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AFEGANISTÃO
Contagem deve levar quase um ano; dados ajudarão no planejamento da economia, da saúde e da educação
Afegãos fazem primeiro censo em 23 anos
CARLOTTA GALL
DO NEW YORK TIMES, EM FAIZABAD
Utilitários brancos novinhos
vêm sacolejando pelas estradas
pedregosas e vadeando os rios velozes do Badaquistão, a mais remota e mais pobre Província do
norte do Afeganistão, no alto da
cordilheira do Hindu Kush.
Eles transportam os pesquisadores do censo e equipes de funcionários do Serviço Central de
Estatísticas do governo do Afeganistão. Nas últimas semanas,
equipados com novas tendas, sacos de dormir e telefones via satélite fornecidos pelas Nações Unidas, eles iniciaram o primeiro recenseamento do país em 23 anos.
"Todos os carros estão atolados.
As equipes seguiram seu caminho
a pé", diz Ghulam Hazrat, 51, controlador do projeto na região e diretor assistente de assuntos provinciais no Serviço Central de Estatísticas em Cabul. "É um trabalho muito difícil, em função do estado das estradas". Ele disse que
não recebe informações de uma
de suas equipes há 11 dias.
Chegar a cada uma das aldeias
dessa terra imensa, que abriga alguns dos desertos mais inacessíveis e das montanhas mais altas
do mundo, é uma tarefa complicada. Os trabalhadores do recenseamento têm por objetivo registrar cada domicílio e contar cada
criança e adulto em cada família
do país. Isso levará quase um ano.
Eles esperam terminar por volta
do segundo trimestre do ano que
vem, antes das eleições nacionais
planejadas para junho.
O recenseamento está sendo
realizado em diversas partes do
país ao mesmo tempo em que são
feitas consultas sobre a nova
Constituição afegã. Ambos os trabalhos são vitais para abrir caminho às primeiras eleições nacionais democráticas em um quarto
de século. O recenseamento ajudará a compreender e avaliar as
necessidades da população.
"Será muito importante para
planejar a economia, a saúde e a
educação", disse Muhammad
Hamimi, governador do Badaquistão. "É preciso saber o número de habitantes de cada região".
Ele estima que a Província do
Badaquistão tenha 1,2 milhão de
habitantes. Mas a estimativa do
serviço de estatísticas é de 740 mil.
Ninguém sabe ao certo qual é a
população do Afeganistão, ou como ela está distribuída, reconheceu Hazrat, sentado no chão de
uma sala sem móveis em Faizabad, a capital da Província. O serviço para o qual trabalha está operando com uma estimativa preliminar de 23 milhões de habitantes para o país. "Em breve conheceremos a resposta."
A cada noite ele registra os números que suas equipes comunicam à medida que avançam pelas
aldeias dos 28 distritos do Badaquistão. Ele transmite os números
a Cabul, onde os resultados são
inseridos por funcionários em um
computador central.
Hazrat tem 131 pessoas cobrindo a Província, viajando em 13
equipes. Enquanto os trabalhadores se espalham em duplas para
visitar as aldeias, registrando cada
casa que encontram e entrevistando os chefes dos domicílios,
eles contam o número de crianças
e a distribuição de homens e mulheres adultos, e de meninos e meninas com menos de 18 anos.
Cada equipe conta com um
membro do Serviço Nacional de
Cartografia, que registra a localização das aldeias no Sistema de
Posicionamento Global (GPS) e
desenha um esboço de mapa para
todas as aldeias e cidades com
mais de 2.000 habitantes.
O governador Hamimi, que
acaba de ser nomeado, alerta que
o Badaquistão é uma das regiões
mais pobres e menos acessíveis
do Afeganistão.
Três distritos, Darwaz, Shignan
e Wakhan, não dispõem de estradas, e a jornada entre essas áreas e
Faizabad a pé pode levar 15 dias,
diz ele. Alguns dos moradores
consideram ser mais rápido ir ao
vizinho Tadjiquistão.
Muitos distritos ficam isolados
pela neve durante seis ou sete meses por ano. Mesmo quando o
tempo é bom, as pessoas dessas
áreas têm pouco acesso a assistência médica. Um surto de febre tifóide matou várias crianças dois
meses atrás no montanhoso distrito de Darwaz, o mais setentrional da Província, disse ele.
As equipes do recenseamento
são todas formadas por gente da
cidade, e o governador Hamimi
previu que elas subestimariam o
tempo necessário a cobrir o Badaquistão. "Quando eles estimam
que vai levar três dias, sei que demorará cinco", diz, rindo.
Hazrat admitiu que sua organização subestimou o escopo da tarefa. "O plano era cobrir a Província inteira em 40 dias", disse, "mas
infelizmente, por causa das condições das estradas e da cheia dos
rios, não sei quanto vamos demorar, provavelmente dois meses".
Uma equipe partiu rumo a Darwaz, que faz fronteira com o Tadjiquistão. "Eles estão levando só
seus sacos de dormir e documentos", disse. Os homens estão fora
de contato há 11 dias, provavelmente porque não há eletricidade
ou não têm como recarregar a bateria de seus telefones via satélite.
Mas Hazrat disse que suas equipes eram capazes de fazer o trabalho. Elas já cobriram a maior parte de dez das 32 Províncias do
Afeganistão, começando com
aquelas nas quais as condições de
segurança são melhores.
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