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ARTIGO
Legado de Bush ainda cerceia debate nos EUA
ADRIAN HAMILTON
DO "INDEPENDENT"
Nem mesmo os manifestantes contrários a ele se incomodaram em aparecer enquanto o presidente George
W. Bush realizava a última
visita à Europa, nesta semana. Ele veio quase como um
diplomata anônimo, para
conduzir negociações privadas e dizer algumas palavras
diante das câmeras.
Existe uma versão fantasiosa para esse fenômeno,
segundo a qual o anonimato
da visita de Bush representa
um tributo ao sucesso do relacionamento que o presidente desenvolveu com a
Europa. Enquanto nos dias
que se seguiram à invasão do
Iraque os contatos eram difíceis e ruidosos, agora Bush e
a Europa se sentem confortáveis em seu relacionamento. Os três principais líderes
da União Européia -Gordon
Brown, Angela Merkel e Nicolas Sarkozy- são todos
claramente pró-americanos.
Essa versão é o oposto da
realidade. O silêncio que vem
acompanhando as últimas
viagens internacionais de
Bush é o silêncio do fracasso.
Ele queria encerrar sua Presidência tendo delineado um
acordo de paz para o Oriente
Médio. Mas, como demonstrou sua recente visita a Israel, estamos agora mais longe do que nunca da paz.
A situação no Iraque se
acomodou um pouco. Mas a
ameaça do terrorismo não se
reduziu, e o Iraque está longe
de ser um Estado unitário.
E quanto à Europa? O acordo europeu pela imposição de sanções mais firmes
ao Irã representa apenas um
grito de desespero por uma
política que fracassou em
conter os iranianos, o avanço
de seu programa nuclear ou a
expansão de sua influência.
No entanto, quando se trata de políticas que poderiam
substituir as de Bush em termos práticos, não existe debate intenso, nos EUA ou fora do país.
Recuos de Obama
Os esforços iniciais de Barack Obama para sugerir negociações com o Hamas e até
mesmo com o presidente
Ahmadinejad do Irã despertaram tamanha vituperação
e acusações tão rápidas de
falta de patriotismo que ele
se viu forçado a recuar quase
completamente.
Mal tinha garantido sua
indicação pelo Partido Democrata, Obama discursou
declarando seu completo
apoio a uma Jerusalém unificada, algo que nem mesmo
Bush havia prometido.
Temos nos Estados Unidos a louca e, aos olhos internacionais, inexplicável, conjunção de uma opinião pública que deseja mudança completa em relação a Bush, mas,
ao mesmo tempo, uma disputa presidencial que não
permite que qualquer dos
candidatos se afaste da trilha
estreita e desacreditada que
foi seguida nos últimos anos.
Existe toda espécie de explicação para isso. Em última
análise, poucas eleições americanas são decididas pela
política externa. A disputa
costuma girar em torno dos
temas que Obama agora vem
priorizando, como a economia, os impostos e a Previdência Social. Para o mundo
em geral, é um erro esperar
por uma política externa nova e radical em Washington,
não importa quais venham a
ser os resultados da eleição.
E não deveríamos esquecer, além disso, que nem Europa nem Oriente Médio
nem Ásia definiram um futuro pós-Bush para eles mesmos. Se o mundo ainda anseia por alguma forma de liderança vinda dos EUA, embora reclame dela quando
surge, é porque não existem
estadistas capazes de oferecerem idéias alternativas.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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