São Paulo, terça-feira, 14 de agosto de 2007

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Campanha no Equador mostra retorno da oposição

Opositores se reagruparam e dificultarão meta de Correa de obter 80 cadeiras na Assembléia Constituinte, a ser eleita em setembro

Robert Puglla/Efe
Partidárias de Correa no 1º dia da campanha à Constituinte, ontem


FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO

Com 3.229 candidatos inscritos e com a oposição reagrupada e mais forte do que esperava o governo Rafael Correa, começou ontem no Equador a campanha para a escolha dos 130 nomes que escreverão a próxima Constituição do país.
A eleição da Assembléia Constituinte, principal bandeira de campanha de Correa, será em 30 de setembro. Pela primeira vez no Equador, a campanha terá financiamento público: US$ 30 milhões distribuídos entre candidatos nacionais e provinciais, que dividirão tempos iguais na TV.
Também pela primeira vez, os equatorianos que vivem no exterior -são mais de 1 milhão, equivalente a quase 10% da população do país- poderão eleger representantes: serão seis cadeiras para o grupo. Outras 24 são nacionais e 120 distribuídas pelas Províncias.
As regras para a disputa foram aprovadas em abril, no mesmo referendo onde mais de 80% dos equatorianos apoiaram a iniciativa do governo de propor uma nova Carta -a que está em vigor é de 1998.
Mas traduzir o apoio da população à Constituição em maioria na Assembléia é um desafio difícil para Rafael Correa, avalia Markus Schultze-Kraft, diretor para a América Latina do centro de análise International Crisis Group.
"A meta de Correa, como ele já disse, é eleger de 80 a 100 dos 130 integrantes da Assembléia. Mas, diferentemente do que o governo esperava, os partidos tradicionais se recuperaram da debilidade dos primeiros meses de governo. Há nomes fortes como [o candidato derrotado à Presidência] Álvaro Noboa e também o grupo do ex-presidente Lucio Gutiérrez", explica Schultze-Kraft.
Para ter direito a disputar a nível nacional, cada movimento ou partido tinha de reunir 90 mil assinaturas para respaldar uma candidatura.
O Crisis Group divulgou na semana passada o informe "Equador: superada a instabilidade?", em que afirma que só "engenharia constitucional" não resolverá os problemas equatorianos e que o governo Correa terá de buscar pontos de consenso com a oposição se quiser levar adiante seu projeto esquerdista.
O relatório descreve como uma estudada "terapia de choque" a estratégia do governo de partir para a confrontação com "partidos tradicionais" e o Congresso, capitalizando a desconfiança da população com a classe política depois de ao menos dez anos de instabilidade.
Mas argumenta: um dos limites da estratégia, que pode também causar problemas ao esforço eleitoral da Constituinte, é a heterogeneidade e a pouca institucionalização do movimento político do presidente equatoriano, o Aliança País.

Poder concentrado
"O Aliança País não é comparável ao movimento de Evo Morales na Bolívia, por exemplo. É uma união heterogênea de forças sociais e políticas que ainda precisa afiançar seus vínculos com setores da sociedade e com os movimentos sociais", explica Schultze-Kraft.
Segundo o diretor, o poder da "força política" está demasiadamente concentrado nas mãos do grupo de Rafael Correa e faltam estruturas internas que garantam a participação e a representação de movimentos de base.
Um dos sinais da heterogeneidade é a lista de candidatos apresentada pelo governo. Entre os 24 candidatos nacionais, há, por exemplo, Roxana Queirolo, modelo e ex-apresentadora de TV, e a cineasta Tania Hermida. A lista é encabeçada pelo ex-ministro da Energia Alberto Acosta.
Ao analisar o governo equatoriano, o documento do Crisis Group diz que Correa precisa enfrentar a corrupção e implementar um plano de desenvolvimento a longo prazo para se proteger da queda das divisas com o petróleo (apesar do preços internacionais em alta, a produção local está em queda).


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