São Paulo, terça-feira, 15 de janeiro de 2008

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ARTIGO

Reagindo à recessão

PAUL KRUGMAN
DO "NEW YORK TIMES"

De uma hora para outra, o consenso econômico parece ser que a implosão do mercado habitacional vai de fato empurrar a economia dos EUA para uma recessão -e mais, que é bem possível que já estejamos em recessão.
Como este é um ano eleitoral, o debate sobre como estimular a economia está vinculado à política. E vai aqui uma modesta sugestão minha para os repórteres políticos: em vez de tentar adivinhar o caráter dos candidatos por seu tom de voz e expressões faciais, por que não prestar atenção ao que eles dizem sobre política econômica? Tome-se, por exemplo, o reconhecimento por parte de John McCain de que economia não é sua praia. "Tenho o livro de Greenspan", disse ele. Será que não devemos nos preocupar com um candidato que está tão desligado que vê o Sr. Bolha, o homem que se recusou a regulamentar os empréstimos imobiliários e nos assegurou que havia no máximo "um pouco de espuma" no mercado habitacional, como uma fonte de bons conselhos?
Enquanto isso, Rudy Giuliani quer que apostemos na quebra. A resposta que ele propõe aos problemas de curto prazo é um corte imenso e permanente nos impostos, que, diz, se pagaria sozinho. Não o faria. Quanto a Mike Huckabee, o que se pode dizer de um candidato que faz um discurso populista e, ao mesmo tempo, propõe elevar a carga tributária da classe média e reduzir a dos ricos?
E há o caso curioso de Mitt Romney. Fui informado de que ele possui conhecimento considerável de economia. Os temores de recessão podem lhe ter proporcionado uma oportunidade de se diferenciar dos outros candidatos republicanos, com uma proposta econômica que de fato previsse respostas à tempestade que se forma.
Mas Romney parece não conseguir largar seu hábito de dizer aos republicanos só o que acha que eles querem ouvir. Ele ainda não propôs nada exceto o papo furado republicano padrão sobre impostos baixos e um ambiente pró-empresas.
Do lado democrata, John Edwards propôs, no mês passado, antes de o consenso econômico tornar-se tão negativo, um pacote de estímulos que incluía assistência a trabalhadores desempregados, ajuda para governos estaduais e locais necessitados, investimentos públicos em fontes de energia alternativa e outras medidas. Na semana passada Hillary Clinton fez uma proposta semelhante à de Edwards, em linhas gerais, porém mais ampla.
As duas propostas contêm prescrições de estímulos maiores para o caso de a situação da economia se agravar. E é obrigatório reconhecer que Hillary parece sentir-se à vontade com o tema da política econômica e conhecer o assunto.
Lamento dizer que a reação inicial da campanha de Obama à onda mais recente de notícias econômicas ruins foi pouco edificante: seu principal assessor econômico afirmou que o plano de redução de longo prazo nos impostos anunciado pelo candidato meses atrás é exatamente o necessário para impedir que a queda pequena "vire um declínio drástico nos gastos do consumidor". Hmmm...
Alegar que o candidato é onisciente e que o corte nos impostos proposto originalmente por outras razões combate a recessão -não soa familiar? Seja como for, no domingo Obama apareceu com um plano real de estímulo. Como foi o caso com seu plano para a saúde, que não chegou a prever a cobertura universal, seu plano de estímulo é semelhante aos dos outros candidatos democratas, mas enviesado para a direita. Por exemplo, o plano de Obama parece não conter nenhuma das iniciativas sobre energia alternativa contidas nos de Edwards e Clinton e dá mais peso aos cortes de impostos para todos que à assistência às famílias mais carentes e à ajuda aos governos estaduais e locais.
Obama é realmente menos progressista que seus rivais em política doméstica. Resumindo: a discussão sobre os estímulos à economia oferece um retrato bastante bom dos homens e da mulher que querem tornar-se presidente. E eu nem sequer falei de seus penteados.


Tradução de CLARA ALLAIN


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