São Paulo, domingo, 14 de novembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

China já sofre com imigração ilegal

Salários melhores e vagas em áreas como indústria e construção levam vietnamitas para cidades na fronteira

Pela 1ª vez na história, governo chinês inclui questionário específico para estrangeiros no seu censo demográfico

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL À PROVÍNCIA
DE GUANGXI (SUDOESTE DA CHINA)

Na cidade chinesa de Dongxing, faz parte da paisagem o vaivém constante de mulheres vietnamitas em chapéus cônicos vendendo de frutas a cigarros falsos.
Junto com os letreiros bilíngues das lojas, são a parte mais visível da crescente onda de imigrantes pobres do Vietnã que cruzam a fronteira para ganhar a vida no vizinho cada vez mais rico e mais necessitado de mão de obra.
Separada do Vietnã pelo pequeno rio Beilu, Dongxing, um entreposto comercial de cerca de 100 mil habitantes, é considerada a principal porta de entrada de imigrantes atraídos por melhores salários em fábricas, na construção civil, em canaviais, na prostituição e até por casamentos arranjados.
A maioria dos trabalhadores não qualificados vai a Guangdong (Cantão), a industrializada província vizinha responsável por um terço das exportações chinesas, onde há deficit de cerca de 2 milhões de trabalhadores.
A falta de mão de obra vem provocando um aumento dos salários (em média, 20% neste ano), fazendo com que várias empresas passem a usar imigrantes ilegais para manter o custo baixo.
Os casos de vietnamitas presos e deportados se multiplicaram neste ano, segundo a imprensa chinesa.
Apenas na fabricante de plástico Xanxing, em Guangdong, a polícia chinesa encontrou e deportou 400 vietnamitas ilegais. Eles representavam 40% da mão de obra da empresa.
Na província de Guangxi, 2.218 imigrantes ilegais foram importados durante o ano passado, mas o próprio governo local admite que é apenas uma pequena fração do total, segundo a agência estatal Xinhua.
Embora haja o risco de deportação e multas, os vietnamitas oferecem várias vantagens: recebem salários menores, evitam o pagamento de encargos trabalhistas e são mais fáceis de controlar, já que vivem encerrados em dormitórios dentro das fábricas e não têm a quem recorrer em casos de abuso.
O principal motivo da falta de mão de obra na China é demográfico. As projeções mostram que o país, mesmo com quase 1,4 bilhão de habitantes, precisará muito importar mão de obra.
Devido às rígidas normas da política do filho único, instituída há 30 anos, a população jovem na China está diminuindo rapidamente.
Em 1982, 33,6% da população tinha até 14 anos. No ano passado, a porcentagem dessa faixa etária foi de 18,5%.
Uma projeção feita pelo banco HSBC aponta que a porcentagem de chineses entre 20 e 45 anos cairá 1,2% ao ano na próxima década, uma projeção ruim para um país que registrou crescimento próximo dos 10% anuais nas últimas décadas.
"É inevitável trazer força de trabalho estrangeira à medida em que o tema do envelhecimento fica mais grave", disse à Folha He Yafu, demógrafo independente que trabalha como consultor do governo chinês.
Ele afirma que países asiáticos como Vietnã e Índia, além de africanos, passarão a enviar cada vez mais trabalhadores para a China nos próximos anos.


Texto Anterior: Na França, SNCF pede desculpas a judeus
Próximo Texto: Casamento com vietnamitas vira prática comum
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.