São Paulo, sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

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HAITI EM RUÍNAS

Obama promete US$ 100 milhões para assistência

Casa Branca confirma que George W. Bush e Bill Clinton devem comandar comissão para coordenar os esforços de resgate e ajuda

Democrata tem espantado mesmo rivais políticos pela agilidade de sua resposta e por acionar rapidamente a "armada da boa vontade"


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Em seu segundo pronunciamento seguido sobre o desastre haitiano em menos de 24 horas, o presidente Barack Obama prometeu enviar US$ 100 milhões em ajuda humanitária para o país. Momentos antes, o diretor-geral do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Kahn, havia anunciado quantia semelhante que estará à disposição "de forma imediata" para o Haiti.
A soma representa quase 3% do PIB daquele que é o país mais pobre do continente e que depende pesadamente dos EUA, responsáveis por movimentar US$ 7 de cada US$ 10 de sua economia. Junta-se a outras ofertas feitas pelo mundo como maneira de ajudar no resgate e na reconstrução de um país que perdeu 15% de seu PIB na temporada de furacões de 2008 e outros 7% na crise institucional de quatro anos antes.
"Ao povo do Haiti nós dizemos claramente e com convicção que vocês não serão esquecidos", disse Obama. "Nessa hora de sua maior necessidade, os EUA estão com vocês, o mundo está com vocês." Ladeado por seu vice, Joe Biden, a secretária de Estado, Hillary Clinton, e outros altos funcionários de seu governo, o democrata declarou: "Hoje, vocês têm de saber que a ajuda está chegando -muito, muito mais ajuda está a caminho".
De fato, Obama tem espantado mesmo adversários políticos pela agilidade de sua resposta e por colocar em poucas horas em ação o que foi chamada de "armada da boa vontade". Ontem, o Pentágono confirmou que uma embarcação anfíbia com 2.000 fuzileiros navais estava a caminho da ilha, assim como um navio-hospital e um porta-aviões com uma esquadra de helicópteros.
Nas primeiras horas de ontem, um primeiro time de soldados americanos recolocou o aeroporto de Porto Príncipe em funcionamento de emergência, o que permitiu que os primeiros aviões de ajuda e resgate pudessem pousar no país. A pedido do presidente, o serviço de imigração suspendeu os processos de extradição dos haitianos ilegais vivendo nos EUA, que têm colônia de milhares de imigrantes do Haiti.
Ontem, ainda, funcionários da Casa Branca confirmaram que os ex-presidentes George W. Bush e Bill Clinton devem comandar uma comissão que coordenará os esforços de resgate e ajuda. A função principal dos líderes será arrecadar dinheiro. Obama pediu que seus antecessores trabalhassem juntos numa iniciativa semelhante ao que Bush pai e o próprio Clinton fizeram logo após o tsunami asiático de 2004 e o furacão Katrina de 2005.
O fantasma desse último incidente é um que os democratas tentam evitar. Na ocasião, Bush demorou seis dias para fazer seu primeiro pronunciamento sobre o caso. A imagem de um presidente sem ligação com o sofrimento da população negra de seu próprio país nunca mais descolaria do político e ajudou seu partido a perder o controle do Congresso nas eleições legislativas de 2006.
Guardadas as diferenças -Louisiana, Estado que foi palco do Katrina, não é o Haiti-, Obama quer evitar a repetição do erro histórico. Como primeiro presidente negro dos EUA e como líder do país com mais influência sobre o Haiti, tem mostrado uma iniciativa além da esperada, definida por Hillary Clinton como "de proporções magníficas". Ainda assim, o presidente caminha numa linha tênue para não alienar o resto do mundo.
Ontem, os mesmos funcionários do governo faziam questão de ressaltar que os EUA não estão no comando das operações de resgate -nem do país. "Não estamos tomando o Haiti", disse o porta-voz do Departamento de Estado, PJ Crowley. "Estamos ajudando a estabilizá-lo", disse ele, reforçando que os EUA agiriam sob instruções do governo haitiano e das forças de paz da ONU.

Elogio ao Brasil
Em seu pronunciamento de ontem, Obama procurou deixar clara a associação e elogiou os brasileiros. "Nós vamos nos associar com as Nações Unidas, seu pessoal dedicado e suas forças de paz, especialmente aqueles do Brasil, que já estão em campo devido a seu extraordinário esforço de manter a paz ali", afirmou.
Há ainda a questão de segurança nacional. Os EUA temem um êxodo em massa nos moldes do ocorrido em Cuba nos anos 80. Para tanto, um plano de contingência prevê a utilização da base militar de Guantánamo para desviar eventuais haitianos que tentem deixar o país por água.
Não seria novidade. As instalações hoje usadas para suspeitos de terrorismo foram criadas nos anos 90 para abrigar refugiados de um furacão que atingiu justamente o Haiti.


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