São Paulo, domingo, 14 de outubro de 2007

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Cúpula renova liderança do PC chinês

17º Congresso do partido, que começa amanhã, deve apontar sucessor de Hu em 2012 ante cenário econômico frenético

Bonança orçamentária permite a governo ampliar medidas para população mais pobre, mas problemas básicos ainda persistem

CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A PEQUIM

O Partido Comunista que transformou a China em potência global emergente inicia amanhã seu mais importante encontro dos últimos cinco anos, que terá como principais tarefas a mudança na composição dos órgãos de comando do país e a escolha da pessoa que poderá suceder o presidente Hu Jintao em 2012.
O 17º Congresso do Partido Comunista reunirá 2.217 delegados em um momento marcado pelo aumento das tensões sociais, a crescente desigualdade entre ricos e pobres e uma situação econômica que ameaça fugir do controle oficial.
A expectativa dos analistas é que Hu saia fortalecido do encontro, com apoio para políticas que visam amenizar as contradições geradas pela rápida expansão dos últimos 29 anos.
E o presidente terá aprovação de seus pares para incluir na constituição do partido suas teorias de "desenvolvimento científico" e "harmonia social".
Os conceitos orientam sua gestão desde o início, em 2002, e se traduzem na maior preocupação com questões sociais e ambientais e na busca de um desenvolvimento mais equilibrado do ponto de vista regional. A política contrasta com a do período anterior, de Jiang Zemin, quando o crescimento econômico era buscado a qualquer preço e as regiões da costa leste prevaleciam.

Pujança
É inegável uma mudança de rumo, mas ela não decorreu apenas de diferenças ideológicas. O fato é que o governo chinês passou a ter folga orçamentária, especialmente a partir de 2005, depois de um período no qual sua receita chegou a representar menos de 10% do PIB.
No ano passado, o percentual já estava em 19%, o que ampliou a capacidade do governo de tomar iniciativas pela população mais pobre -como o fim de impostos e de mensalidades escolares cobrados das famílias de camponeses, que ainda são 52% da população chinesa.
Mas as medidas estão longe de reduzir problemas básicos do país, como a elevação dos custos dos serviços de saúde e a ausência de um sistema previdenciário organizado.
Dali Yang, diretor do East Asian Institute de Cingapura, acredita que a questão da desigualdade estará no centro das discussões do congresso.
O crescimento de dois dígitos das últimas três décadas e a extraordinária valorização da Bolsa a partir de 2006 levaram ao surgimento de 106 bilionários na China, o maior número do mundo depois dos EUA.
Ao mesmo tempo, as ruas das grandes cidades têm um número crescente de migrantes rurais, um universo de ao menos 150 milhões de pessoas que não encontram emprego no campo e vagam pelo país em busca de ocupações temporárias. Em Pequim, mendigos compõem a paisagem com edifícios de milhões de dólares, e a inflação é visível no preço dos alimentos -um pacote de pão que custava 5 yuans há dois anos hoje sai por 6,8 yuans, alta de 36%.
Com recursos orçamentários, não será difícil para Hu obter respaldo para sua busca de uma "sociedade harmônica". A dúvida é se terá apoio -e disposição- para enfrentar o desequilíbrio monetário provocado pelos dólares que inundam o país e são comprados pelo banco central para evitar a supervalorização do yuan.
Só neste ano, a China deverá registrar um superávit comercial de US$ 300 bilhões, ou 10% do PIB. As intervenções levaram as reservas externas ao recorde de US$ 1,4 trilhão, adquirido com a emissão de yuans, que geram inflação e aceleram o crescimento para 12% no ano.
"Meu temor é que o congresso não tenha um claro vencedor, o que vai dificultar mudanças na política monetária, que está completamente fora de controle", afirma o economista Michael Pettis, professor da Universidade de Pequim.
Para ele, a única saída é uma valorização de pelo menos 15% do yuan ante o dólar -decisão impopular, que reduziria por ora o ritmo de expansão.


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