São Paulo, terça-feira, 14 de setembro de 2010

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CRÍTICA O LEGADO DO EX-PREMIÊ

Em biografia, Blair procura reaver apoio dos britânicos

Político admite que custo da Guerra do Iraque foi maior do que ele previa

VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES

Ao virar a última página de "A Journey" (uma jornada), livro de memórias do ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, o leitor terá uma certeza: nenhuma vida, por mais relevante que tenha sido, precisa de mais de 700 páginas para ser contada.
Blair não economiza palavras e usa 718 páginas para explicar o que fez desde que entrou na política, nos anos 80, até deixar o cargo de primeiro-ministro, há três anos.
Muitas vezes há detalhes demais: por que precisamos saber, por exemplo, que ele gosta de ficar muito tempo no banheiro?
Humor inglês à parte, a impressão é que Blair quer usar o livro para reconquistar o coração dos britânicos, que o adoravam e que agora o querem ver pelas costas.
Mas ele se recusa a fazer o que tanto pedem seus detratores e muitos aliados: reconhecer que foi um erro iniciar a guerra no Iraque.
Ao contrário, diz continuar convencido de que o Reino Unido e os EUA fizeram o certo ao tirar Saddam Hussein do poder, apesar de as supostas armas de destruição em massa (alegação para a invasão daquele país) nunca terem sido encontradas.
"O confronto militar foi a escolha certa, mas os custos, implicações e consequências foram muito maiores que qualquer um de nós, e certamente eu, poderia ter imaginado", escreve.
O ex-premiê trata também de sua relação com o ex-presidente americano George W. Bush. No Reino Unido, Blair era chamado de "o poodle de Bush" por seu total alinhamento com as políticas do governo americano.
Mais uma vez ele se defende, sem se desculpar. Afirma que não havia outra coisa a fazer depois dos atentados de 11 de setembro de 2001.
Mas apesar de vários elogios a Bush (diz que ele é esperto, integro e corajoso), fica claro que o preferido de Blair é Bill Clinton, que presidiu os EUA de 1993 a 2001.
Diz que com ele tinha conversas intelectuais que seriam impossíveis com Bush.

POLÍTICA BRITÂNICA
Boa parte do livro é dedicada à política interna. Um de seus companheiros na construção do "Novo Trabalhismo" foi Gordon Brown.
No início, Blair e Brown achavam que o segundo deveria ser líder do partido e virar primeiro-ministro. Mas, com o tempo, Blair construiu sua própria candidatura, o que enraiveceu o amigo.
Ele ficou como primeiro-ministro de 1997 a 2007. Brown fez parte do governo, mas não se contentava com o papel de coadjuvante.
Preparou o que Blair chama de golpe para tirá-lo do cargo. Usou para isso outros políticos e até jornais ligados ao Partido Conservador.
"A Journey" revela um político vaidoso, que gostou de estar entre os líderes do mundo. Mas Blair tenta se mostrar uma pessoa comum.
Revela que teve medo, que sofreu com a inexperiência e que, principalmente no final, usou o álcool como apoio.
"Não era remotamente bêbado... [Tomava] uísque ou gim e tônica antes do jantar, alguns copos ou meia garrafa de vinho durante a refeição. Tinha um limite. Mas sabia que isso havia se transformado num apoio."
"A Journey", Editora Hutchinson, 718 páginas, 25 libras (R$ 65).


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