São Paulo, terça-feira, 14 de agosto de 2007

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Americanos querem diálogo com Cuba

Pesquisa do instituto Zogby revela que 58% defendem negociações com Raúl Castro e 56% pedem o fim do embargo

Só 10% dos americanos conhecem Lula e 20%, Calderón; Venezuela é país mais influente da região, segundo entrevistados

RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma pesquisa do instituto Zogby e do centro de estudos Diálogo Interamericano, de Washington, revela que a maioria dos americanos (58%) defende a melhoria das relações com Cuba e negociações com o dirigente interino Raúl Castro. Além disso, 56% defendem o fim do embargo econômico e das restrições para os americanos que queiram visitar a ilha.
O Zogby entrevistou 7.362 americanos no final de julho, quando se completava um ano sem Fidel Castro no comando do regime comunista. Ontem foi o 81º aniversário do ditador, comemorado com eventos discretos em Havana.
"Até deputados que votam a favor do embargo admitem privadamente que ele não funcionou. A maioria dos americanos não entende por que o embargo ainda existe, já que não temos problema em fazer negócios com China e Vietnã, entre outros regimes fechados", diz Michael Shifter, vice-presidente do Diálogo Interamericano.
Outra conclusão da pesquisa é que os americanos têm muito mais conhecimento sobre os adversários do que sobre os aliados na América Latina -88% dos americanos conhecem Fidel e 72%, Hugo Chávez.
Apenas 10% dos entrevistados se dizem familiarizados com o nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva -69% admitem que não têm a menor idéia de quem ele é. Até o vizinho mexicano, Felipe Calderón, é quase anônimo para 46%. Apenas 20% dizem estar familiarizados com Calderón, que assumiu em dezembro.

Venezuela influente
Para 35%, a Venezuela é o país mais influente da América Latina, acima de Brasil (19%) e México (17%).
Mas os americanos ouvidos demonstram confusão para discernir quem é aliado ou não. Depois de Cuba e Venezuela, a pesquisa do Zogby revela que o principal inimigo dos EUA na região é a Colômbia, ironicamente governada pelo presidente mais fiel ao governo Bush na região, Álvaro Uribe.
Também há confusão nas respostas à pergunta "quem é o maior aliado dos EUA na região?". Depois de México (36%), Brasil (32%) e Costa Rica (24%), aparece a Argentina, com 21%, em quarto lugar - ainda que a relação de Néstor Kirchner com Bush seja mínima, após os protestos organizados em Mar del Plata, na Cúpula das Américas, em 2006.
A Argentina é mais "amiga" dos EUA, segundo os entrevistados, que Chile e Colômbia, com apenas 11% cada um.
"Quem se opõe aos EUA recebe muito mais atenção da imprensa. Por mais que Uribe combata o narcotráfico, ele é virtualmente desconhecido aqui", disse à Folha o diretor do Zogby, Fritz Wenzel.
Em sintonia com o inferno astral do governo Bush nos EUA, 60% dos americanos criticam a política do governo republicano em relação à América Latina; 42% dos entrevistados acham que a ajuda americana à região deveria se concentrar no combate à pobreza e ao desemprego, enquanto 35% preferem o combate ao narcotráfico - a opção de Bush também em segundo lugar.
"Os latino-americanos poderiam fazer um trabalho muito melhor para promover seus interesses nos EUA, mas o triste é que os americanos estão cada vez mais insulares e desinteressados do mundo, mesmo após o 11 de Setembro. Só estão mais ansiosos", diz Shifter.
"O nível de ignorância sobre os líderes latino-americanos é chocante, e não indica que as relações hemisféricas possam melhorar", lamenta.


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