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Morales mobiliza base contra oposição
Presidente lança marcha que pressionará Congresso a abrir caminho para Carta; em SP, opositor critica
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente da Bolívia, Evo
Morales, inaugurou ontem em
Caracollo, a 200 km de La Paz,
uma marcha de sindicalistas,
camponeses e ativistas indígenas para pressionar a oposição
no Congresso a aprovar os dois
referendos que faltam para
promulgar a nova Constituição.
"Esta marcha é pela refundação da Bolívia", discursou o
presidente, que previu que a
mobilização, ontem com cerca
de 5.000 pessoas, agrupará um
milhão de simpatizantes.
A passeata ocorre quando o
governo tenta um difícil acordo
com os opositores no Congresso para passar as consultas sobre a Carta, aprovada por constituintes governistas em 2007.
Um referendo fixará o tamanho
máximo de fazendas (se 5.000
ou 10.000 hectares); o outro,
dirá sim ou não ao texto todo.
Morales não tem os votos necessários para a aprovação em
sessão conjunta de Câmara e
Senado, daí a estratégia de
pressão. Os manifestantes prometeram não cercar o Congresso, o que já fizeram em votações anteriores. A marcha deve
chegar a La Paz na segunda.
Marinkovic em São Paulo
Enquanto Morales começava
a marcha a La Paz, um dos seus
mais duros oponentes, o empresário Branko Marinkovic,
presidente do poderoso Comitê Cívico Pró-Santa Cruz, fazia
de São Paulo a primeira parada
de uma viagem para divulgar a
visão dos opositores sobre o
conflito e falar de abusos do governo aos países vizinhos.
O comitê, que reúne a elite
econômica e política da agrogasífera Santa Cruz, e seus congêneres pelo país lideraram protestos anti-Morales que sacudiram a Bolívia até setembro.
Eles rejeitam a Carta e exigem
autonomia administrativa para
quatro departamentos do país.
"O mundo deve ver o que está
acontecendo. Não podemos ter
uma democracia que dependa
de um cerco ao Congresso. A lei
tem de passar em consenso,
não sob pressão social", disse
Marinkovic, que visitará ainda
Argentina e Paraguai.
O empresário afirmou não
ter procurado o governo ou a
oposição no Brasil, mas agradeceu os esforços de Brasília para
promover o diálogo, apesar de
ele não ter funcionado.
Repetiu que o texto da Constituição é ilegal, porque não foi
aprovado por dois terços dos
constituintes. Disse que, se os
referendos da Carta forem
aprovados, o comitê "determinará que ações tomar". "O processo constituinte fracassou."
Para ele, a implementação da
Constituição será inviável pela
falta de consenso e pela proposição de regras diferenciadas
para indígenas e não-indígenas.
Um dos grandes proprietários de terra do país, Marinkovic será afetado se o governo
aprovar a Carta. Ele estima que
outras 4.600 propriedades
também serão atingidas e critica o modelo de reforma agrária
proposto pelo governo: "É um
modelo de 50 anos atrás. Só repartirá a pobreza. Propomos
mudar a tributação da terra,
que hoje é ridícula".
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