|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
entrevista
"Apoio externo é fator- chave para Micheletti"
DO ENVIADO A TEGUCIGALPA
Reitora da Universidade
Nacional Autônoma de Honduras (Unah), a mais importante do país, a socióloga Julieta Castellanos vê na economia a principal dificuldade do governo interino de
Roberto Micheletti e aposta
num acordo político para
sair da crise desencadeada
pelo golpe que depôs o presidente Manuel Zelaya, no último dia 28.
Leia, a seguir, a entrevista
concedida à Folha ontem,
em seu escritório em Tegucigalpa:0
(FM)
FOLHA - Já se passaram mais de
duas semanas desde a deposição
de Zelaya. Há condições para a
volta dele, como exige a comunidade internacional, ou o governo
Micheletti já está definitivamente instalado?
JULIETA CASTELLANOS - O governo continua se esforçando
para se instalar. Nem tanto
no nível interno, onde conseguiu controlar toda a estrutura do Estado e tem o apoio
dos grupos religiosos de todas as denominações, do setor empresarial, dos meios
de comunicação. O problema
é fora de Honduras. O dano
maior é o econômico. Trata-se do elemento mais favorável a Zelaya.
Caso não haja recursos internacionais, haverá uma redução dos empréstimos com
o sistema bancário internacional. O país tem reservas
para três meses e meio para
importações. Esse é o maior
desafio de Micheletti.
FOLHA - A aposta de Micheletti
é que as sanções durem até a posse do novo presidente eleito, em
janeiro. Seu governo tem condicões de organizar eleições reconhecidas no exterior?
CASTELLANOS - Falta pouco
tempo para as eleições, mas é
muito tempo para a economia do país. Por outro lado,
em apenas seis meses, Zelaya
teria muitas dificuldades em
reinstalar toda a base que tinha e dar continuidade ao
seu governo. O país está conhecendo também alguns
excessos de sua política econômica. Por exemplo, ele tinha controle do Orçamento,
porque deixou de enviá-lo ao
Congresso. E isso contribuiu
para que o governo tivesse
um gasto sem controle.
FOLHA - É possível um acordo
entre Zelaya e Micheletti?
CASTELLANOS - Acho que de
aqui até novembro haverá
uma saída pela via legal. A
ilegalidade atual não é sustentável por muito tempo.
Agora, acredito que o Partido
Liberal [ao qual pertencem
Zelaya e Micheletti], que tem
ganhado a maioria das eleições e era favorito para a próxima eleição presidencial, dificilmente será recomposto.
FOLHA - Qual foi o peso para a
atual crise da aproximação de Zelaya com Hugo Chávez?
CASTELLANOS - Zelaya começou a se vincular à Alba [Alternativa Bolivariana para as
Américas, bloco político liderado por Chávez] quando se
deu conta de que não poderia
contar com o Congresso para
algumas mudanças que queria fazer, como regular o preço dos combustíveis.
Ele viu no bloco uma forma de obter recursos para
políticas sociais, principalmente para o setor camponês. E há também o Petrocaribe, para obter combustíveis mais baratos. Os empresários tiveram uma atitude
ambígua, estavam de acordo
com o Petrocaribe, porque
era uma maneira de diminuir os custos. Mas não queriam a Alba.
A minha impressão é que
Zelaya superdimensionou as
possibilidades que tinha para impulsionar a reforma
constitucional. Ele foi se distanciando da realidade nacional e foi construindo a sua
proposta à margem da legislação do país. A sua aproximação com a Alba foi alimentando suspeitas de que
sua proposta estava vinculada a uma reeleição.
Texto Anterior: Grupo do Rio estuda convocar reunião sobre crise Próximo Texto: Frase Índice
|