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oposição
"As pessoas poderão votar, e não eleger"
DE CARACAS
A reeleição indefinida,
aliada ao uso da máquina
do Estado, tira a legitimidade das eleições na Venezuela, diz Julio Borges,
coordenador nacional Primeiro Justiça (PJ, direita),
um dos partidos mais importantes da oposição.
Para Borges, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
é "hipócrita" ao apoiar o
colega Hugo Chávez, mas
ser contra a mesma mudança no Brasil. Eis sua
entrevista à Folha:
(FM)
FOLHA - Por que o sr. defende
o "não" neste referendo?
JULIO BORGES - É uma pergunta que já foi feita em
2007, e o povo já disse
"não". Voltar a apresentá-la é um desrespeito à soberania popular. Em segundo lugar, reeleição ilimitada, na história venezuelana, só ocorreu durante
duas ditaduras militares.
O problema não é só a
reeleição ilimitada mas
também o abuso do poder,
o uso do petróleo, dos
meios de comunicação do
Estado, das Forças Armadas, das instituições. Essa
combinação faria com que
as pessoas pudessem votar, mas não eleger, porque não haverá jogo limpo.
FOLHA - Há risco de a oposição rechaçar o resultado?
BORGES - O que está acontecendo é a degradação do
processo eleitoral. Na medida em que você tem um
jogo injusto, o que se está
plantando é uma grande
decepção. Nosso desafio é
que a maioria dos que dizem que não votarão está a
favor do "não", mas não
crê no sistema. Portanto,
uma minoria acaba se impondo à maioria porque
não confia no sistema.
FOLHA - Lula visitou a Venezuela durante a campanha e
fez declarações de apoio a
Chávez. O que o sr. diria ele?
BORGES - Parece hipócrita,
pois o presidente Lula vem
aqui e afinal está pensando mais nos negócios do
que na democracia. Dentro do Brasil, Lula diz que
é contra a reeleição ilimitada e que se rebelaria
contra o seu partido se alguém fizesse essa proposta. É como a Bolívia, onde
se limitou a reeleição. Mas
eles vêm aqui fazer o jogo
de Chávez e, lamentavelmente, a razão se chama
petróleo, não democracia.
FOLHA - Um dos principais argumentos do chavismo é que
em vários países da Europa, como Inglaterra, Espanha e França, não há limite de mandatos.
BORGES - A referência importante é a América, e
aqui não há reeleição sem
limite do Alasca até a Argentina, exceto em Cuba.
Aqui, são regimes presidencialistas. Na Europa,
são parlamentaristas.
FOLHA - E o argumento de
que, sem Chávez, a Venezuela
mergulharia na guerra civil?
BORGES - O mesmo se diz
em qualquer país onde o
governo controla tudo.
Chávez tem dez anos no
poder e virou a única referência. O [ditador chileno,
Augusto] Pinochet, em
1989, acusava a oposição
de não ter líderes.
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