São Paulo, terça-feira, 14 de julho de 2009

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entrevista

"Apoio externo é fator- chave para Micheletti"

DO ENVIADO A TEGUCIGALPA

Reitora da Universidade Nacional Autônoma de Honduras (Unah), a mais importante do país, a socióloga Julieta Castellanos vê na economia a principal dificuldade do governo interino de Roberto Micheletti e aposta num acordo político para sair da crise desencadeada pelo golpe que depôs o presidente Manuel Zelaya, no último dia 28. Leia, a seguir, a entrevista concedida à Folha ontem, em seu escritório em Tegucigalpa:0 (FM)

 

FOLHA - Já se passaram mais de duas semanas desde a deposição de Zelaya. Há condições para a volta dele, como exige a comunidade internacional, ou o governo Micheletti já está definitivamente instalado?
JULIETA CASTELLANOS
- O governo continua se esforçando para se instalar. Nem tanto no nível interno, onde conseguiu controlar toda a estrutura do Estado e tem o apoio dos grupos religiosos de todas as denominações, do setor empresarial, dos meios de comunicação. O problema é fora de Honduras. O dano maior é o econômico. Trata-se do elemento mais favorável a Zelaya.
Caso não haja recursos internacionais, haverá uma redução dos empréstimos com o sistema bancário internacional. O país tem reservas para três meses e meio para importações. Esse é o maior desafio de Micheletti.

FOLHA - A aposta de Micheletti é que as sanções durem até a posse do novo presidente eleito, em janeiro. Seu governo tem condicões de organizar eleições reconhecidas no exterior?
CASTELLANOS
- Falta pouco tempo para as eleições, mas é muito tempo para a economia do país. Por outro lado, em apenas seis meses, Zelaya teria muitas dificuldades em reinstalar toda a base que tinha e dar continuidade ao seu governo. O país está conhecendo também alguns excessos de sua política econômica. Por exemplo, ele tinha controle do Orçamento, porque deixou de enviá-lo ao Congresso. E isso contribuiu para que o governo tivesse um gasto sem controle.

FOLHA - É possível um acordo entre Zelaya e Micheletti?
CASTELLANOS
- Acho que de aqui até novembro haverá uma saída pela via legal. A ilegalidade atual não é sustentável por muito tempo. Agora, acredito que o Partido Liberal [ao qual pertencem Zelaya e Micheletti], que tem ganhado a maioria das eleições e era favorito para a próxima eleição presidencial, dificilmente será recomposto.

FOLHA - Qual foi o peso para a atual crise da aproximação de Zelaya com Hugo Chávez?
CASTELLANOS
- Zelaya começou a se vincular à Alba [Alternativa Bolivariana para as Américas, bloco político liderado por Chávez] quando se deu conta de que não poderia contar com o Congresso para algumas mudanças que queria fazer, como regular o preço dos combustíveis.
Ele viu no bloco uma forma de obter recursos para políticas sociais, principalmente para o setor camponês. E há também o Petrocaribe, para obter combustíveis mais baratos. Os empresários tiveram uma atitude ambígua, estavam de acordo com o Petrocaribe, porque era uma maneira de diminuir os custos. Mas não queriam a Alba.
A minha impressão é que Zelaya superdimensionou as possibilidades que tinha para impulsionar a reforma constitucional. Ele foi se distanciando da realidade nacional e foi construindo a sua proposta à margem da legislação do país. A sua aproximação com a Alba foi alimentando suspeitas de que sua proposta estava vinculada a uma reeleição.


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