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China já sofre com imigração ilegal
Salários melhores e vagas em áreas como indústria e construção levam vietnamitas para cidades na fronteira
Pela 1ª vez na história, governo chinês inclui questionário específico para estrangeiros no seu censo demográfico
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL À PROVÍNCIA
DE GUANGXI (SUDOESTE DA CHINA)
Na cidade chinesa de
Dongxing, faz parte da paisagem o vaivém constante de
mulheres vietnamitas em
chapéus cônicos vendendo
de frutas a cigarros falsos.
Junto com os letreiros bilíngues das lojas, são a parte
mais visível da crescente onda de imigrantes pobres do
Vietnã que cruzam a fronteira para ganhar a vida no vizinho cada vez mais rico e mais
necessitado de mão de obra.
Separada do Vietnã pelo
pequeno rio Beilu, Dongxing, um entreposto comercial de cerca de 100 mil habitantes, é considerada a principal porta de entrada de imigrantes atraídos por melhores salários em fábricas, na
construção civil, em canaviais, na prostituição e até
por casamentos arranjados.
A maioria dos trabalhadores não qualificados vai a
Guangdong (Cantão), a industrializada província vizinha responsável por um terço das exportações chinesas,
onde há deficit de cerca de 2
milhões de trabalhadores.
A falta de mão de obra vem
provocando um aumento
dos salários (em média, 20%
neste ano), fazendo com que
várias empresas passem a
usar imigrantes ilegais para
manter o custo baixo.
Os casos de vietnamitas
presos e deportados se multiplicaram neste ano, segundo
a imprensa chinesa.
Apenas na fabricante de
plástico Xanxing, em Guangdong, a polícia chinesa encontrou e deportou 400 vietnamitas ilegais. Eles representavam 40% da mão de
obra da empresa.
Na província de Guangxi,
2.218 imigrantes ilegais foram importados durante o
ano passado, mas o próprio
governo local admite que é
apenas uma pequena fração
do total, segundo a agência
estatal Xinhua.
Embora haja o risco de deportação e multas, os vietnamitas oferecem várias vantagens: recebem salários menores, evitam o pagamento
de encargos trabalhistas e
são mais fáceis de controlar,
já que vivem encerrados em
dormitórios dentro das fábricas e não têm a quem recorrer em casos de abuso.
O principal motivo da falta
de mão de obra na China é
demográfico. As projeções
mostram que o país, mesmo
com quase 1,4 bilhão de habitantes, precisará muito importar mão de obra.
Devido às rígidas normas
da política do filho único,
instituída há 30 anos, a população jovem na China está
diminuindo rapidamente.
Em 1982, 33,6% da população tinha até 14 anos. No ano
passado, a porcentagem dessa faixa etária foi de 18,5%.
Uma projeção feita pelo
banco HSBC aponta que a
porcentagem de chineses entre 20 e 45 anos cairá 1,2% ao
ano na próxima década, uma
projeção ruim para um país
que registrou crescimento
próximo dos 10% anuais nas
últimas décadas.
"É inevitável trazer força
de trabalho estrangeira à medida em que o tema do envelhecimento fica mais grave",
disse à Folha He Yafu, demógrafo independente que trabalha como consultor do governo chinês.
Ele afirma que países asiáticos como Vietnã e Índia,
além de africanos, passarão
a enviar cada vez mais trabalhadores para a China nos
próximos anos.
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