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Paquistão combate terror que alimentou
Grupos extremistas criados com apoio militar paquistanês são hoje ameaça ao país islâmico, pressionado a enfrentá-los
Atentados em Mumbai acirraram pressão externa sobre Islamabad; Exército tenta afastar-se de radicais, infiltrados nas suas bases
FARHAN BOKHARI
JAMES LAMONT
DO "FINANCIAL TIMES"
O lema do Exército paquistanês explica muita coisa. Ele diz:
"Imaan, Taqwa, Jihad fi Sabilillah", ou "Fé, piedade, guerra
santa no caminho de Alá".
Enquanto em muitas partes
do mundo um lema regimental
poderia ficar acumulando pó
numa cantina de oficiais, para o
Exército do Paquistão essas palavras refletem uma dedicação
contemporânea à causa do islã.
Em nome dessa causa, os generais forjaram vínculos estreitos com grupos islâmicos, tanto
políticos quanto militantes. Esses vínculos ajudaram a criar
uma rede de militantes islâmicos no Afeganistão e na Caxemira sob administração indiana, para travar uma guerra por
procuração, defendendo os interesses do Paquistão.
Assim, os militantes islâmicos e sua "jihad" foram agraciados com o status de parceiros
estratégicos por Islamabad.
Mas ataques terroristas desferidos muito além das áreas de
fronteira do Paquistão provocaram forte condenação desses
vínculos após o 11 de Setembro.
Agora, mais uma vez, esses
laços estão sob escrutínio, após
o ataque devastador do mês
passado em Mumbai, que a Índia atribuiu ao Lashkar-e-Taiba, baseado no Paquistão.
"O uso de terrorismo como
instrumento de política de um
Estado já deixou de ser aceitável", disse ao Parlamento o premiê indiano, Manmohan Singh,
em referência clara ao Paquistão. A secretária de Estado dos
EUA, Condoleezza Rice, declarou que o país "precisa agir, já
que seu território foi usado por
esses atores não estatais para
lançar esses ataques".
As Forças Armadas do país se
vêem diante do dilema de combater os mesmos grupos islâmicos que ajudaram a criar. Analistas ocidentais crêem que alguns elementos no Exército
-especialmente no serviço secreto- se mantêm leais aos militantes. Mas o comandante do
Exército, general Ashfaq Parvez Kiyani, está decidido a afastar as Forças Armadas dos militantes islâmicos de linha dura.
Essa transformação é crucial
para o Estado paquistanês. O
Exército, criado como força defensiva contra a Índia, é a instituição mais forte do país, que
governou diretamente por
mais de metade de seus 61 anos
de existência.
A prisão de três líderes militantes, na semana passada, e a
interdição da Jamaat-ud-Dawa, organização de caridade ligada ao Lashkar-e-Taiba, podem marcar uma ruptura.
O governo Bush descreveu as
detenções como "positivas",
mas avisou o Paquistão que deve fazer mais do que apenas tomar medidas isoladas.
Alguns analistas acham que
os ataques em Mumbai e a
ameaça paquistanesa à segurança global proporcionaram
ao presidente Asif Ali Zardari
uma justificativa para reprimir
os grupos extremistas. "A inação deixou de ser uma opção
para o Paquistão", diz Abida
Hussain, líder do governista
Partido do Povo do Paquistão.
Outros são profundamente
céticos. Eles temem que o engajamento seja fraco e que o
Exército não faça mais que
"prisões de porta giratória", libertando os radicais pouco
após a detenção. "Para sustentar esse esforço, é preciso eliminar os grupos, fechar todas as
suas sedes, prender todos os
seus membros mais importantes e impedir o financiamento",
diz Iqbal Haider, advogado de
direitos humanos.
Um diplomata descreveu a
Índia como estando na pior posição possível quando tenta levar os terroristas de Mumbai à
Justiça. O Exército é o único
poder institucional no Paquistão, explicou, e enfraquecê-lo
levará o país, que possui armas
nucleares, um passo mais perto
de tornar-se um Estado falido.
Tradução de CLARA ALLAIN
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