São Paulo, sábado, 14 de junho de 2008

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ARTIGO

Legado de Bush ainda cerceia debate nos EUA

ADRIAN HAMILTON DO "INDEPENDENT"

Nem mesmo os manifestantes contrários a ele se incomodaram em aparecer enquanto o presidente George W. Bush realizava a última visita à Europa, nesta semana. Ele veio quase como um diplomata anônimo, para conduzir negociações privadas e dizer algumas palavras diante das câmeras.
Existe uma versão fantasiosa para esse fenômeno, segundo a qual o anonimato da visita de Bush representa um tributo ao sucesso do relacionamento que o presidente desenvolveu com a Europa. Enquanto nos dias que se seguiram à invasão do Iraque os contatos eram difíceis e ruidosos, agora Bush e a Europa se sentem confortáveis em seu relacionamento. Os três principais líderes da União Européia -Gordon Brown, Angela Merkel e Nicolas Sarkozy- são todos claramente pró-americanos.
Essa versão é o oposto da realidade. O silêncio que vem acompanhando as últimas viagens internacionais de Bush é o silêncio do fracasso.
Ele queria encerrar sua Presidência tendo delineado um acordo de paz para o Oriente Médio. Mas, como demonstrou sua recente visita a Israel, estamos agora mais longe do que nunca da paz.
A situação no Iraque se acomodou um pouco. Mas a ameaça do terrorismo não se reduziu, e o Iraque está longe de ser um Estado unitário.
E quanto à Europa? O acordo europeu pela imposição de sanções mais firmes ao Irã representa apenas um grito de desespero por uma política que fracassou em conter os iranianos, o avanço de seu programa nuclear ou a expansão de sua influência.
No entanto, quando se trata de políticas que poderiam substituir as de Bush em termos práticos, não existe debate intenso, nos EUA ou fora do país.

Recuos de Obama
Os esforços iniciais de Barack Obama para sugerir negociações com o Hamas e até mesmo com o presidente Ahmadinejad do Irã despertaram tamanha vituperação e acusações tão rápidas de falta de patriotismo que ele se viu forçado a recuar quase completamente.
Mal tinha garantido sua indicação pelo Partido Democrata, Obama discursou declarando seu completo apoio a uma Jerusalém unificada, algo que nem mesmo Bush havia prometido.
Temos nos Estados Unidos a louca e, aos olhos internacionais, inexplicável, conjunção de uma opinião pública que deseja mudança completa em relação a Bush, mas, ao mesmo tempo, uma disputa presidencial que não permite que qualquer dos candidatos se afaste da trilha estreita e desacreditada que foi seguida nos últimos anos.
Existe toda espécie de explicação para isso. Em última análise, poucas eleições americanas são decididas pela política externa. A disputa costuma girar em torno dos temas que Obama agora vem priorizando, como a economia, os impostos e a Previdência Social. Para o mundo em geral, é um erro esperar por uma política externa nova e radical em Washington, não importa quais venham a ser os resultados da eleição.
E não deveríamos esquecer, além disso, que nem Europa nem Oriente Médio nem Ásia definiram um futuro pós-Bush para eles mesmos. Se o mundo ainda anseia por alguma forma de liderança vinda dos EUA, embora reclame dela quando surge, é porque não existem estadistas capazes de oferecerem idéias alternativas.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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