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ARTIGO
Reagindo à recessão
PAUL KRUGMAN
DO "NEW YORK TIMES"
De uma hora para outra, o
consenso econômico parece
ser que a implosão do mercado
habitacional vai de fato empurrar a economia dos EUA para
uma recessão -e mais, que é
bem possível que já estejamos
em recessão.
Como este é um ano eleitoral,
o debate sobre como estimular
a economia está vinculado à política. E vai aqui uma modesta
sugestão minha para os repórteres políticos: em vez de tentar
adivinhar o caráter dos candidatos por seu tom de voz e expressões faciais, por que não
prestar atenção ao que eles dizem sobre política econômica?
Tome-se, por exemplo, o reconhecimento por parte de
John McCain de que economia
não é sua praia. "Tenho o livro
de Greenspan", disse ele. Será
que não devemos nos preocupar com um candidato que está
tão desligado que vê o Sr. Bolha,
o homem que se recusou a regulamentar os empréstimos
imobiliários e nos assegurou
que havia no máximo "um pouco de espuma" no mercado habitacional, como uma fonte de
bons conselhos?
Enquanto isso, Rudy Giuliani
quer que apostemos na quebra.
A resposta que ele propõe aos
problemas de curto prazo é um
corte imenso e permanente nos
impostos, que, diz, se pagaria
sozinho. Não o faria. Quanto a
Mike Huckabee, o que se pode
dizer de um candidato que faz
um discurso populista e, ao
mesmo tempo, propõe elevar a
carga tributária da classe média
e reduzir a dos ricos?
E há o caso curioso de Mitt
Romney. Fui informado de que
ele possui conhecimento considerável de economia. Os temores de recessão podem lhe ter
proporcionado uma oportunidade de se diferenciar dos outros candidatos republicanos,
com uma proposta econômica
que de fato previsse respostas à
tempestade que se forma.
Mas Romney parece não
conseguir largar seu hábito de
dizer aos republicanos só o que
acha que eles querem ouvir. Ele
ainda não propôs nada exceto o
papo furado republicano padrão sobre impostos baixos e
um ambiente pró-empresas.
Do lado democrata, John Edwards propôs, no mês passado,
antes de o consenso econômico
tornar-se tão negativo, um pacote de estímulos que incluía
assistência a trabalhadores desempregados, ajuda para governos estaduais e locais necessitados, investimentos públicos
em fontes de energia alternativa e outras medidas.
Na semana passada Hillary
Clinton fez uma proposta semelhante à de Edwards, em linhas gerais, porém mais ampla.
As duas propostas contêm
prescrições de estímulos maiores para o caso de a situação da
economia se agravar. E é obrigatório reconhecer que Hillary
parece sentir-se à vontade com
o tema da política econômica e
conhecer o assunto.
Lamento dizer que a reação
inicial da campanha de Obama
à onda mais recente de notícias
econômicas ruins foi pouco
edificante: seu principal assessor econômico afirmou que o
plano de redução de longo prazo nos impostos anunciado pelo candidato meses atrás é exatamente o necessário para impedir que a queda pequena "vire um declínio drástico nos gastos do consumidor". Hmmm...
Alegar que o candidato é onisciente e que o corte nos impostos proposto originalmente por
outras razões combate a recessão -não soa familiar?
Seja como for, no domingo
Obama apareceu com um plano
real de estímulo. Como foi o caso com seu plano para a saúde,
que não chegou a prever a cobertura universal, seu plano de
estímulo é semelhante aos dos
outros candidatos democratas,
mas enviesado para a direita.
Por exemplo, o plano de Obama parece não conter nenhuma das iniciativas sobre energia alternativa contidas nos de
Edwards e Clinton e dá mais
peso aos cortes de impostos para todos que à assistência às famílias mais carentes e à ajuda
aos governos estaduais e locais.
Obama é realmente menos
progressista que seus rivais em
política doméstica.
Resumindo: a discussão sobre os estímulos à economia
oferece um retrato bastante
bom dos homens e da mulher
que querem tornar-se presidente. E eu nem sequer falei de
seus penteados.
Tradução de CLARA ALLAIN
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