São Paulo, Sábado, 14 de Agosto de 1999
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VENEZUELA
Presidente afirma que mídia faz campanha contra o país e que ridiculariza a Assembléia Constituinte
Chávez reclama de "campanha externa"

das agências internacionais

Após desestruturar a oposição e conseguir a aprovação pela Assembléia Constituinte de projeto que permite interferir nos três Poderes, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, voltou seu discurso contra a imprensa estrangeira.
Em pronunciamento na noite de anteontem, em que falou sobre os 200 primeiros dias de seu governo, o presidente classificou de "mentiras horrorosas" as críticas a seu governo e ao processo constituinte veiculadas por meios de comunicação de outros países.
Anteontem, a assembléia aprovou a reorganização dos poderes públicos, medida que, na prática, permite interferir no Executivo, Legislativo e Judiciário.
A decisão contraria sentença da Corte Suprema, segundo a qual a assembléia foi eleita para redigir uma nova Carta e deve respeitar a Constituição em vigor. A decretação de "emergência nos poderes" havia sido sugerida por Chávez à assembléia. A coalizão que o apóia tem 123 das 131 cadeiras.
No plano interno, os críticos do presidente afirmam que ele quer centralizar poderes e transformar o país em um Estado militarizado.
No discurso, Chávez afirmou haver detectado uma "espécie de tentativa de desfiguração" a respeito do que está acontecendo na Venezuela. "Alguns meios de comunicação na América Latina, na América do Norte, na Europa, estão publicando coisas horrorosas, cheias de mentiras", afirmou.
Chávez já havia criticado a imprensa em sua "segunda posse", na quarta-feira. Ele havia colocado seu cargo à disposição da constituinte e foi confirmado como presidente pela assembléia.
Segundo ele, a "revolução venezuelana" corre o risco de perecer por estrangulação, pois seus inimigos tramam em foros internacionais contra a tomada de poder absoluto pela constituinte.
"Há uma campanha selvagem contra o país", pois no exterior se transmitiria a idéia de que a assembléia é formada por "uma horda de primitivos", disse Chávez, afirmando que o comparam aos ditadores Hitler e Mussolini.
Entre os inimigos da revolução, Chávez destacou o escritor peruano Mario Vargas Llosa. No domingo, em artigo publicado no jornal espanhol "El País" com o título "O suicídio de uma nação", o escritor disse que a Venezuela corre perigo nas mãos de "salvadores da pátria".
Chávez não citou o nome de Vargas Llosa, mas o identificou como o "escritor latino-americano que contribui com a mentira".
O jornal "O Correio do Presidente", editado por Chávez, publicou artigo intitulado "As vacas sagradas não descansam: Vargas Llosa injuria a Venezuela", no qual membros do governo e da Assembléia Constituinte ligam o romancista a uma campanha para desacreditar o país.
No discurso, Chávez destacou a meta inflacionária para 99, entre 20% e 22% (98 teve índice de 37,6%). Também anunciou a abertura de discussões com os setores da economia nacional e internacional para definir um novo modelo produtivo, mas reafirmou sua luta contra o "neoliberalismo selvagem".
O discurso de Chávez vem afastando investidores. O país está em crise, com desemprego de 15,6% e retração de 9,8% do PIB.


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