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"Le Monde" acusa Sarkozy de espionagem
Jornal diz que serviço secreto violou lei de imprensa ao expor suposta fonte de reportagens; presidente nega
Chefe de Estado francês está sendo acusado de receber doações ilegais da L'Oreal, gigante do setor dos cosméticos
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
O jornal francês "Le Monde" acusou ontem o presidente Nicolas Sarkozy de ter
violado a lei sobre liberdade
de imprensa no país ao ordenar que o serviço secreto descobrisse a identidade de uma
fonte cujas revelações reforçaram suspeitas de corrupção envolvendo o governo.
A Presidência nega as acusações, mas o chefe da polícia, Frédéric Péchenard, confirmou ter pedido à agência
de espionagem DCRI que investigasse, por supostas razões de segurança nacional,
"o vazamento de informações por parte de um alto
funcionário do governo".
Em sua edição de ontem, o
"Monde", de centro-esquerda, diz que o telefone de um
assessor penal do Ministério
da Justiça identificado como
David Sénat foi ilegal e secretamente inspecionado por
agentes da DCRI.
A perícia no aparelho teria
revelado que Sénat conversou várias vezes com o repórter do "Monde" encarregado
de cobrir o escândalo, atualmente em trâmite judiciário.
O direitista Sarkozy é acusado de receber doações ilegais da bilionária família Bettencourt, dona da multinacional de cosméticos e produtos de higiene L'Oreal.
O governo francês suspeita que Sénat tenha fornecido
ao "Monde" o conteúdo das
investigações que apontam
para o envolvimento direto
do ministro do Trabalho, Eric
Woerth, no escândalo.
Após a publicação da reportagem, em julho, Sénat
foi transferido de Paris para
um posto administrativo em
Caiena, na Guiana Francesa.
O "Monde", que não confirma a identidade da fonte
de sua reportagem, disse ontem em editorial publicado
em sua primeira página que
Sarkozy feriu o direito de sigilo das fontes.
Ironicamente, a lei que
protege a identidade das fontes da imprensa foi reforçada
em janeiro sob chancela do
próprio Sarkozy.
O jornal planeja iniciar um
processo jurídico pela violação e obteve o apoio imediato
de outros veículos de comunicação, de partidos de oposição e de sindicatos.
Adversários do presidente
francês falam em "Sarkogate", uma alusão ao escândalo
do Watergate, que levou à renúncia o presidente americano Richard Nixon em 1974
por escutas telefônicas ilegais de adversários.
As denúncias contra Sarkozy aumentam a pressão sobre o governo, que sofre crescente rejeição popular por diversas iniciativas controversas, como a expulsão de ciganos, o endurecimento das
políticas de segurança e a liberalização da Previdência.
PRECEDENTE
Violações já haviam acontecido em governos anteriores. O socialista François Mitterrand (1981-1995) comandava uma ampla rede de escutas telefônicas ilegais.
E Jacques Chirac (1995-2007) é acusado de ter permitido que a Inteligência forjasse dossiês contra Sarkozy,
seu feroz rival embora integrasse o mesmo partido.
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