São Paulo, segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

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Chile tem 1ª vitória da direita desde 1958

Com 98% da apuração, Sebastián Piñera tinha 44% no 1º turno do pleito presidencial, selando inédita derrota da Concertação em 20 anos

Ex-presidente Eduardo Frei somava 29,6% dos votos e agora busca unir a esquerda para manter a coalizão governista na Presidência

Fernando Nahuel/Efe
Eleitores votam em Santiago na tarde de ontem em pleito vencido pelo opositor Sebastián Piñera, que disputa segundo turno em 17 de janeiro com Eduardo Frei

THIAGO GUIMARÃES
ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO

O empresário Sebastián Piñera, 60, venceu ontem o primeiro turno da eleição presidencial no Chile, levando a direita no país à sua primeira vitória nesse pleito desde 1958.
Com 98,32% das mesas apuradas, Piñera tinha 44,03% dos votos, ante 29,62% do governista e ex-presidente Eduardo Frei (1994-1999), 67. Ambos dissidentes governistas, o independente Marco Enríquez-Ominami, 36, tinha 20,12%, e o comunista Jorge Arrate, 6,21%
O resultado impõe a primeira derrota presidencial em 20 anos à Concertação, aliança de centro-esquerda que consolidou a democracia chilena pós-ditadura Augusto Pinochet (1973-1990) mediante exitosa combinação de liberalismo econômico e políticas sociais.
A definição ficará para 17 de janeiro, em segundo turno em que Frei buscará unir a esquerda -dividida em três na primeira etapa- contra Piñera, o homem mais rico do Chile.
Mais do que prevista, a nova votação era antecipada até pela presidente Michelle Bachelet, após votar em colégio em Las Condes, a região mais rica de Santiago. "Todos sabemos que vai haver segundo turno."
Em frente ao colégio, um exemplo de como Bachelet não logrou transferir sua aprovação -que beira os 80%- a Frei. Eleitor da socialista em 2005, o engenheiro Ricardo Oliva, 69, votou ontem em Arrate, 68, egresso da Concertação. "É o único voto puro de esquerda."
A falta de renovação da Concertação -exposta na candidatura de um ex-presidente- pesou para dividir a esquerda, com candidaturas dissidentes do comunista Arrate e do independente Ominami. Aliada ao desgaste de 20 anos no poder, desenhou o cenário para a vitória da direita, unida no pleito.
Também explica o resultado o perfil adotado por Piñera, que explorou agenda liberal ao defender ideias como união civil homossexual e distribuição da pílula do dia seguinte.
A tranquilidade das eleições, com baixo registro de incidentes, denota consensos econômicos e sociais alcançados pela sociedade chilena, expressos também na campanha, que não opôs modelos antagônicos.
Mas, para o segundo turno, se projetava ontem cenário de maior confronto, com aposta da Concertação em temas como direitos humanos e a crítica a Piñera pela ligação entre negócios e política. "Não cremos que a força do mercado e do dinheiro deva primar numa sociedade", disse Frei ao votar.
Após o resultado, o ex-presidente fez mea-culpa e convocou eleitores de Arrate e Ominami. "Escutei a exigência de mudança." Piñera também acenou ao eleitorado de Ominami. ""Me identifico com a vitalidade e franqueza de Marco."
Ominami deixou seus eleitores em liberdade de ação e disse que "por agora" estará fora da Presidência. Disse que Frei e Piñera "são mais passado do que futuro", mas centrou críticas no empresário ao dizer que sua eleição seria um retrocesso.
Com Piñera dentro da votação histórica da direita no Chile, e Frei com maior margem para crescer, fica praticamente zerada a disputa que poderá levar a direita ao poder pela primeira vez em 20 anos no Chile.


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