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Governo golpista recruta dupla ligada aos Clinton
Americanos atuam em negociações na Costa Rica e em lobby para obter apoio internacional
Facções rivais hondurenhas devem retomar conversas no sábado; Zelaya ameaça romper diálogo caso não haja acordo para sua volta
Rodrigo Abd/Associated Press
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Mulher passa por muro de catedral da capital de Honduras com pichação feita por partidários do presidente deposto Manuel Zelaya
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA
(HONDURAS)
Em busca de reconhecimento internacional e sobretudo de
Washington, o presidente interino, Roberto Micheletti, tem
contado com a ajuda de assessores americanos próximos ao
Partido Democrata tanto para
melhorar a imagem do seu governo como nas negociações
intermediadas pela Costa Rica.
Reportagem publicada ontem pelo jornal "New York Times" revela que Micheletti tem
sido assessorado por Bennet
Ratcliff, consultor ligado ao governo Bill Clinton (1993-2001),
e por Lanny J. Davis, que trabalhou como advogado pessoal do
ex-presidente americano e participou da campanha da ex-pré-candidata à Casa Branca e atual
secretária de Estado, Hillary
Clinton, no ano passado.
Ratcliff integrou a comitiva
de Micheletti à Costa Rica,
quando houve dois dias de reuniões com representantes do
presidente deposto, Manuel
Zelaya, intermediadas pelo
presidente Óscar Arias, Prêmio
Nobel da Paz de 1987.
Segundo a Folha apurou,
Ratcliff foi contratado pela
União Cívica Democrática
(UCD), organização guarda-chuva formada por empresários e políticos que vem atuando para melhorar a imagem de
Micheletti no exterior.
É a UCD quem tem organizado e financiado as "marchas
pela paz", como são conhecidas
as grandes concentrações de
apoio a Micheletti em que os
simpatizantes são convocados
a se vestir de branco.
Um dos principais líderes da
UCD é o empresário Juan Ferrera. Em entrevista por telefone, ele se negou a comentar a
natureza da assessoria de Ratcliff, mas afirmou que o grande
desafio agora é conseguir apoio
internacional para dar legitimidade às eleições presidenciais de 29 de novembro.
Assim como Micheletti, Ferrera defende que o retorno de
Zelaya a Honduras é inviável.
"Nas atuais circunstâncias, seu
retorno não ajudaria o país."
Segundo o coordenador da
UCD, um bom relacionamento
com os EUA é fundamental para a viabilidade de Honduras.
"Os EUA são o sócio comercial mais importante de Honduras, mantêm uma importante cooperação. Além disso, há 1
milhão de hondurenhos morando lá. É uma realidade que
nenhum outro país oferece,
não vejo como Hugo Chávez
pode substituir isso", afirmou.
De acordo com reitora da
Universidade Nacional Autônoma de Honduras (Unah), Julieta Castellanos, a grande dificuldade de Micheletti nos EUA
é a de que classe política hondurenha tem historicamente
fortes ligações com os governos
republicanos.
"Embora não de forma oficial, o governo Micheletti tem
conseguido, por meio dos aliados republicanos, criar o temor
nos EUA da aliança Zelaya-Chávez", afirma Castellanos.
"O que a direita aqui quer é
maior ingerência americana
em Honduras contra Chávez."
Negociações
Em entrevista coletiva ontem de manhã, Micheletti disse
que as negociações na Costa Rica poderiam ser retomadas
neste sábado.
Na Nicarágua, Zelaya disse
que, se não houver acordo para
que seja reconduzido ao cargo
nesta semana, ele considerará
as negociações encerradas.
"Estamos dando um ultimato
ao regime golpista, de que no
próximo encontro nesta semana em San José, Costa Rica, eles
devem obedecer às resoluções
[da OEA e da ONU, que exigem
que ele seja reempossado]. Do
contrário, essa mediação será
considerada fracassada."
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