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Cúpula renova liderança do PC chinês
17º Congresso do partido, que começa amanhã, deve apontar sucessor de Hu em 2012 ante cenário econômico frenético
Bonança orçamentária permite a governo ampliar medidas para população mais pobre, mas problemas básicos ainda persistem
CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A PEQUIM
O Partido Comunista que
transformou a China em potência global emergente inicia
amanhã seu mais importante
encontro dos últimos cinco
anos, que terá como principais
tarefas a mudança na composição dos órgãos de comando do
país e a escolha da pessoa que
poderá suceder o presidente
Hu Jintao em 2012.
O 17º Congresso do Partido
Comunista reunirá 2.217 delegados em um momento marcado pelo aumento das tensões
sociais, a crescente desigualdade entre ricos e pobres e uma
situação econômica que ameaça fugir do controle oficial.
A expectativa dos analistas é
que Hu saia fortalecido do encontro, com apoio para políticas que visam amenizar as contradições geradas pela rápida
expansão dos últimos 29 anos.
E o presidente terá aprovação de seus pares para incluir
na constituição do partido suas
teorias de "desenvolvimento
científico" e "harmonia social".
Os conceitos orientam sua
gestão desde o início, em 2002,
e se traduzem na maior preocupação com questões sociais e
ambientais e na busca de um
desenvolvimento mais equilibrado do ponto de vista regional. A política contrasta com a
do período anterior, de Jiang
Zemin, quando o crescimento
econômico era buscado a qualquer preço e as regiões da costa
leste prevaleciam.
Pujança
É inegável uma mudança de
rumo, mas ela não decorreu
apenas de diferenças ideológicas. O fato é que o governo chinês passou a ter folga orçamentária, especialmente a partir de
2005, depois de um período no
qual sua receita chegou a representar menos de 10% do PIB.
No ano passado, o percentual
já estava em 19%, o que ampliou a capacidade do governo
de tomar iniciativas pela população mais pobre -como o fim
de impostos e de mensalidades
escolares cobrados das famílias
de camponeses, que ainda são
52% da população chinesa.
Mas as medidas estão longe
de reduzir problemas básicos
do país, como a elevação dos
custos dos serviços de saúde e a
ausência de um sistema previdenciário organizado.
Dali Yang, diretor do East
Asian Institute de Cingapura,
acredita que a questão da desigualdade estará no centro das
discussões do congresso.
O crescimento de dois dígitos
das últimas três décadas e a extraordinária valorização da
Bolsa a partir de 2006 levaram
ao surgimento de 106 bilionários na China, o maior número
do mundo depois dos EUA.
Ao mesmo tempo, as ruas das
grandes cidades têm um número crescente de migrantes rurais, um universo de ao menos
150 milhões de pessoas que não
encontram emprego no campo
e vagam pelo país em busca de
ocupações temporárias. Em
Pequim, mendigos compõem a
paisagem com edifícios de milhões de dólares, e a inflação é
visível no preço dos alimentos
-um pacote de pão que custava
5 yuans há dois anos hoje sai
por 6,8 yuans, alta de 36%.
Com recursos orçamentários, não será difícil para Hu obter respaldo para sua busca de
uma "sociedade harmônica". A
dúvida é se terá apoio -e disposição- para enfrentar o desequilíbrio monetário provocado
pelos dólares que inundam o
país e são comprados pelo banco central para evitar a supervalorização do yuan.
Só neste ano, a China deverá
registrar um superávit comercial de US$ 300 bilhões, ou 10%
do PIB. As intervenções levaram as reservas externas ao recorde de US$ 1,4 trilhão, adquirido com a emissão de yuans,
que geram inflação e aceleram
o crescimento para 12% no ano.
"Meu temor é que o congresso não tenha um claro vencedor, o que vai dificultar mudanças na política monetária, que
está completamente fora de
controle", afirma o economista
Michael Pettis, professor da
Universidade de Pequim.
Para ele, a única saída é uma
valorização de pelo menos 15%
do yuan ante o dólar -decisão
impopular, que reduziria por
ora o ritmo de expansão.
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