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São Paulo, segunda-feira, 14 de julho de 2003

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Mídia iraquiana é livre, mas não tem dinheiro

DO "LE MONDE", EM BAGDÁ

Em dez semanas de existência, dois dias de greve. Nos salões do Palácio das Convenções, onde a administração civil norte-americana lhes reservou um pequeno espaço em Bagdá, crescem a raiva e a frustração entre os 357 técnicos e jornalistas da Iraqi Media Networks (IMN).
"Estamos cheios!", diz o enraivecido Abudal Salam al Dharri, diretor de informação da nova rede via satélite de rádio e TV iraquiana. "A liberdade de transmitir aquilo que nos parece importante, nós a temos. Mas não temos recursos, redações, equipamentos suficientes, e os salários são horríveis. Exatamente o inverso do que acontecia sob Saddam Hussein."
Um combate confuso irrompe na nova paisagem audiovisual iraquiana. Composta por uma única rede de TV aberta, uma rede de TV via satélite e três estações de rádio, uma em FM e duas em ondas médias, montadas pelos norte-americanos assim que o regime de Saddam Hussein caiu, a IMN funciona como uma espécie de novo serviço oficial de rádio e teledifusão do Iraque.
Gerenciada, sob o controle geral de Paul Bremer, o administrador civil dos EUA no Iraque, por uma empresa privada norte-americana, a Saic, que participou da concorrência lançada depois da guerra pelo Pentágono, a nova mídia pública iraquiana oferece de seis a 12 horas diárias de música, documentários, filmes norte-americanos e notícias.
Percebidas, com ou sem razão, como veículos norte-americanos, as estações de rádio e televisão controladas pela IMN transmitem, decerto, as mensagens e decretos das "forças de libertação".
Só a mídia privada, como jornais de grande porte como o "New York Times", fala em "forças de ocupação", mas seus dirigentes e jornalistas juram que o fazem por escolha própria, e não por imposição militar.
Os veículos oficiais de mídia concorrem contra mais de duas dezenas de pequenas rádios privadas, todas mais ou menos afiliadas a grupos de influência e partidos políticos, que lançaram em menos de três meses uma boa centena de jornais, os quais não usam eufemismos para denunciar a "ocupação do Iraque".

"Sem escritórios"
Antigo redator-chefe da Rádio Iraque Livre, a estação de resistência a Saddam Hussein, transmitida de Londres, Ahmed al Roukabi, 33, o jovem diretor da IMN, nos recebeu em um corredor. "Lamento, cheguei do Kuait com o Exército dos EUA no começo de abril e ainda não tenho escritório para receber visitas".
"Além do fato de não terem preparado bem a administração do pós-guerra", diz al Roukabi, "tenho a impressão de que os americanos não percebem bem que é aqui, com o nosso trabalho, que a futura democracia iraquiana está sendo preparada".
Cidadão sueco de origem iraquiana, al-Roukabi diz que jamais viveu no Iraque e protesta contra o governador americano que "oferece dezenas de milhões de dólares mensais a pseudo-conselheiros políticos iraquianos que nada fazem", enquanto jornalistas e técnicos ganham salários entre US$ 60 e US$ 120 por mês.


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