São Paulo, domingo, 14 de novembro de 2010

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EUA usaram rivalidade para pressionar país

DO RIO

Os EUA tentaram usar a rivalidade entre Argentina e Brasil para pressionar Geisel a rever o acordo nuclear com a Alemanha (1975), que previa transferência de tecnologia de enriquecimento de urânio e reprocessamento de plutônio (resíduo do combustível das usinas atômicas).
A revelação surgiu no depoimento de Silveira e está detalhada em documentos de seu arquivo, entregue ao CPDOC (Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea da FGV) e aberto para consultas.
Um deles é a cópia das instruções trazidas pelo secretário de Estado Cyrus Vance para um encontro com Geisel, em novembro de 1977. Os papéis foram esquecidos numa cadeira.
Avisado, Azeredo tirou uma cópia antes de devolvê-los aos americanos. Depois, fez um memorando a Geisel, notando a "ausência de menção explícita a um interesse americano em promover a melhoria das relações" bilaterais.
Antes de vir ao Brasil, Vance esteve na Argentina. Lá, teria obtido acordo de cooperação nuclear pelo qual os argentinos concordariam em desistir de reprocessar plutônio se o Brasil fizesse o mesmo.
"O Brasil se sentirá extremamente desconfortável com as implicações do "communiqué" assinado entre nós e a Argentina", diziam suas instruções.
Silveira qualificou os papéis de "apresentação descarnada da posição americana". "A pressão sofreu um retrocesso enorme por causa do medo de que a gente pudesse dar publicidade a isso", disse.
O ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia, na época porta-voz do Itamaraty, acredita que o episódio "não chegou a representar uma jogada diplomática sólida". A ditadura brasileira sabia que a Argentina podia fazer a bomba, mas avaliava que não correria esse risco.
A pressão funcionou do lado da Alemanha, que não fez transferência de tecnologia -o Brasil buscara o acordo depois que os EUA cancelaram a garantia de suprimento de urânio enriquecido para o reator que a americana Westinghouse instalaria em Angra dos Reis.
Na democratização, Brasil e Argentina declararam que não buscariam a bomba e abriram seus projetos a inspeções mútuas.(CA)


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