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CRÍTICA O LEGADO DO EX-PREMIÊ
Em biografia, Blair procura reaver apoio dos britânicos
Político admite que custo da Guerra do Iraque foi maior do que ele previa
VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES
Ao virar a última página de
"A Journey" (uma jornada),
livro de memórias do ex-primeiro-ministro britânico
Tony Blair, o leitor terá uma
certeza: nenhuma vida, por
mais relevante que tenha sido, precisa de mais de 700
páginas para ser contada.
Blair não economiza palavras e usa 718 páginas para
explicar o que fez desde que
entrou na política, nos anos
80, até deixar o cargo de primeiro-ministro, há três anos.
Muitas vezes há detalhes
demais: por que precisamos
saber, por exemplo, que ele
gosta de ficar muito tempo
no banheiro?
Humor inglês à parte, a impressão é que Blair quer usar
o livro para reconquistar o
coração dos britânicos, que o
adoravam e que agora o querem ver pelas costas.
Mas ele se recusa a fazer o
que tanto pedem seus detratores e muitos aliados: reconhecer que foi um erro iniciar
a guerra no Iraque.
Ao contrário, diz continuar convencido de que o
Reino Unido e os EUA fizeram o certo ao tirar Saddam
Hussein do poder, apesar de
as supostas armas de destruição em massa (alegação para
a invasão daquele país) nunca terem sido encontradas.
"O confronto militar foi a
escolha certa, mas os custos,
implicações e consequências
foram muito maiores que
qualquer um de nós, e certamente eu, poderia ter imaginado", escreve.
O ex-premiê trata também
de sua relação com o ex-presidente americano George W.
Bush. No Reino Unido, Blair
era chamado de "o poodle de
Bush" por seu total alinhamento com as políticas do
governo americano.
Mais uma vez ele se defende, sem se desculpar. Afirma
que não havia outra coisa a
fazer depois dos atentados de
11 de setembro de 2001.
Mas apesar de vários elogios a Bush (diz que ele é esperto, integro e corajoso), fica claro que o preferido de
Blair é Bill Clinton, que presidiu os EUA de 1993 a 2001.
Diz que com ele tinha conversas intelectuais que seriam impossíveis com Bush.
POLÍTICA BRITÂNICA
Boa parte do livro é dedicada à política interna. Um
de seus companheiros na
construção do "Novo Trabalhismo" foi Gordon Brown.
No início, Blair e Brown
achavam que o segundo deveria ser líder do partido e virar primeiro-ministro. Mas,
com o tempo, Blair construiu
sua própria candidatura, o
que enraiveceu o amigo.
Ele ficou como primeiro-ministro de 1997 a 2007.
Brown fez parte do governo,
mas não se contentava com o
papel de coadjuvante.
Preparou o que Blair chama de golpe para tirá-lo do
cargo. Usou para isso outros
políticos e até jornais ligados
ao Partido Conservador.
"A Journey" revela um político vaidoso, que gostou de
estar entre os líderes do mundo. Mas Blair tenta se mostrar
uma pessoa comum.
Revela que teve medo, que
sofreu com a inexperiência e
que, principalmente no final,
usou o álcool como apoio.
"Não era remotamente bêbado... [Tomava] uísque ou
gim e tônica antes do jantar,
alguns copos ou meia garrafa
de vinho durante a refeição.
Tinha um limite. Mas sabia
que isso havia se transformado num apoio."
"A Journey", Editora Hutchinson, 718 páginas, 25 libras (R$ 65).
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