São Paulo, terça-feira, 14 de outubro de 2008

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Morales mobiliza base contra oposição

Presidente lança marcha que pressionará Congresso a abrir caminho para Carta; em SP, opositor critica

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente da Bolívia, Evo Morales, inaugurou ontem em Caracollo, a 200 km de La Paz, uma marcha de sindicalistas, camponeses e ativistas indígenas para pressionar a oposição no Congresso a aprovar os dois referendos que faltam para promulgar a nova Constituição.
"Esta marcha é pela refundação da Bolívia", discursou o presidente, que previu que a mobilização, ontem com cerca de 5.000 pessoas, agrupará um milhão de simpatizantes.
A passeata ocorre quando o governo tenta um difícil acordo com os opositores no Congresso para passar as consultas sobre a Carta, aprovada por constituintes governistas em 2007. Um referendo fixará o tamanho máximo de fazendas (se 5.000 ou 10.000 hectares); o outro, dirá sim ou não ao texto todo.
Morales não tem os votos necessários para a aprovação em sessão conjunta de Câmara e Senado, daí a estratégia de pressão. Os manifestantes prometeram não cercar o Congresso, o que já fizeram em votações anteriores. A marcha deve chegar a La Paz na segunda.

Marinkovic em São Paulo
Enquanto Morales começava a marcha a La Paz, um dos seus mais duros oponentes, o empresário Branko Marinkovic, presidente do poderoso Comitê Cívico Pró-Santa Cruz, fazia de São Paulo a primeira parada de uma viagem para divulgar a visão dos opositores sobre o conflito e falar de abusos do governo aos países vizinhos.
O comitê, que reúne a elite econômica e política da agrogasífera Santa Cruz, e seus congêneres pelo país lideraram protestos anti-Morales que sacudiram a Bolívia até setembro. Eles rejeitam a Carta e exigem autonomia administrativa para quatro departamentos do país.
"O mundo deve ver o que está acontecendo. Não podemos ter uma democracia que dependa de um cerco ao Congresso. A lei tem de passar em consenso, não sob pressão social", disse Marinkovic, que visitará ainda Argentina e Paraguai.
O empresário afirmou não ter procurado o governo ou a oposição no Brasil, mas agradeceu os esforços de Brasília para promover o diálogo, apesar de ele não ter funcionado.
Repetiu que o texto da Constituição é ilegal, porque não foi aprovado por dois terços dos constituintes. Disse que, se os referendos da Carta forem aprovados, o comitê "determinará que ações tomar". "O processo constituinte fracassou."
Para ele, a implementação da Constituição será inviável pela falta de consenso e pela proposição de regras diferenciadas para indígenas e não-indígenas.
Um dos grandes proprietários de terra do país, Marinkovic será afetado se o governo aprovar a Carta. Ele estima que outras 4.600 propriedades também serão atingidas e critica o modelo de reforma agrária proposto pelo governo: "É um modelo de 50 anos atrás. Só repartirá a pobreza. Propomos mudar a tributação da terra, que hoje é ridícula".


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