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ONU cobra rebeldes e Estado por confronto no Sri Lanka
Entidade pede rendição da guerrilha e que governo abandone uso de artilharia pesada
Novo bombardeio a único hospital da área dominada pelos separatistas mata ao menos 50; Human Rights Watch quer investigação
CLARA FAGUNDES
DA REDAÇÃO
O Conselho de Segurança da
ONU exortou o governo do Sri
Lanka a suspender a artilharia
pesada e cobrou a rendição dos
rebeldes dos Tigres Tâmeis, em
sua primeira menção oficial ao
acirramento da guerra civil e
aos recentes bombardeios, descritos pelo chefe de direitos humanos da ONU, John Holmes,
como "banho de sangue".
A declaração não gera obrigação legal, mas marca guinada
da visão internacional sobre o
conflito. A oposição de Moscou
e Pequim vetaria um texto mais
duro, antecipou um diplomata
brasileiro à Folha. A própria
inclusão do tema na pauta, inicialmente alvo de objeções russas, sinaliza mudança.
O presidente dos EUA, Barack Obama, exortou ontem os
Tigres Tâmeis, classificados
como grupo terrorista, e o governo a resguardar os civis. A
crise humanitária cingalesa pode virar uma catástrofe se não
houver ação imediata, disse.
A catástrofe já começou, segundo Anna Neistat, especialista da Human Rights Watch
(HRW) em crise. "Há três meses os civis estão sendo massacrados, retidos em campos",
disse em entrevista à Folha.
O único hospital remanescente no território rebelde foi
bombardeado ontem pelo segundo dia consecutivo. Pelo
menos 50 pessoas morreram,
segundo a principal autoridade
médica na zona de guerra.
O conflito entre cingaleses e
tâmeis se arrasta desde 1983 e
deixou até 100 mil mortos. O
governo lançou em janeiro
uma "ofensiva final".
A guerrilha mantinha um governo rebelde no norte da ilha,
com auxílio de doações dos tâmeis residentes no exterior, dificultadas pelas restrições a
transações bancárias internacionais após o 11 de Setembro.
Acossados pela ofensiva, os
Tigres Tâmeis impedem que
civis deixem a área conflagrada, segundo relatos da ONU, da
HRW e do Internacional Crisis
Group. Quando conseguem escapar, a população é retida em
"campos de triagem".
Justiça Internacional
"É fundamental criar agora
uma comissão de investigação
internacional, seja no Conselho
de Segurança ou no Conselho
de Direitos Humanos (CDH)",
afirma Neistat. Seria o primeiro passo em um eventual processo por crimes de guerra.
O Brasil apoia que o caso seja
discutido na CDH, o que deve
ocorrer na próxima semana. O
Itamaraty disse acompanhar o
quadro "com preocupação",
mas não se posicionou sobre
uma eventual investigação.
"O governo e os Tigres Tâmeis precisam saber desde já
que serão responsabilizados
pelas violações que cometerem, isto não pode esperar até o
fim do confronto", diz. Neistat
prevê que o Exército capture
nos próximos dias o último bastião rebelde, reduzido a 5 km2.
O governo cingalês nega ter
usado artilharia pesada nas últimas semanas, mas análises
das imagens feitas por satélite
mostram novas crateras e outros indícios de conflito. As
provas derrubam a versão oficial, afirma a HRW.
Neistat rechaça críticas do
governo sobre o suposto viés
das organizações internacionais. "Os Tigres Tâmeis atuam
de forma cruel. Mas, quando os
civis tâmeis conseguem escapar da zona rebelde, não são
tratados de maneira melhor."
A situação nos campos mantidos pelo governo "é terrível e
está piorando", segundo Neistat. "Ninguém, exceto uns poucos idosos, foi liberado, e milhares estão chegando. Não há
estrutura para tanta gente",
contou a analista, que estima
em 160 mil a 200 mil os retidos.
"Essas pessoas estão detidas
por tempo indeterminado, sem
qualquer procedimento legal
ou informação sobre quando
serão libertadas", afirma.
Com agências internacionais
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