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São Paulo, segunda-feira, 14 de julho de 2003

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AFEGANISTÃO

Contagem deve levar quase um ano; dados ajudarão no planejamento da economia, da saúde e da educação

Afegãos fazem primeiro censo em 23 anos

CARLOTTA GALL
DO NEW YORK TIMES, EM FAIZABAD

Utilitários brancos novinhos vêm sacolejando pelas estradas pedregosas e vadeando os rios velozes do Badaquistão, a mais remota e mais pobre Província do norte do Afeganistão, no alto da cordilheira do Hindu Kush.
Eles transportam os pesquisadores do censo e equipes de funcionários do Serviço Central de Estatísticas do governo do Afeganistão. Nas últimas semanas, equipados com novas tendas, sacos de dormir e telefones via satélite fornecidos pelas Nações Unidas, eles iniciaram o primeiro recenseamento do país em 23 anos.
"Todos os carros estão atolados. As equipes seguiram seu caminho a pé", diz Ghulam Hazrat, 51, controlador do projeto na região e diretor assistente de assuntos provinciais no Serviço Central de Estatísticas em Cabul. "É um trabalho muito difícil, em função do estado das estradas". Ele disse que não recebe informações de uma de suas equipes há 11 dias.
Chegar a cada uma das aldeias dessa terra imensa, que abriga alguns dos desertos mais inacessíveis e das montanhas mais altas do mundo, é uma tarefa complicada. Os trabalhadores do recenseamento têm por objetivo registrar cada domicílio e contar cada criança e adulto em cada família do país. Isso levará quase um ano. Eles esperam terminar por volta do segundo trimestre do ano que vem, antes das eleições nacionais planejadas para junho.
O recenseamento está sendo realizado em diversas partes do país ao mesmo tempo em que são feitas consultas sobre a nova Constituição afegã. Ambos os trabalhos são vitais para abrir caminho às primeiras eleições nacionais democráticas em um quarto de século. O recenseamento ajudará a compreender e avaliar as necessidades da população.
"Será muito importante para planejar a economia, a saúde e a educação", disse Muhammad Hamimi, governador do Badaquistão. "É preciso saber o número de habitantes de cada região".
Ele estima que a Província do Badaquistão tenha 1,2 milhão de habitantes. Mas a estimativa do serviço de estatísticas é de 740 mil. Ninguém sabe ao certo qual é a população do Afeganistão, ou como ela está distribuída, reconheceu Hazrat, sentado no chão de uma sala sem móveis em Faizabad, a capital da Província. O serviço para o qual trabalha está operando com uma estimativa preliminar de 23 milhões de habitantes para o país. "Em breve conheceremos a resposta."
A cada noite ele registra os números que suas equipes comunicam à medida que avançam pelas aldeias dos 28 distritos do Badaquistão. Ele transmite os números a Cabul, onde os resultados são inseridos por funcionários em um computador central.
Hazrat tem 131 pessoas cobrindo a Província, viajando em 13 equipes. Enquanto os trabalhadores se espalham em duplas para visitar as aldeias, registrando cada casa que encontram e entrevistando os chefes dos domicílios, eles contam o número de crianças e a distribuição de homens e mulheres adultos, e de meninos e meninas com menos de 18 anos.
Cada equipe conta com um membro do Serviço Nacional de Cartografia, que registra a localização das aldeias no Sistema de Posicionamento Global (GPS) e desenha um esboço de mapa para todas as aldeias e cidades com mais de 2.000 habitantes.
O governador Hamimi, que acaba de ser nomeado, alerta que o Badaquistão é uma das regiões mais pobres e menos acessíveis do Afeganistão.
Três distritos, Darwaz, Shignan e Wakhan, não dispõem de estradas, e a jornada entre essas áreas e Faizabad a pé pode levar 15 dias, diz ele. Alguns dos moradores consideram ser mais rápido ir ao vizinho Tadjiquistão.
Muitos distritos ficam isolados pela neve durante seis ou sete meses por ano. Mesmo quando o tempo é bom, as pessoas dessas áreas têm pouco acesso a assistência médica. Um surto de febre tifóide matou várias crianças dois meses atrás no montanhoso distrito de Darwaz, o mais setentrional da Província, disse ele.
As equipes do recenseamento são todas formadas por gente da cidade, e o governador Hamimi previu que elas subestimariam o tempo necessário a cobrir o Badaquistão. "Quando eles estimam que vai levar três dias, sei que demorará cinco", diz, rindo.
Hazrat admitiu que sua organização subestimou o escopo da tarefa. "O plano era cobrir a Província inteira em 40 dias", disse, "mas infelizmente, por causa das condições das estradas e da cheia dos rios, não sei quanto vamos demorar, provavelmente dois meses".
Uma equipe partiu rumo a Darwaz, que faz fronteira com o Tadjiquistão. "Eles estão levando só seus sacos de dormir e documentos", disse. Os homens estão fora de contato há 11 dias, provavelmente porque não há eletricidade ou não têm como recarregar a bateria de seus telefones via satélite.
Mas Hazrat disse que suas equipes eram capazes de fazer o trabalho. Elas já cobriram a maior parte de dez das 32 Províncias do Afeganistão, começando com aquelas nas quais as condições de segurança são melhores.


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