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EUA
Escândalos envolvendo lobistas aumentaram, apesar de controle mais rígido
Americanos discutem se seu Congresso está à venda
JIM DRINKARD
DO "USA TODAY", EM WASHINGTON
Um deputado norte-americano
foi flagrado em vídeo, em 1980,
enchendo seus bolsos de dinheiro
vivo. Ele foi um dos cinco parlamentares presos em decorrência
da operação Abscam, conduzida
pelo FBI para capturar corruptos.
Hoje Washington vem sendo corroída por novos escândalos de
propinas e fraude, e dezenas de
milhões de dólares, viagens de luxo e presentes caros vêm sendo
usados para influenciar parlamentares ou, em pelo menos um
caso, suborná-los.
As revelações vêm prejudicando a confiança da população no
governo federal, motivando chamados pelo endurecimento das
leis e levando alguns setores a indagar se o Congresso está à venda
mais uma vez.
"Simplesmente temos poder
demais", diz o deputado republicano Jeff Flake, do Arizona, falando da capacidade dos parlamentares de direcionar dólares dos
contribuintes para projetos, empresas ou doadores de campanha
específicos.
Autoridades em ética dizem que
os escândalos se devem a diversos
fatores. O Partido Republicano
exerce controle quase inconteste
sobre o governo federal. Os comitês de ética do Congresso, que
normalmente garantem a aplicação das leis, têm estado inativos.
O custo de candidatar-se a um
cargo eletivo e a quantidade de dinheiro gasta para influenciar o
governo aumentaram de maneira
acentuada.
O advogado Kenneth Gross, especializado em ética parlamentar,
explica: "Quando um partido
ocupa o poder por um período de
tempo prolongado, é comum que
se instale um certo grau de comportamento corrosivo".
O lobista republicano Jack
Abramoff, que ao longo dos últimos dez anos formou uma clientela lucrativa com duas empresas
de ações de primeira linha em
Washington, personifica esses
problemas. Ele mantinha camarotes em espaços esportivos onde
recebia parlamentares e clientes,
abriu um restaurante de luxo onde os poderosos comiam e bebiam de graça e cobrou US$ 82
milhões de tribos indígenas que
eram suas clientes. Abramoff costumava referir-se aos comitês de
alocação de verbas do Congresso,
que redigem as contas anuais de
gastos, como "fábrica de favores".
Hoje ele está cooperando com
promotores federais numa investigação que pode envolver parlamentares, seus assessores e funcionários da administração Bush.
Inflação de lobistas
Os problemas surgiram ao final
de uma década de crescimento
acelerado na atividade de lobbies
em Washington. Os registros do
Senado indicam que no ano passado foram cadastrados 32.890 lobistas, um número três vezes superior ao de dez anos antes. Muitos deles são ex-parlamentares ou
seus assessores. Os gastos anuais
com a atividade dos lobistas subiram de cerca de US$ 800 milhões
em 1996 para aproximadamente
US$ 2,2 bilhões no ano passado.
Ironicamente, as normas de ética já estão mais duras do que
eram nas décadas passadas. Os lobistas são obrigados a se cadastrar
e a reportar sua renda e suas listas
de clientes. Os parlamentares e
seus assessores são proibidos de
aceitar refeições, entretenimento
ou outros presentes de valor superior a US$ 50. São proibidos de
fazer lobby junto a seus ex-contatos no Congresso durante um ano
depois de deixar o Capitólio. E
precisam relatar as viagens que fazem que são pagas por representantes de interesses privados.
Então, por que é que o problema se agravou?
As confissões de culpa de Jack
Abramoff e seu sócio lobista, o
executivo de relações públicas
Michael Scanlon, seguem-se a outros problemas de ordem ética.
O deputado republicano texano
Tom DeLay renunciou à liderança da maioria na Câmara em setembro passado depois de ser
acusado em seu Estado de conspiração criminosa para lavar dinheiro de campanhas. Recentemente ele desistiu de seus esforços para voltar ao cargo. Outro
congressista republicano, o deputado da Califórnia Randy "Duke"
Cunningham, renunciou a seu
mandato em novembro, depois
de confessar ter recebido pelo menos US $2,4 milhões em propinas.
Normalmente o policiamento
da Câmara e do Senado cabe ao
comitê de ética de cada Casa, mas
esses comitês têm estado em boa
parte inativos nos últimos tempos. O deputado Rahm Emanuel,
de Illinois, que chefia o Comitê de
Campanha do Partido Democrata, quer fazer da corrupção um
dos pontos mais importantes nas
eleições deste ano.
Líderes republicanos, incluindo
o presidente da Câmara, deputado Dennis Hastert, e o líder da
maioria no Senado, Bill Frist, estão advogando mudanças na legislação referente aos lobbies.
As negociações entre lobistas e
parlamentares têm se tornado,
"infelizmente, o modo comum de
trabalhar nesta cidade", denunciou o senador republicano John
McCain, do Arizona, que no mês
passado apresentou uma proposta que visa tornar mais transparente a atuação do ramo da influência.
Tradução de Clara Allain
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