São Paulo, terça-feira, 14 de agosto de 2007

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Bush perde Rove, seu principal assessor

Partida do estrategista conhecido como seu "cérebro", no fim do mês, deixa presidente americano ainda mais isolado

Com republicano desde o Texas, assessor deixa Casa Branca sob polêmicas e desfalca o já esvaziado círculo presidencial próximo

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Karl Rove, principal assessor e estrategista político de George W. Bush, anunciou ontem que deixará a Casa Branca no fim deste mês. Ele é mais um na cada vez mais longa lista de assessores do presidente norte-americano que largaram os cargos a menos de um ano e meio do final do mandato. Rove, no entanto, é um dos mais importantes e um dos últimos que continuavam mesmo após a derrota do partido governista nas eleições legislativas do ano passado e da derrocada da Guerra do Iraque.
O anúncio oficial foi feito na manhã de ontem, nos jardins da sede do governo, em Washington. "Nós somos amigos há muito tempo e vamos continuar a ser amigos", disse Bush, ao lado de um emocionado Rove, a quem conhece há 34 anos e com quem trabalhou desde que começou na política e, mais diretamente, nas campanhas para o governo do Texas e para os mandatos na Presidência.
"Sou agradecido por ter sido testemunha da história", disse a seguir Rove, com a voz trêmula. O anúncio oficial foi precedido por uma entrevista concedida ao "Wall Street Journal" no sábado e publicada ontem, em que o assessor diz que pensava em sair havia um ano.
Só tomaria a decisão, no entanto, depois de ter sido avisado pelo chefe-de-gabinete, Joshua Bolten, que os altos funcionários que continuassem no governo após o próximo feriado do Dia do Trabalho, na primeira segunda-feira de setembro, teriam de ficar até a posse do sucessor de Bush, em janeiro de 2009. Foi quando pensou "que estava na hora", disse o assessor ao diário econômico.

Eminência parda
Ele deixa seu cargo em meio a polêmicas. Apesar de não ter sido acusado oficialmente, teve seu envolvimento sugerido no episódio de vazamento da identidade de uma agente da CIA cujo marido diplomata se manifestou contra a Guerra do Iraque. Pelo episódio, foi condenado à prisão o ex-chefe-de-gabinete do vice-presidente Dick Cheney, Scott Libby, que teve sua sentença posteriormente comutada por Bush.
Rove é acusado ainda de ter atuado no episódio que levou à demissão de promotores públicos por razões políticas, de usar a máquina do governo em favor de campanhas de republicanos e de usar propositadamente seu e-mail do Partido Republicano, em vez do oficial, da Casa Branca, para tratar de assuntos do governo, evitando assim o registro oficial que a lei exige. Ele nega as acusações.
Dele discorda o Congresso norte-americano, desde janeiro dominado pela oposição democrata, que pretende continuar tentando levar o assessor presidencial a depor -o que ele tem se recusado a fazer. Faz isso amparado pelo uso de Bush de um instrumento chamado "privilégio executivo", segundo o qual o presidente pode proteger a confidencialidade de assuntos delicados tratados com ele por membros do gabinete, sigam eles no cargo ou não.
Chamado de "garoto-prodígio" e "o arquiteto" pelo presidente, Rove é tido como peça-chave para as duas vitórias consecutivas de Bush à Presidência, assim como para o domínio do Congresso e a maioria dos governos estaduais que o partido da situação teve nos primeiros seis anos da era Bush.
Ele foi responsável pela estratégia que apoiou o Partido Republicano na extrema direita do espectro político -a direita religiosa, os falcões intervencionistas e os ultraliberais, opostos a quaisquer intervenções do governo na economia. Foi uma opção que polarizou o eleitorado e funcionou por algum tempo, anabolizada pelo 11 de Setembro, mas se esgotou no ano passado -quando os republicanos viram tanto a Câmara dos Representantes quanto o Senado e a liderança de Estados importantes irem para as mãos dos democratas.
Na entrevista coletiva em que Bush admitiu a derrota, em novembro de 2006, o presidente, ao lado de Rove, brincaria: "Obviamente eu estava trabalhando mais duro [pelas eleições] do que ele [Rove]". Na mesma ocasião, o republicano anunciaria a saída do secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, a primeira vítima da derrota.
Na seqüência, deixariam a Casa Branca o conselheiro Dan Bartlett, Rob Portman, diretor do Orçamento, Sara Taylor, diretora política, J.D. Crouch e Meghan O'Sullivan, conselheiros de Segurança Nacional. O êxodo reforça a leitura de que Bush marca tabela para terminar o mandato e está isolado.
Ontem, Rove recusou a avaliação de que sua saída marcava o fim político de Bush. "Absolutamente não", disse ele. "E como poderia ser? Ele é o presidente dos EUA."


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