São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 1998

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O NASCIMENTO DE UM GIGANTE
Há um século começava a guerra contra a Espanha, marco da política intervencionista americana
EUA completam cem anos como potência

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington

Faz cem anos hoje que o navio de guerra norte-americano USS Maine explodiu no porto de Havana, Cuba, o que serviu de pretexto para a Guerra Hispano-Americana.
O conflito marca o início da presença, que já se estende por um século, dos EUA como um dos atores essenciais da política mundial.
No século anterior, os EUA haviam se consolidado como nação, inclusive com o custo de guerra civil, e expandiram seu território, às vezes com uso de força contra Reino Unido, França e Espanha.
Mas fora da América do Norte, exceto pelo Reino Unido, as preocupações dos EUA eram mínimas.
Tudo começou a mudar a partir de 1898. Nos três anos anteriores, rebeldes em Cuba tentavam obter independência da Espanha. A situação incomodava os EUA, que tinham interesses materiais na ilha.
O presidente William McKinley mandou o Maine para proteger vidas e propriedades norte-americanas em Cuba. A explosão, atualmente considerada acidental, mas na época atribuída aos espanhóis, pôs Estados Unidos e Espanha em guerra.
Foi uma guerra curta. Durou apenas quatro meses. Mas, ao final dela, os EUA haviam anexado as Filipinas, Porto Rico e Guam, além de fazer de Cuba uma virtual colônia.
As consequências da Guerra Hispano-Americana são sentidas até hoje, em especial nas Américas.
em Intervencionismo
Ela foi a primeira aplicação (e muito bem sucedida, do ponto de vista dos EUA) de uma interpretação da Doutrina Monroe que justificaria dezenas de intervenções armadas dos EUA no continente.
Em 1823, o presidente James Monroe enviou ao Congresso mensagem na qual afirmava que as potências da Europa deviam manter suas mãos afastadas do hemisfério ocidental. Qualquer tentativa contrária seria interpretada como ameaça aos interesses dos EUA -era o slogan ""a América para os americanos".
No século 19, os EUA não tinham poder militar para fazer mais do que dar apoio político aos sul-americanos com problemas com a Europa. Isso ajudou a formar um espírito pan-americano tão forte que, em 1888, chegou-se a considerar a instalação de uma área de livre comércio das Américas.
Após 1898, a Doutrina Monroe ganhou novos corolários, inclusive o que justificava a intervenção militar dos EUA em países do continente para assegurar o pagamento de dívidas de governos a bancos privados norte-americanos.
Essa política distanciou os EUA de seus vizinhos. Na própria Guerra Hispano-Americana, só o Brasil os apoiou. Os outros países demonstraram simpatia à Espanha.
em Empecilho cubano
Levou mais de 90 anos para que se voltasse a pensar de maneira pan-americana no continente. Mesmo assim, na Cúpula das Américas de Santiago, em abril, Cuba estará de fora, como esteve na de Miami.
Cuba foi protetorado dos EUA até 1933, quando uma revolução nacionalista tomou o poder. Uma vez mais os EUA intervieram e instalaram como presidente o sargento Fulgencio Batista, que foi deposto em 1959 por Fidel Castro.
O confronto com o regime castrista se transformou no "leitmotiv" da política dos EUA para a América Latina nas quatro décadas que se seguiram. Mesmo agora, com a perspectiva (mesmo que duvidosa) de constituição da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) até 2005, Cuba continua sendo um obstáculo para a integração total do continente.



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