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EUA usaram rivalidade para pressionar país
DO RIO
Os EUA tentaram usar a
rivalidade entre Argentina
e Brasil para pressionar
Geisel a rever o acordo nuclear com a Alemanha
(1975), que previa transferência de tecnologia de
enriquecimento de urânio
e reprocessamento de plutônio (resíduo do combustível das usinas atômicas).
A revelação surgiu no
depoimento de Silveira e
está detalhada em documentos de seu arquivo, entregue ao CPDOC (Centro
de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea da FGV) e aberto para consultas.
Um deles é a cópia das
instruções trazidas pelo
secretário de Estado Cyrus
Vance para um encontro
com Geisel, em novembro
de 1977. Os papéis foram
esquecidos numa cadeira.
Avisado, Azeredo tirou
uma cópia antes de devolvê-los aos americanos. Depois, fez um memorando a
Geisel, notando a "ausência de menção explícita a
um interesse americano
em promover a melhoria
das relações" bilaterais.
Antes de vir ao Brasil,
Vance esteve na Argentina. Lá, teria obtido acordo
de cooperação nuclear pelo qual os argentinos concordariam em desistir de
reprocessar plutônio se o
Brasil fizesse o mesmo.
"O Brasil se sentirá extremamente desconfortável com as implicações do
"communiqué" assinado
entre nós e a Argentina",
diziam suas instruções.
Silveira qualificou os
papéis de "apresentação
descarnada da posição
americana". "A pressão
sofreu um retrocesso enorme por causa do medo de
que a gente pudesse dar
publicidade a isso", disse.
O ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia, na época
porta-voz do Itamaraty,
acredita que o episódio
"não chegou a representar
uma jogada diplomática
sólida". A ditadura brasileira sabia que a Argentina
podia fazer a bomba, mas
avaliava que não correria
esse risco.
A pressão funcionou do
lado da Alemanha, que
não fez transferência de
tecnologia -o Brasil buscara o acordo depois que
os EUA cancelaram a garantia de suprimento de
urânio enriquecido para o
reator que a americana
Westinghouse instalaria
em Angra dos Reis.
Na democratização,
Brasil e Argentina declararam que não buscariam a
bomba e abriram seus projetos a inspeções mútuas.(CA)
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