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Cartaz antiimigrante expõe Suíça xenófoba
Pôster integra campanha de partido com maior bancada no país, onde 25% dos trabalhadores são estrangeiros
PAUL VALLELY
DO "INDEPENDENT"
À primeira vista, o pôster parece um desenho infantil inocente em que três ovelhas brancas aparecem ao lado de uma
ovelha negra. Mas logo você
percebe que os três animais
brancos estão em pé sobre uma
bandeira suíça, e um deles empurra discretamente a ovelha
negra para fora com um coice.
Com o lema "por mais segurança", o cartaz não é trabalho
de uma organização marginal
de neonazistas: foi concebido e
divulgado pelo Partido do Povo
Suíço (Schweizerische Volkspartei, ou SVP), dono do maior
número de cadeiras no Legislativo e membro da coalizão governista. Para a ONU, que chegou a pedir explicações a Berna,
trata-se de um símbolo sinistro
da ascensão de novas formas de
racismo e xenofobia no coração
de uma das mais antigas democracias do mundo.
Dono de um histórico que inclui uma campanha (fracassada) por um referendo para
proibir a construção de minaretes em mesquitas e outra
(bem-sucedida) por leis de imigração mais severas, usando a
imagem de mãos negras afundando em uma vasilha de passaportes suíços, o SVP agora está em dupla campanha antes
das eleições gerais de outubro.
O partido busca as 100 mil assinaturas necessárias para promover um referendo sobre o
retorno ao código penal de uma
cláusula que permite aos juízes
deportar estrangeiros responsáveis por crimes graves quando eles tiverem terminado de
servir suas sentenças de prisão.
Anunciou também que proporá uma medida que permitiria que toda a família de um criminoso menor de idade fosse
deportada tão logo ele fosse
sentenciado por um delito grave -a primeira lei do tipo na
Europa desde a prática nazista
do Sippenhaft (responsabilidade familiar), sob a qual os parentes dos criminosos eram
considerados responsáveis por
seus crimes e estavam sujeitos
às mesmas punições que eles.
Reflexo continental
A proposta servirá de referência não só para a Suíça -onde um quarto dos trabalhadores é composto de imigrantes-
como para o resto da Europa,
que tem visto crescer a divisão
entre o multiculturalismo liberal e o isolacionismo conservador no discurso político.
O que está em jogo não é simplesmente a falta de apreço pelos estrangeiros ou uma desconfiança quanto ao islamismo, mas algo muito mais importante. Trata-se de um confronto que chega ao cerne da
crise de identidade na Europa e
nos EUA e envolve a forma pela
qual vivemos em um mundo
que mudou radicalmente desde
o fim da Guerra Fria, com o
crescimento da economia globalizada, o aumento nos fluxos
migratórios, a ascensão internacional do islamismo e o terrorismo do 11 de Setembro.
A Suíça é um exemplo forte
por conta da complexa rede de
influências que encontra expressão no SVP. O país tem as
mais duras leis de naturalização da Europa. Para se candidatar à cidadania, é preciso viver
legalmente no país por pelo
menos 12 anos, pagar impostos
e não ter ficha criminal. O pedido mesmo assim pode ser recusado pela comuna em que o
candidato vive, que se reúne
para perguntar se ele fala alemão, tem emprego e está integrado ao povo suíço.
O governo federal quer tirar a
decisão das comunidades locais. Mas suas propostas foram
derrotadas em dois referendos.
A questão vai além da política. E o drama em curso, expresso em linguagem tão politicamente incorreta no cartaz, repercutirá não somente na Europa mas no mundo em geral.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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