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Cuba corta 1 em 8 servidores do Estado
Comunicado prevê demissão de 500 mil funcionários até março de 2011 e indica que esse número deve dobrar
Trabalhadores que forem demitidos serão absorvidos pelo setor privado, segundo plano do governo Raúl Castro
Efe
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Funcionária de lavanderia estatal, ontem, em Havana
FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS
O governo cubano anunciou ontem que vai demitir
até março de 2011 ao menos
500 mil trabalhadores estatais, ou cerca de 1 em cada 8
integrantes de sua máquina
pública.
Mais meio milhão estaria
"excedente" no país. Ou seja,
provavelmente será demitido numa segunda etapa.
O corte é uma das mais importantes e delicadas medidas econômicas do país em
pelo menos 20 anos.
A demissão em massa foi
comunicada pela Central de
Trabalhadores de Cuba
(CTG), ligada ao governo, em
informe no jornal estatal
"Granma".
A previsão é que os cortes
ocorram de maneira escalonada na ilha, e comecem no
mês que vem.
A dura nota da CTG, em
sintonia com os discursos do
dirigente máximo da ilha,
Raúl Castro, prega contra o
"paternalismo" do Estado e
fala que Cuba "não pode nem
deve" manter um funcionalismo inflado, que gera perdas e "maus hábitos".
O texto prevê a redução
"de vultuosos gastos sociais", a eliminação de "subsídios excessivos" e o "estudo como fonte de emprego e
aposentaria antecipada".
Segundo a CTG, os demitidos serão inseridos no setor
"não estatal" da economia
-e apenas as vagas "imprescindíveis" serão repostas no
Estado, em áreas como agricultura e educação.
Para ampliar as vagas no
setor privado, o governo incentivará o "arrendamento,
o usufruto [de terras], cooperativas e trabalho por conta
própria".
Raúl havia anunciado em
agosto que o Estado facilitaria licenças para pequenos
negócios, hoje restritas -de
barbearias a pequenas oficinas mecânicas.
Disse ainda que esses negócios, que passarão a pagar
impostos, poderiam, pela
primeira vez, contratar funcionários.
A central anunciou que a
medida faz parte do plano de
"atualização do modelo econômico" cubano -os dirigentes comunistas rejeitam
falar em "transição"- apenas dias depois de o ex-ditador Fidel Castro haver dito,
em entrevista à revista "The
Atlantic", que o antigo modelo cubano "não funciona
nem sequer" para Cuba.
RISCO POLÍTICO
A demissão em massa é
considerada uma medida necessária há anos para aumentar os baixos índices de
produtividade da ilha.
Mas é arriscada politicamente, uma vez que as vagas
desaparecerão quando as liberalizações no pequeno sistema privado apenas engatinham. De todo modo, o Estado paga apenas US$ 17 mensais em média e a opção de
trabalho por conta própria é
considerada atrativa.
Cuba tem pouco mais de 5
milhões de ocupados, 4,2 milhões no Estado.
A reestruturação trabalhista é a mais significativa
reforma de Raúl, que prometeu fazer modificações "estruturais e de conceito"
quando assumiu o poder em
fevereiro de 2008.
Naquele ano, o governo
fez a outra reforma maior,
com a distribuição de terras
ociosas do Estado a cem mil
pequenos produtores.
"É uma medida necessária, mas preocupante. Em
abril, serão 500 mil pessoas
sem trabalho sem que o governo tenha feito as reformas
para absorvê-los. O que foi
feito até agora é muito tímido. O modelo não precisa de
atualização, mas de mudança radical", diz o economista
dissidente Oscar Chepe.
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