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análise
Ilha passa por transição silenciosa
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
O "El País", de Madri, fala de uma "transição invisível" em Cuba. O diretor
de "Temas", publicação do
establishment comunista
com incursões críticas,
chamou atenção para o fato de que o uso da palavra
transição em Cuba tem
efeitos negativos. Os cubanos a encaram como expressão da política americana e dos que tentam produzir mudanças a partir de
bases no exterior. Mas Rafael Hernandéz admite
que a sociedade de seu país
mudou "e é claro que o socialismo de Cuba deve
também mudar".
"Temas", que é trimestral, abriu grande espaço
em seu último número para um debate, descrito como simpósio, sobre "transição socialista". De imediato, é possível constatar
que o aparato de poder em
Havana começou a se mexer. Estaria em discussão a
busca de transformações
"dentro do socialismo" e
não troca de sistema. Uma
das intervenções de peso,
e grande significado, foi a
de Carlos Lage Cordomiu,
presidente da Federação
Estudantil Universitária e
filho do vice-presidente
com o mesmo nome.
Ele disse que as novas
gerações estão comprometidas com a revolução.
Não faltou um "mas", no
entanto, com forte dose de
pragmatismo. Ele disse
que "nós ainda não sabemos onde a revolução está
indo". E completou -
"Chamamos isso de socialismo, embora o socialismo, na descrição clássica
dos marxistas, nunca tenha existido". Para que a
revolução continue, segundo Carlos Lage filho, "é
preciso que sejam satisfeitas as necessidades básicas
e diárias da população".
Batalha das idéias
Tem pouco a ver com a
"revolução cultural" lançada por Fidel Castro em
novembro de 2005. Ou a
chamada "batalha das
idéias", que faria de Cuba
uma "sociedade do conhecimento, da cultura e não
do consumo". Fidel recomendou inclusive "ampla"
volta atrás nas permissões
para negócios privados,
adotadas como meio de
enfrentar dificuldades
criadas pelo esgotamento
dos subsídios soviéticos.
A referência-chave dos
debates que parecem tomar conta de setores de
maior influência em Cuba
é o discurso de Raúl Castro
de 26 de julho. Não há como negar "ineficiências
absurdas", especialmente
na produção agrícola, e a
necessidade de abrir a economia a investimentos.
Negócios são negócios.
Foi como se expressou o
vice-ministro do Comércio Exterior cubano,
Eduardo Scandell, em reunião dedicada a Cuba pela
Câmara de Indústria e Comércio da Baviera. Chamou atenção a compra de
183 carros BMW para as
embaixadas de Cuba, que
procura impor-se como
um parceiro confiável.
A "transição invisível" já
teria indícios na transformação, com Raúl Castro,
de um poder unipessoal
num poder mais compartilhado -o que ocorreria
em nome de uma "continuidade" e não de uma
"transição".
O jornalista NEWTON CARLOS é analista de questões internacionais
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