São Paulo, quinta-feira, 14 de maio de 2009

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ONU cobra rebeldes e Estado por confronto no Sri Lanka

Entidade pede rendição da guerrilha e que governo abandone uso de artilharia pesada

Novo bombardeio a único hospital da área dominada pelos separatistas mata ao menos 50; Human Rights Watch quer investigação


CLARA FAGUNDES
DA REDAÇÃO

O Conselho de Segurança da ONU exortou o governo do Sri Lanka a suspender a artilharia pesada e cobrou a rendição dos rebeldes dos Tigres Tâmeis, em sua primeira menção oficial ao acirramento da guerra civil e aos recentes bombardeios, descritos pelo chefe de direitos humanos da ONU, John Holmes, como "banho de sangue".
A declaração não gera obrigação legal, mas marca guinada da visão internacional sobre o conflito. A oposição de Moscou e Pequim vetaria um texto mais duro, antecipou um diplomata brasileiro à Folha. A própria inclusão do tema na pauta, inicialmente alvo de objeções russas, sinaliza mudança.
O presidente dos EUA, Barack Obama, exortou ontem os Tigres Tâmeis, classificados como grupo terrorista, e o governo a resguardar os civis. A crise humanitária cingalesa pode virar uma catástrofe se não houver ação imediata, disse.
A catástrofe já começou, segundo Anna Neistat, especialista da Human Rights Watch (HRW) em crise. "Há três meses os civis estão sendo massacrados, retidos em campos", disse em entrevista à Folha.
O único hospital remanescente no território rebelde foi bombardeado ontem pelo segundo dia consecutivo. Pelo menos 50 pessoas morreram, segundo a principal autoridade médica na zona de guerra.
O conflito entre cingaleses e tâmeis se arrasta desde 1983 e deixou até 100 mil mortos. O governo lançou em janeiro uma "ofensiva final".
A guerrilha mantinha um governo rebelde no norte da ilha, com auxílio de doações dos tâmeis residentes no exterior, dificultadas pelas restrições a transações bancárias internacionais após o 11 de Setembro.
Acossados pela ofensiva, os Tigres Tâmeis impedem que civis deixem a área conflagrada, segundo relatos da ONU, da HRW e do Internacional Crisis Group. Quando conseguem escapar, a população é retida em "campos de triagem".

Justiça Internacional
"É fundamental criar agora uma comissão de investigação internacional, seja no Conselho de Segurança ou no Conselho de Direitos Humanos (CDH)", afirma Neistat. Seria o primeiro passo em um eventual processo por crimes de guerra.
O Brasil apoia que o caso seja discutido na CDH, o que deve ocorrer na próxima semana. O Itamaraty disse acompanhar o quadro "com preocupação", mas não se posicionou sobre uma eventual investigação.
"O governo e os Tigres Tâmeis precisam saber desde já que serão responsabilizados pelas violações que cometerem, isto não pode esperar até o fim do confronto", diz. Neistat prevê que o Exército capture nos próximos dias o último bastião rebelde, reduzido a 5 km2.
O governo cingalês nega ter usado artilharia pesada nas últimas semanas, mas análises das imagens feitas por satélite mostram novas crateras e outros indícios de conflito. As provas derrubam a versão oficial, afirma a HRW.
Neistat rechaça críticas do governo sobre o suposto viés das organizações internacionais. "Os Tigres Tâmeis atuam de forma cruel. Mas, quando os civis tâmeis conseguem escapar da zona rebelde, não são tratados de maneira melhor."
A situação nos campos mantidos pelo governo "é terrível e está piorando", segundo Neistat. "Ninguém, exceto uns poucos idosos, foi liberado, e milhares estão chegando. Não há estrutura para tanta gente", contou a analista, que estima em 160 mil a 200 mil os retidos.
"Essas pessoas estão detidas por tempo indeterminado, sem qualquer procedimento legal ou informação sobre quando serão libertadas", afirma.

Com agências internacionais



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