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Bush perde Rove, seu principal assessor
Partida do estrategista conhecido como seu "cérebro", no fim do mês, deixa presidente americano ainda mais isolado
Com republicano desde o Texas, assessor deixa Casa Branca sob polêmicas e desfalca o já esvaziado círculo presidencial próximo
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Karl Rove, principal assessor
e estrategista político de George W. Bush, anunciou ontem
que deixará a Casa Branca no
fim deste mês. Ele é mais um na
cada vez mais longa lista de assessores do presidente norte-americano que largaram os cargos a menos de um ano e meio
do final do mandato. Rove, no
entanto, é um dos mais importantes e um dos últimos que
continuavam mesmo após a
derrota do partido governista
nas eleições legislativas do ano
passado e da derrocada da
Guerra do Iraque.
O anúncio oficial foi feito na
manhã de ontem, nos jardins
da sede do governo, em Washington. "Nós somos amigos há
muito tempo e vamos continuar a ser amigos", disse Bush,
ao lado de um emocionado Rove, a quem conhece há 34 anos
e com quem trabalhou desde
que começou na política e, mais
diretamente, nas campanhas
para o governo do Texas e para
os mandatos na Presidência.
"Sou agradecido por ter sido
testemunha da história", disse
a seguir Rove, com a voz trêmula. O anúncio oficial foi precedido por uma entrevista concedida ao "Wall Street Journal" no
sábado e publicada ontem, em
que o assessor diz que pensava
em sair havia um ano.
Só tomaria a decisão, no entanto, depois de ter sido avisado pelo chefe-de-gabinete, Joshua Bolten, que os altos funcionários que continuassem no
governo após o próximo feriado do Dia do Trabalho, na primeira segunda-feira de setembro, teriam de ficar até a posse
do sucessor de Bush, em janeiro de 2009. Foi quando pensou
"que estava na hora", disse o assessor ao diário econômico.
Eminência parda
Ele deixa seu cargo em meio
a polêmicas. Apesar de não ter
sido acusado oficialmente, teve
seu envolvimento sugerido no
episódio de vazamento da identidade de uma agente da CIA
cujo marido diplomata se manifestou contra a Guerra do
Iraque. Pelo episódio, foi condenado à prisão o ex-chefe-de-gabinete do vice-presidente
Dick Cheney, Scott Libby, que
teve sua sentença posteriormente comutada por Bush.
Rove é acusado ainda de ter
atuado no episódio que levou à
demissão de promotores públicos por razões políticas, de usar
a máquina do governo em favor
de campanhas de republicanos
e de usar propositadamente
seu e-mail do Partido Republicano, em vez do oficial, da Casa
Branca, para tratar de assuntos
do governo, evitando assim o
registro oficial que a lei exige.
Ele nega as acusações.
Dele discorda o Congresso
norte-americano, desde janeiro dominado pela oposição democrata, que pretende continuar tentando levar o assessor
presidencial a depor -o que ele
tem se recusado a fazer. Faz isso amparado pelo uso de Bush
de um instrumento chamado
"privilégio executivo", segundo
o qual o presidente pode proteger a confidencialidade de assuntos delicados tratados com
ele por membros do gabinete,
sigam eles no cargo ou não.
Chamado de "garoto-prodígio" e "o arquiteto" pelo presidente, Rove é tido como peça-chave para as duas vitórias consecutivas de Bush à Presidência, assim como para o domínio
do Congresso e a maioria dos
governos estaduais que o partido da situação teve nos primeiros seis anos da era Bush.
Ele foi responsável pela estratégia que apoiou o Partido
Republicano na extrema direita do espectro político -a direita religiosa, os falcões intervencionistas e os ultraliberais,
opostos a quaisquer intervenções do governo na economia.
Foi uma opção que polarizou o
eleitorado e funcionou por algum tempo, anabolizada pelo
11 de Setembro, mas se esgotou
no ano passado -quando os republicanos viram tanto a Câmara dos Representantes
quanto o Senado e a liderança
de Estados importantes irem
para as mãos dos democratas.
Na entrevista coletiva em
que Bush admitiu a derrota, em
novembro de 2006, o presidente, ao lado de Rove, brincaria:
"Obviamente eu estava trabalhando mais duro [pelas eleições] do que ele [Rove]". Na
mesma ocasião, o republicano
anunciaria a saída do secretário
da Defesa, Donald Rumsfeld, a
primeira vítima da derrota.
Na seqüência, deixariam a
Casa Branca o conselheiro Dan
Bartlett, Rob Portman, diretor
do Orçamento, Sara Taylor, diretora política, J.D. Crouch e
Meghan O'Sullivan, conselheiros de Segurança Nacional. O
êxodo reforça a leitura de que
Bush marca tabela para terminar o mandato e está isolado.
Ontem, Rove recusou a avaliação de que sua saída marcava
o fim político de Bush. "Absolutamente não", disse ele. "E como poderia ser? Ele é o presidente dos EUA."
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