São Paulo, segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

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Correa defende "socialismo do século 21"

Em "posse indígena", novo presidente do Equador cita Chávez e promete referendo sobre Constituição sem consulta ao Congresso

Ato que antecedeu a posse oficial, hoje, contou com venezuelano e Morales; Correa nega ter feito acordo por bancada com Gutiérrez

João Wainer/Folha Imagem
Indígenas equatorianos acompanham em Zumbahua ato de posse simbólica de Rafael Correa


JOÃO WAINER
ENVIADO ESPECIAL A ZUMBAHUA

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A QUITO

À maneira de Evo Morales, o presidente eleito do Equador, o esquerdista Rafael Correa, 43, protagonizou ontem uma posse indígena simbólica diante de alguns milhares de quíchuas, a principal etnia do país.
Acompanhado dos colegas boliviano e venezuelano, Hugo Chávez, ele disse que não consultará o Congresso para convocar um referendo sobre a realização de uma Assembléia Constituinte e falou em "socialismo do século 21".
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não foi convidado para o evento de ontem, chega hoje de manhã apenas para a cerimônia de posse oficial - ele deve ficar apenas seis horas e meia no Equador.
"Não estamos falando de reforminhas, não estamos falando de fazer menos mal o que já vinha sendo feito" discursou Correa. "Foram derrubados os governos servis, a democracia de massinha moldável, o modelo neoliberal, e começou a surgir essa América Latina altiva, digna, soberana, justa e socialista do século 21", disse, em alusão ao "socialismo do século 21" que Chávez prometeu implantar, na semana passada.
Em pelo menos três momentos em seu discurso, Correa falou que "o que vivemos não é uma época de mudanças, mas uma mudança da época".
A posse indígena ocorreu no povoado andino de Zumbahua (20 mil habitantes, a 160 km ao sul de Quito), onde Correa, formado em economia, viveu em 1988 como missionário salesiano -ensinava matemática- e aprendeu a falar quíchua, a principal língua indígena do Equador. Cerca de 25% da população do país é indígena.

Sem acordo
Na parte politicamente mais importante do discurso, Correa disse que o decreto que deverá ser emitido hoje já é uma convocatória para o referendo sobre a realização ou não de uma Constituinte e disse que apenas "notificará" o Congresso. O presidente eleito não tem nenhum parlamentar porque seu partido concorreu sem candidatos ao Legislativo.
Nos últimos dias, a imprensa noticiou que Correa havia decidido consultar formalmente o Congresso depois de um suposto acordo com o ex-presidente Lucio Gutiérrez, deposto em abril de 2005 e líder da terceira maior bancada parlamentar. Na semana passada, ele disse que apoiará a iniciativa de Correa. O presidente eleito negou ontem o acordo e chamou o antecessor de "traidor".
Ao longo da campanha, Correa se intitulou adversário da "partidocracia" representada sobretudo pelo Congresso, cuja última legislatura terminou com o apoio popular em apenas um dígito, segundo pesquisas.
Ontem, vários simpatizantes de Correa gritaram palavras de ordem contra o Congresso. "Que fechem o Congresso e dêem plenos poderes a Correa", disse à Folha o indígena desempregado Marcelo Jati, 39. "A partir de amanhã [hoje], os índios dormirão sossegados, e os ricos não poderão dormir."


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