São Paulo, terça-feira, 14 de agosto de 2007

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análise

Ilha passa por transição silenciosa

NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

O "El País", de Madri, fala de uma "transição invisível" em Cuba. O diretor de "Temas", publicação do establishment comunista com incursões críticas, chamou atenção para o fato de que o uso da palavra transição em Cuba tem efeitos negativos. Os cubanos a encaram como expressão da política americana e dos que tentam produzir mudanças a partir de bases no exterior. Mas Rafael Hernandéz admite que a sociedade de seu país mudou "e é claro que o socialismo de Cuba deve também mudar".
"Temas", que é trimestral, abriu grande espaço em seu último número para um debate, descrito como simpósio, sobre "transição socialista". De imediato, é possível constatar que o aparato de poder em Havana começou a se mexer. Estaria em discussão a busca de transformações "dentro do socialismo" e não troca de sistema. Uma das intervenções de peso, e grande significado, foi a de Carlos Lage Cordomiu, presidente da Federação Estudantil Universitária e filho do vice-presidente com o mesmo nome.
Ele disse que as novas gerações estão comprometidas com a revolução. Não faltou um "mas", no entanto, com forte dose de pragmatismo. Ele disse que "nós ainda não sabemos onde a revolução está indo". E completou - "Chamamos isso de socialismo, embora o socialismo, na descrição clássica dos marxistas, nunca tenha existido". Para que a revolução continue, segundo Carlos Lage filho, "é preciso que sejam satisfeitas as necessidades básicas e diárias da população".

Batalha das idéias
Tem pouco a ver com a "revolução cultural" lançada por Fidel Castro em novembro de 2005. Ou a chamada "batalha das idéias", que faria de Cuba uma "sociedade do conhecimento, da cultura e não do consumo". Fidel recomendou inclusive "ampla" volta atrás nas permissões para negócios privados, adotadas como meio de enfrentar dificuldades criadas pelo esgotamento dos subsídios soviéticos.
A referência-chave dos debates que parecem tomar conta de setores de maior influência em Cuba é o discurso de Raúl Castro de 26 de julho. Não há como negar "ineficiências absurdas", especialmente na produção agrícola, e a necessidade de abrir a economia a investimentos. Negócios são negócios. Foi como se expressou o vice-ministro do Comércio Exterior cubano, Eduardo Scandell, em reunião dedicada a Cuba pela Câmara de Indústria e Comércio da Baviera. Chamou atenção a compra de 183 carros BMW para as embaixadas de Cuba, que procura impor-se como um parceiro confiável.
A "transição invisível" já teria indícios na transformação, com Raúl Castro, de um poder unipessoal num poder mais compartilhado -o que ocorreria em nome de uma "continuidade" e não de uma "transição".


O jornalista NEWTON CARLOS é analista de questões internacionais


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