São Paulo, domingo, 14 de junho de 2009

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Vitória de presidente deflagra protestos no Irã

Confirmação de reeleição de Mahmoud Ahmadinejad, com 62,7%, leva oposição às ruas; derrotado acusa "irregularidades em massa'

Polícia reage com violência a manifestações, e repórter da Folha é agredido; escolas são fechadas, e sistemas de informação são restritos

Olivier Laban-Mattel/France Presse
Apoiadores de Mousavi em confronto com a polícia em Teerã

RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A TEERÃ

Centenas de protestos aconteceram ontem no Irã, após o Conselho Eleitoral divulgar a vitória do presidente Mahmoud Ahmadinejad, com 62,7% dos votos.
Ele derrotou o reformista moderado Mir Hossein Mousavi, que teve 33,7% dos votos. O opositor disse que houve "irregularidades em massa" e pediu a anulação das eleições.
Os comitês dos candidatos reformistas, Mousavi e Mehdi Karubi, amanheceram cercados por paramilitares. Em sua página na internet, Mousavi pediu calma aos partidários para evitar ainda mais violência.
Ahmadinejad disse, em comunicado televisivo, que o resultado "é uma grande vitória" e acusou a imprensa internacional estar "totalmente mobilizada contra o nosso povo".
O presidente, no cargo desde 2005, tem previsto para a manhã deste domingo um comício na praça Azadi ("liberdade") .
Nas últimas semanas, a grave crise econômica, racha inédito na liderança islâmica e bem-sucedida campanha entre jovens e mulheres tinham tirado o favoritismo de Ahmadinejad.
Várias medidas de segurança foram implementadas. Estão proibidos comícios e reuniões públicas até segunda ordem.
As universidades iranianas foram fechadas por ordem ministerial e provas marcadas no fim de semana, em temporada de exame, foram adiadas.
O serviço de mensagens enviadas por celulares foi suspenso anteontem e funcionou precariamente ao longo do sábado, assim como a telefonia celular.
Várias cidades ficaram sem internet. Sites da campanha de Mousavi, inclusive seu boletim de notícias, estavam bloqueados na manhã de ontem.
A TV estatal não para de exibir mensagens pedindo "calma e aceitação dos resultados", e são exibidas imagens de líderes reformistas pedindo "calma" -ainda que esses depoimentos tenham sido gravados na semana passada, em outro contexto.
O Ministério da Cultura anunciou ontem que não renovará os vistos de jornalistas estrangeiros no país, que são concedidos por períodos de até uma semana. Acredita-se que já na quarta-feira não haverá imprensa estrangeira em Teerã.

Repressão
Marchas espontâneas, reunindo de 50 a 10 mil pessoas, aconteceram pela capital ao longo do dia, cantando "Roubo, roubo, roubo" ou "Ditador, bye, bye, ditador, bye, bye". A maioria terminou com manifestantes ensanguentados ou detidos.
Militares, paramilitares e a temida milícia dos basijis, os "vigilantes da revolução", estavam espalhados pela cidade.
A avenida Fatemi, onde fica o Ministério do Interior, que divulgou os resultados, foi fechada por diversos quarteirões, tanto para carros como para pedestres. Estes apanhavam de cassetetes da polícia se tentassem atravessar a rua.
O repórter da Folha foi agredido a cassetetes por um policial, enquanto se protegia em uma marquise da multidão que corria -e se derrubava- fugindo da repressão na avenida Fatemi. Diversos fotógrafos ficaram sangrando -eram os maiores alvos da polícia. Houve protestos também em outras partes do país.

Incógnita
A grande interrogação é como se comportarão as dezenas de milhares de jovens que tomaram as ruas de Teerã nas últimas três semanas, fazendo festiva campanha para Mousavi -o clima de democracia e liberdade que marcou a campanha se dissipou rapidamente.
Na quarta-feira, o chefe político da Guarda Revolucionária disse que qualquer "revolução de veludo" seria reprimida exemplarmente -em referência à revolta popular e estudantil que derrubou o comunismo na antiga Tchecoslováquia.
Mousavi cancelou duas entrevistas coletivas e ainda continuava em reuniões fechadas no Ministério do Interior.
Seu comitê divulgou mensagem em que ele diz que não se "renderá a esta perigosa charada". "Os pilares da República Islâmica estão em risco por algumas autoridades que querem estabelecer uma tirania", disse.


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