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HAITI EM RUÍNAS
Obama promete US$ 100 milhões para assistência
Casa Branca confirma que George W. Bush e Bill Clinton devem comandar comissão para coordenar os esforços de resgate e ajuda
Democrata tem espantado mesmo rivais políticos pela agilidade de sua resposta e por acionar rapidamente a "armada da boa vontade"
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Em seu segundo pronunciamento seguido sobre o desastre
haitiano em menos de 24 horas,
o presidente Barack Obama
prometeu enviar US$ 100 milhões em ajuda humanitária
para o país. Momentos antes, o
diretor-geral do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Kahn, havia anunciado quantia semelhante que
estará à disposição "de forma
imediata" para o Haiti.
A soma representa quase 3%
do PIB daquele que é o país
mais pobre do continente e que
depende pesadamente dos
EUA, responsáveis por movimentar US$ 7 de cada US$ 10
de sua economia. Junta-se a
outras ofertas feitas pelo mundo como maneira de ajudar no
resgate e na reconstrução de
um país que perdeu 15% de seu
PIB na temporada de furacões
de 2008 e outros 7% na crise
institucional de quatro anos
antes.
"Ao povo do Haiti nós dizemos claramente e com convicção que vocês não serão esquecidos", disse Obama. "Nessa
hora de sua maior necessidade,
os EUA estão com vocês, o
mundo está com vocês." Ladeado por seu vice, Joe Biden, a secretária de Estado, Hillary
Clinton, e outros altos funcionários de seu governo, o democrata declarou: "Hoje, vocês
têm de saber que a ajuda está
chegando -muito, muito mais
ajuda está a caminho".
De fato, Obama tem espantado mesmo adversários políticos pela agilidade de sua resposta e por colocar em poucas
horas em ação o que foi chamada de "armada da boa vontade".
Ontem, o Pentágono confirmou que uma embarcação anfíbia com 2.000 fuzileiros navais
estava a caminho da ilha, assim
como um navio-hospital e um
porta-aviões com uma esquadra de helicópteros.
Nas primeiras horas de ontem, um primeiro time de soldados americanos recolocou o
aeroporto de Porto Príncipe
em funcionamento de emergência, o que permitiu que os
primeiros aviões de ajuda e resgate pudessem pousar no país.
A pedido do presidente, o serviço de imigração suspendeu os
processos de extradição dos
haitianos ilegais vivendo nos
EUA, que têm colônia de milhares de imigrantes do Haiti.
Ontem, ainda, funcionários
da Casa Branca confirmaram
que os ex-presidentes George
W. Bush e Bill Clinton devem
comandar uma comissão que
coordenará os esforços de resgate e ajuda. A função principal
dos líderes será arrecadar dinheiro. Obama pediu que seus
antecessores trabalhassem
juntos numa iniciativa semelhante ao que Bush pai e o próprio Clinton fizeram logo após
o tsunami asiático de 2004 e o
furacão Katrina de 2005.
O fantasma desse último incidente é um que os democratas tentam evitar. Na ocasião,
Bush demorou seis dias para fazer seu primeiro pronunciamento sobre o caso. A imagem
de um presidente sem ligação
com o sofrimento da população
negra de seu próprio país nunca mais descolaria do político e
ajudou seu partido a perder o
controle do Congresso nas eleições legislativas de 2006.
Guardadas as diferenças
-Louisiana, Estado que foi palco do Katrina, não é o Haiti-,
Obama quer evitar a repetição
do erro histórico. Como primeiro presidente negro dos
EUA e como líder do país com
mais influência sobre o Haiti,
tem mostrado uma iniciativa
além da esperada, definida por
Hillary Clinton como "de proporções magníficas". Ainda assim, o presidente caminha numa linha tênue para não alienar
o resto do mundo.
Ontem, os mesmos funcionários do governo faziam questão
de ressaltar que os EUA não estão no comando das operações
de resgate -nem do país. "Não
estamos tomando o Haiti", disse o porta-voz do Departamento de Estado, PJ Crowley. "Estamos ajudando a estabilizá-lo", disse ele, reforçando que os
EUA agiriam sob instruções do
governo haitiano e das forças
de paz da ONU.
Elogio ao Brasil
Em seu pronunciamento de
ontem, Obama procurou deixar
clara a associação e elogiou os
brasileiros. "Nós vamos nos associar com as Nações Unidas,
seu pessoal dedicado e suas forças de paz, especialmente
aqueles do Brasil, que já estão
em campo devido a seu extraordinário esforço de manter
a paz ali", afirmou.
Há ainda a questão de segurança nacional. Os EUA temem
um êxodo em massa nos moldes do ocorrido em Cuba nos
anos 80. Para tanto, um plano
de contingência prevê a utilização da base militar de Guantánamo para desviar eventuais
haitianos que tentem deixar o
país por água.
Não seria novidade. As instalações hoje usadas para suspeitos de terrorismo foram criadas
nos anos 90 para abrigar refugiados de um furacão que atingiu justamente o Haiti.
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