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Correa defende "socialismo do século 21"
Em "posse indígena", novo presidente do Equador cita Chávez e promete referendo sobre Constituição sem consulta ao Congresso
Ato que antecedeu a posse oficial, hoje, contou com venezuelano e Morales; Correa nega ter feito acordo por bancada com Gutiérrez
João Wainer/Folha Imagem
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Indígenas equatorianos acompanham em Zumbahua ato de posse simbólica de Rafael Correa |
JOÃO WAINER
ENVIADO ESPECIAL A ZUMBAHUA
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A QUITO
À maneira de Evo Morales, o
presidente eleito do Equador, o
esquerdista Rafael Correa, 43,
protagonizou ontem uma posse indígena simbólica diante de
alguns milhares de quíchuas, a
principal etnia do país.
Acompanhado dos colegas
boliviano e venezuelano, Hugo
Chávez, ele disse que não consultará o Congresso para convocar um referendo sobre a
realização de uma Assembléia
Constituinte e falou em "socialismo do século 21".
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não foi convidado para o evento de ontem, chega hoje de manhã apenas para a
cerimônia de posse oficial - ele
deve ficar apenas seis horas e
meia no Equador.
"Não estamos falando de reforminhas, não estamos falando de fazer menos mal o que já
vinha sendo feito" discursou
Correa. "Foram derrubados os
governos servis, a democracia
de massinha moldável, o modelo neoliberal, e começou a surgir essa América Latina altiva,
digna, soberana, justa e socialista do século 21", disse, em
alusão ao "socialismo do século
21" que Chávez prometeu implantar, na semana passada.
Em pelo menos três momentos em seu discurso, Correa falou que "o que vivemos não é
uma época de mudanças, mas
uma mudança da época".
A posse indígena ocorreu no
povoado andino de Zumbahua
(20 mil habitantes, a 160 km ao
sul de Quito), onde Correa, formado em economia, viveu em
1988 como missionário salesiano -ensinava matemática- e
aprendeu a falar quíchua, a
principal língua indígena do
Equador. Cerca de 25% da população do país é indígena.
Sem acordo
Na parte politicamente mais
importante do discurso, Correa
disse que o decreto que deverá
ser emitido hoje já é uma convocatória para o referendo sobre a realização ou não de uma
Constituinte e disse que apenas
"notificará" o Congresso. O
presidente eleito não tem nenhum parlamentar porque seu
partido concorreu sem candidatos ao Legislativo.
Nos últimos dias, a imprensa
noticiou que Correa havia decidido consultar formalmente o
Congresso depois de um suposto acordo com o ex-presidente
Lucio Gutiérrez, deposto em
abril de 2005 e líder da terceira
maior bancada parlamentar.
Na semana passada, ele disse
que apoiará a iniciativa de Correa. O presidente eleito negou
ontem o acordo e chamou o antecessor de "traidor".
Ao longo da campanha, Correa se intitulou adversário da
"partidocracia" representada
sobretudo pelo Congresso, cuja
última legislatura terminou
com o apoio popular em apenas
um dígito, segundo pesquisas.
Ontem, vários simpatizantes
de Correa gritaram palavras de
ordem contra o Congresso.
"Que fechem o Congresso e
dêem plenos poderes a Correa", disse à Folha o indígena
desempregado Marcelo Jati,
39. "A partir de amanhã [hoje],
os índios dormirão sossegados,
e os ricos não poderão dormir."
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