retratos de Mustafá Kemal Ataturk, que fundou a Turquia moderna, em 1923, e a governou até morrer, em 1938.
Os manifestantes chegaram
a Esmirna vindos de todas as
partes da Turquia, assustada
pela explosão de uma bomba
em um mercado da cidade, no
sábado, que deixou um morto e
14 feridos. Ainda não se sabe
quem foram os responsáveis.
A poderosa elite secular
-que inclui os partidos de oposição, juízes de alto escalão e
generais do Exército- impediu
seguidamente a eleição no Parlamento do chanceler, Abdullah Gül, para a Presidência.
Pressionado, o premiê Recep
Tayyip Erdogan, do partido AK
(centro-direita), foi forçado a
convocar eleições para julho.
A elite secular teme que, na
Presidência, Gül, de passado islâmico, possa romper a separação entre religião e Estado -algo que tanto o chanceler quanto o AK negam.
Sob o governo do AK, a Turquia iniciou conversações sobre sua inclusão na União Européia. Também baixou a inflação e imprimiu forte crescimento econômico, após um período em que o país foi governado por uma coalizão fraca,
marcada por corrupção e instabilidade econômica.
"Maioria silenciosa"
"O AK deve ganhar as eleições, mas seus membros terão
que levar em conta essas manifestações e o que as pessoas estão dizendo. Eles não podem
mais permanecer arrogantes",
disse Haluk Berk, professor da
Universidade de Esmirna. "A
maioria silenciosa está enfim
desabrochando."
Pesquisas apontam que o AK
vencerá, mas não deve conseguir maioria e seria forçado a
fazer uma coalizão.
O Partido Republicano do
Povo (centro-esquerda), principal partido de oposição, e o
Partido da Esquerda Democrática, que devem formar aliança,
querem usar as manifestações
como trunfo nas eleições.
Mas eles estão correndo contra o tempo. "Muitos jovens
não sentem que os partidos de
oposição os representem. Eles
não sabem em quem votar",
disse o professor Dogu Ergil, da
Universidade de Ancara.
Os secularistas dizem que
Erdogan fracassou ao tentar
solucionar um problema enraizado nos 72 milhões de turcos:
dissuadir os temores dos secularistas e, ao mesmo tempo,
atender seus simpatizantes,
que desejam uma papel maior
do islã em suas vidas.
Com agências internacionais
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