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Votação acontece sob restrições da ditadura
DO ENVIADO A SANTIAGO
Embora o Chile some 20
anos ininterruptos de democracia, marcados ontem pela
quinta eleição presidencial desde 1990, o país ainda vota sob as
leis da ditadura Augusto Pinochet (1973-1990).
Teatros, cinemas e casas de
shows fecham no dia da eleição
e até quatro horas após o fim da
votação. Eventos esportivos e
culturais são vetados. Há lei seca, e o sábado acaba à meia-noite em bares e restaurantes.
Como é proibido manifestar
o voto em público, não se veem
pessoas com camisas de candidatos ou partidos, algo comum
no Brasil. Toda propaganda é
vetada desde a antevéspera da
eleição, mas nesse caso infrações são visíveis.
No entorno do liceu Cervantes, por exemplo, no tradicional
bairro Brasil de Santiago, era
possível ver panfletos de candidatos pelo chão. Ali, o favorito
Sebastián Piñera chegou para
votar com a família às 9h30,
passagem que incitou rusgas
entre eleitores.
Minoria entre gritos de "Se
sente, Piñera presidente", a
atriz Marcela Otarala, 27, eleitora de Jorge Arrate, respondia
na mesma altura: "Não vai ser
eleito nem cagando". Saiu com
um braço vermelho por golpes
de estojo desferidos por uma
agitada senhora que a chamava
de "comunista".
Dentro do liceu, o aposentado Rafael Monreal, 72, seguia
indiferente ao tumulto de jornalistas em torno de Piñera
-disse ter anulado o voto. "Pinochet deixou tudo encaminhado para a Concertação: autonomia do Banco Central,
Constituição, Previdência..."
Já Jared Muñoz, 26, assistente de loja de reposição de
peças automotivas, justificava
seu voto com um argumento
corriqueiro entre os eleitores
de Piñera: "Ele já é dono de
muitas empresas, não necessita
de mais dinheiro".
Ainda que simpatizantes do
empresário fossem maioria no
local, um pequeno grupo puxou
um "sem vergonha" durante
sua saída. Entre eles, o balconista Luis León, 40, eleitor de
Marco Enríquez-Ominami.
"Ominami é a nova cara do Chile. Se [Eduardo] Frei for ao segundo turno, voto nele."
A 6 km dali, no estádio Nacional, o maior centro de votação
do Chile, com cerca de 55 mil
eleitores, dois apoiadores de
Eduardo Frei destacavam que
"muitos que rodeiam Piñera
estavam na ditadura".
Fiscais voluntários da Concertação, rebatiam a acusação
de falta de renovação na coalizão governista. "Frei fez pacto
com os jovens para renovar a
Concertação", disse o advogado
Gabriel Seisdedos, 37.
(TG)
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