São Paulo, segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

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Votação acontece sob restrições da ditadura

DO ENVIADO A SANTIAGO

Embora o Chile some 20 anos ininterruptos de democracia, marcados ontem pela quinta eleição presidencial desde 1990, o país ainda vota sob as leis da ditadura Augusto Pinochet (1973-1990).
Teatros, cinemas e casas de shows fecham no dia da eleição e até quatro horas após o fim da votação. Eventos esportivos e culturais são vetados. Há lei seca, e o sábado acaba à meia-noite em bares e restaurantes.
Como é proibido manifestar o voto em público, não se veem pessoas com camisas de candidatos ou partidos, algo comum no Brasil. Toda propaganda é vetada desde a antevéspera da eleição, mas nesse caso infrações são visíveis.
No entorno do liceu Cervantes, por exemplo, no tradicional bairro Brasil de Santiago, era possível ver panfletos de candidatos pelo chão. Ali, o favorito Sebastián Piñera chegou para votar com a família às 9h30, passagem que incitou rusgas entre eleitores.
Minoria entre gritos de "Se sente, Piñera presidente", a atriz Marcela Otarala, 27, eleitora de Jorge Arrate, respondia na mesma altura: "Não vai ser eleito nem cagando". Saiu com um braço vermelho por golpes de estojo desferidos por uma agitada senhora que a chamava de "comunista".
Dentro do liceu, o aposentado Rafael Monreal, 72, seguia indiferente ao tumulto de jornalistas em torno de Piñera -disse ter anulado o voto. "Pinochet deixou tudo encaminhado para a Concertação: autonomia do Banco Central, Constituição, Previdência..."
Já Jared Muñoz, 26, assistente de loja de reposição de peças automotivas, justificava seu voto com um argumento corriqueiro entre os eleitores de Piñera: "Ele já é dono de muitas empresas, não necessita de mais dinheiro".
Ainda que simpatizantes do empresário fossem maioria no local, um pequeno grupo puxou um "sem vergonha" durante sua saída. Entre eles, o balconista Luis León, 40, eleitor de Marco Enríquez-Ominami. "Ominami é a nova cara do Chile. Se [Eduardo] Frei for ao segundo turno, voto nele."
A 6 km dali, no estádio Nacional, o maior centro de votação do Chile, com cerca de 55 mil eleitores, dois apoiadores de Eduardo Frei destacavam que "muitos que rodeiam Piñera estavam na ditadura".
Fiscais voluntários da Concertação, rebatiam a acusação de falta de renovação na coalizão governista. "Frei fez pacto com os jovens para renovar a Concertação", disse o advogado Gabriel Seisdedos, 37. (TG)


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