São Paulo, terça-feira, 14 de agosto de 2001

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ÁSIA

Koizumi adianta ida a santuário de Yasukuni, que homenageia criminosos de guerra, inicialmente prevista para amanhã

Premiê japonês visita templo controverso

Associated Press
Koizumi (esq.) e sacerdote xintoísta andam em direção a altar no templo de Yasukuni, em Tóquio


DA REUTERS

O primeiro-ministro do Japão, Junichiro Koizumi, visitou ontem um santuário japonês que também homenageia criminosos de guerra, numa atitude que irritou diversos países vizinhos.
Após dias de expectativa, Koizumi decidiu adiantar a visita inicialmente prevista para amanhã, data simbólica na Ásia por ser o aniversário da rendição do Japão na Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Koizumi, acompanhado por assistentes, entrou no santuário e se curvou uma vez no interior do local, enquanto milhares de pessoas eram contidas pela polícia no portão. "Não devemos nunca nos envolver novamente em uma guerra", afirmou Koizumi, após a visita. "Eu fiz essa visita para renovar meu empenho em prol da paz."
Nenhum premiê japonês fez uma visita oficial a Yasukuni desde Yasushiro Nakasone, em 1985.
A decisão de Koizumi provocou acirradas críticas internas e externas. Na Coréia do Sul, 20 pessoas cortaram um dedo em protesto.
O local visitado por Koizumi também honra 14 criminosos de guerra.
Ao ser anunciada, a visita dividiu a opinião pública, irritou um partido de orientação budista da coalizão governamental e causou indignação na China e nas duas Coréias, vítimas da ação japonesa durante a guerra.
Questionado sobre o motivo de ter abandonado a idéia de fazer a visita no dia 15, Koizumi declarou que queria "manter relações amistosas" com a China, a Coréia do Sul e os demais países asiáticos. "Tornou-se evidente que uma visita no dia 15 seria interpretada de maneira oposta, e não é isso o que desejo."
Em declaração divulgada pouco antes da visita, Koizumi tentou atenuar o ressentimento que boa parte da Ásia ainda sente em relação ao Japão por causa de ações colonialistas e atrocidades cometidas por suas tropas.
"Houve um período em que conduzimos atos colonialistas e agressivos com base em uma política nacional equivocada e, por isso, causamos dor e sofrimento imensuráveis. Desejo, à luz da história lastimável do nosso país, encarar com seriedade essa experiência, e expressar meu mais profundo remorso e arrependimento diante de todas as vítimas da guerra", disse.
Mas a tentativa de acalmar os ânimos gerou críticas em seu país.
"O santuário de Yasukuni homenageia todos os que morreram nas guerras e justifica suas ações. Visitas como esta não deveriam ser permitidas", disse Kazuo Shii, líder do Partido Comunista.
Já os defensores da visita, entre os quais um grupo politicamente influente de veteranos de guerra e políticos que acham que a guerra deveria ser deixada de lado depois de meio século, o criticaram por não cumprir sua promessa de fazer a visita no dia 15.
"Isso dá a impressão de que ele cedeu à pressão. Acredito que a confiança no primeiro-ministro tenha sido abalada", disse um parlamentar conservador.
Onze sul-coreanos contrários à visita se postaram diante da residência do primeiro-ministro na manhã de segunda-feira para protestar e, mais tarde, foram ao santuário para continuar sua manifestação. O dia 15 de agosto é também a data da libertação da Coréia do Sul da ocupação japonesa, que durou 35 anos.
Quinze estudantes de esquerda gritaram lemas contra a visita. Outros presentes elogiaram o premiê e gritaram "banzai" (viva!) ao vê-lo deixar o templo.
Koizumi se recusou a definir a visita como oficial, alegando simplesmente que fora ao templo como "o primeiro-ministro Junichiro Koizumi" e que pagara com seu próprio dinheiro as flores enviadas ao santuário em seu nome.
Mas a visita alimenta a sensação de que o nacionalismo no país está ressurgindo ou talvez nunca tenha deixado de existir, apesar dos traumas da guerra.



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