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Mídia iraquiana é livre, mas não tem dinheiro
DO "LE MONDE", EM BAGDÁ
Em dez semanas de existência,
dois dias de greve. Nos salões do
Palácio das Convenções, onde a
administração civil norte-americana lhes reservou um pequeno
espaço em Bagdá, crescem a raiva
e a frustração entre os 357 técnicos e jornalistas da Iraqi Media
Networks (IMN).
"Estamos cheios!", diz o enraivecido Abudal Salam al Dharri,
diretor de informação da nova rede via satélite de rádio e TV iraquiana. "A liberdade de transmitir aquilo que nos parece importante, nós a temos. Mas não temos
recursos, redações, equipamentos
suficientes, e os salários são horríveis. Exatamente o inverso do que
acontecia sob Saddam Hussein."
Um combate confuso irrompe
na nova paisagem audiovisual
iraquiana. Composta por uma
única rede de TV aberta, uma rede de TV via satélite e três estações de rádio, uma em FM e duas
em ondas médias, montadas pelos norte-americanos assim que o
regime de Saddam Hussein caiu, a
IMN funciona como uma espécie
de novo serviço oficial de rádio e
teledifusão do Iraque.
Gerenciada, sob o controle geral
de Paul Bremer, o administrador
civil dos EUA no Iraque, por uma
empresa privada norte-americana, a Saic, que participou da concorrência lançada depois da guerra pelo Pentágono, a nova mídia
pública iraquiana oferece de seis a
12 horas diárias de música, documentários, filmes norte-americanos e notícias.
Percebidas, com ou sem razão,
como veículos norte-americanos,
as estações de rádio e televisão
controladas pela IMN transmitem, decerto, as mensagens e decretos das "forças de libertação".
Só a mídia privada, como jornais de grande porte como o
"New York Times", fala em "forças de ocupação", mas seus dirigentes e jornalistas juram que o
fazem por escolha própria, e não
por imposição militar.
Os veículos oficiais de mídia
concorrem contra mais de duas
dezenas de pequenas rádios privadas, todas mais ou menos afiliadas a grupos de influência e partidos políticos, que lançaram em
menos de três meses uma boa
centena de jornais, os quais não
usam eufemismos para denunciar a "ocupação do Iraque".
"Sem escritórios"
Antigo redator-chefe da Rádio
Iraque Livre, a estação de resistência a Saddam Hussein, transmitida de Londres, Ahmed al
Roukabi, 33, o jovem diretor da
IMN, nos recebeu em um corredor. "Lamento, cheguei do Kuait
com o Exército dos EUA no começo de abril e ainda não tenho
escritório para receber visitas".
"Além do fato de não terem preparado bem a administração do
pós-guerra", diz al Roukabi, "tenho a impressão de que os americanos não percebem bem que é
aqui, com o nosso trabalho, que a
futura democracia iraquiana está
sendo preparada".
Cidadão sueco de origem iraquiana, al-Roukabi diz que jamais
viveu no Iraque e protesta contra
o governador americano que
"oferece dezenas de milhões de
dólares mensais a pseudo-conselheiros políticos iraquianos que
nada fazem", enquanto jornalistas e técnicos ganham salários entre US$ 60 e US$ 120 por mês.
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