São Paulo, terça-feira, 14 de julho de 2009

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Governo golpista recruta dupla ligada aos Clinton

Americanos atuam em negociações na Costa Rica e em lobby para obter apoio internacional

Facções rivais hondurenhas devem retomar conversas no sábado; Zelaya ameaça romper diálogo caso não haja acordo para sua volta

Rodrigo Abd/Associated Press
Mulher passa por muro de catedral da capital de Honduras com pichação feita por partidários do presidente deposto Manuel Zelaya

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA (HONDURAS)

Em busca de reconhecimento internacional e sobretudo de Washington, o presidente interino, Roberto Micheletti, tem contado com a ajuda de assessores americanos próximos ao Partido Democrata tanto para melhorar a imagem do seu governo como nas negociações intermediadas pela Costa Rica.
Reportagem publicada ontem pelo jornal "New York Times" revela que Micheletti tem sido assessorado por Bennet Ratcliff, consultor ligado ao governo Bill Clinton (1993-2001), e por Lanny J. Davis, que trabalhou como advogado pessoal do ex-presidente americano e participou da campanha da ex-pré-candidata à Casa Branca e atual secretária de Estado, Hillary Clinton, no ano passado.
Ratcliff integrou a comitiva de Micheletti à Costa Rica, quando houve dois dias de reuniões com representantes do presidente deposto, Manuel Zelaya, intermediadas pelo presidente Óscar Arias, Prêmio Nobel da Paz de 1987.
Segundo a Folha apurou, Ratcliff foi contratado pela União Cívica Democrática (UCD), organização guarda-chuva formada por empresários e políticos que vem atuando para melhorar a imagem de Micheletti no exterior.
É a UCD quem tem organizado e financiado as "marchas pela paz", como são conhecidas as grandes concentrações de apoio a Micheletti em que os simpatizantes são convocados a se vestir de branco.
Um dos principais líderes da UCD é o empresário Juan Ferrera. Em entrevista por telefone, ele se negou a comentar a natureza da assessoria de Ratcliff, mas afirmou que o grande desafio agora é conseguir apoio internacional para dar legitimidade às eleições presidenciais de 29 de novembro.
Assim como Micheletti, Ferrera defende que o retorno de Zelaya a Honduras é inviável. "Nas atuais circunstâncias, seu retorno não ajudaria o país."
Segundo o coordenador da UCD, um bom relacionamento com os EUA é fundamental para a viabilidade de Honduras.
"Os EUA são o sócio comercial mais importante de Honduras, mantêm uma importante cooperação. Além disso, há 1 milhão de hondurenhos morando lá. É uma realidade que nenhum outro país oferece, não vejo como Hugo Chávez pode substituir isso", afirmou.
De acordo com reitora da Universidade Nacional Autônoma de Honduras (Unah), Julieta Castellanos, a grande dificuldade de Micheletti nos EUA é a de que classe política hondurenha tem historicamente fortes ligações com os governos republicanos.
"Embora não de forma oficial, o governo Micheletti tem conseguido, por meio dos aliados republicanos, criar o temor nos EUA da aliança Zelaya-Chávez", afirma Castellanos. "O que a direita aqui quer é maior ingerência americana em Honduras contra Chávez."

Negociações
Em entrevista coletiva ontem de manhã, Micheletti disse que as negociações na Costa Rica poderiam ser retomadas neste sábado.
Na Nicarágua, Zelaya disse que, se não houver acordo para que seja reconduzido ao cargo nesta semana, ele considerará as negociações encerradas. "Estamos dando um ultimato ao regime golpista, de que no próximo encontro nesta semana em San José, Costa Rica, eles devem obedecer às resoluções [da OEA e da ONU, que exigem que ele seja reempossado]. Do contrário, essa mediação será considerada fracassada."


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