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Colômbia apóia encontro no Brasil
OTÁVIO DIAS
DA REDAÇÃO
A Colômbia vê com bons olhos
a oferta do Brasil de sediar uma
reunião entre a ONU e as Farc,
mas quer que todos os esforços
para reativar o processo de paz sejam conduzidos pelo secretário-geral da ONU, Kofi Annan.
É o que diz a ministra das Relações Exteriores da Colômbia, Carolina Barco. "O Brasil está interessado em nos ajudar e reconhecemos esse interesse construtivo e
válido", diz. "A intenção é que todos os esforços de paz estejam
concentrados em uma ação da
ONU." Leia entrevista feita por telefone, de Bogotá, anteontem.
Folha - Sob que condições a Colômbia aceitaria uma reunião entre a ONU e as Farc no Brasil?
Carolina Barco - Em 7 de agosto
de 2002, quando o presidente Alvaro Uribe tomou posse, ele pediu
ao secretário-geral das Nações
Unidas, Kofi Annan, que, como
representante da comunidade internacional, buscasse estabelecer
um diálogo com as Farc, em coordenação com o governo colombiano. Recentemente, as Farc enviaram uma declaração dizendo-se dispostas a se reunir com a
ONU. O governo brasileiro generosamente ofereceu seu território
para essa possível reunião, que teria o apoio da Colômbia.
Folha - De que maneira o Brasil
poderia ajudar na reativação do
processo de paz colombiano?
Barco - Desejamos que esse possível diálogo comece com uma
aproximação entre a ONU e as
Farc. O secretário-geral tem autoridade moral e experiência, e isso
nos assegura que começaremos
um processo de paz com toda a
seriedade e a transparência.
Folha - O Brasil pode ajudar na
negociação -ou mesmo na logística - de uma eventual troca de
guerrilheiros detidos por pessoas
sequestradas pelas Farc?
Barco - O Brasil está interessado
em nos ajudar e reconhecemos
esse interesse construtivo e válido. Mas não quero me adiantar
aos fatos. A intenção é que todos
os esforços de paz estejam concentrados em uma ação da ONU.
Folha - Quais foram os erros cometidos na última negociação, durante o governo Pastrana?
Barco - Não gostaria de qualificar como erros um processo que
foi realizado com a maior boa-fé
por parte do governo. Mas temos
de aprender com as experiências.
Na ocasião, foi criada uma zona
desmilitarizada pensando-se que,
dessa forma, seria possível avançar nas negociações. Mas o processo não trouxe frutos, e acabou
abandonado por Pastrana.
O atual governo tem muito claro que uma zona desmilitarizada
não é conveniente porque o Estado deve estar presente em todo o
país. Também aprendemos que é
preciso haver pontos de partida
muito claros, que gostaríamos
que o secretário-geral da ONU
nos ajudasse a estabelecer.
Folha - Quais são eles?
Barco - O fundamental é o fim
das hostilidades. O governo e os
colombianos não podem se envolver num processo de paz enquanto civis são atacados, pessoas
são sequestradas.
Folha - O governo Uribe pediu ao
governo brasileiro e a outros da região que declarassem as Farc uma
organização terrorista?
Barco - Sim, as Farc são uma organização terrorista. Não há outra
qualificação para quem pratica
atos vis como o de quarta-feira,
quando mandaram a um povoado pobre um cavalo carregado de
explosivos, que matou oito pessoas. Isso é terrorismo.
Folha - Mas a Colômbia pediu aos
países, inclusive ao Brasil, que qualificassem as Farc como terroristas?
Barco - Solicitamos, em diferentes âmbitos, que as Farc fossem
declaradas terroristas. Assim fizeram o Canadá, a União Européia e
os EUA. Em outros âmbitos, onde
não existe esse tipo de classificação, o que se fez foi denunciar atos
terroristas cometidos por eles.
Folha - O fato de o governo Lula
não ter feito uma declaração explícita desagradou a Uribe?
Barco - Entendemos que o presidente Lula não está de acordo
com atos terroristas. Temos nos
esforçado para tornar mais efetivos os instrumentos comuns para
enfrentar o terrorismo e a droga.
Estamos de mãos dadas.
Folha - O presidente Lula disse
que, em sua conversa com o presidente Uribe, tentará convencê-lo a
unir a Colômbia a um Mercosul expandido em vez de assinar um
acordo bilateral com os EUA. Que
resposta ele receberá?
Barco -Para a Colômbia, o comércio é importante tanto com o
Brasil e o Mercosul quanto com
os EUA. Não se trata de eleger
uma opção, pois os processos caminham de forma paralela.
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