São Paulo, domingo, 15 de março de 2009

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Funcionalismo pressiona Chávez por salário

Redução no ritmo de obras públicas e contenção de reajustes provocam protestos no setor estatal; Odebrecht é afetada

Receita menor devido à queda do petróleo prejudica setor que aumentou com ampliação dos serviços e nacionalização de empresas

Presidência Venezuelana-28,fev.09/France Presse
Chávez acena antes de falar à Assembleia Nacional; governo sente pressão de seu super-Estado

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Com o cobertor mais curto após a queda do preço do petróleo, o presidente Hugo Chávez enfrenta uma série de protestos de funcionários públicos e de trabalhadores de empresas contratadas pelo governo em busca de aumento salarial e contra a diminuição no ritmo de obras federais.
Nesta semana, houve protestos de funcionários da estatal PDVSA, do metrô de Caracas, das empresas elétricas, do Ministério da Agricultura, das empresas do setor de alumínio e até do programa social mais popular de Chávez, o Barrio Adentro, de instalação de módulos médicos nas áreas mais pobres do país.
Os protestos também têm mobilizado sindicatos de trabalhadores da Odebrecht, construtora brasileira encarregada de algumas das principais obras do governo Chávez, como a ampliação do metrô de Caracas.
"Nas mesas de trabalho, a Odebrecht diz que o governo está atrasando o repasse de recursos", disse à Folha Jancarlos Fonseca, secretário-geral do sindicato dos trabalhadores da terceira ponte sobre o Rio Orinoco (sudeste de Caracas).
Anteontem, ele participou de reunião no Palácio Miraflores para cobrar a atualização dos repasses, mas disse que não houve avanços porque não havia representantes do Ministério da Infraestrutura.
De acordo com Fonseca, desde 15 de dezembro a empresa mantém "suspensos" 517 trabalhadores -ou seja, não foram demitidos, mas tampouco trabalham ou recebem salários. A obra continua com outros 1.200 trabalhadores.
Em resposta aos protestos dos sindicatos e aos relatos de atrasos na imprensa local, a Odebrecht publicou ontem uma nota paga nos principais jornais venezuelanos. Nela, a empresa diz que "o ritmo das obras se adaptará à disponibilidade de recursos, mas nunca as paralisaremos".
Desde que Chávez assumiu o poder, há dez anos, o preço do barril do petróleo e o aumento do funcionalismo público seguiam o mesmo passo. Em 1999, o governo tinha 14 ministérios -dois a menos do que o antecessor. Hoje, esse número dobrou, com a criação de pastas como o Ministério do Poder Popular para as Comunas.
Um ponto crítico são as empresas estatais localizadas em Puerto Ordaz, a 700 km a leste de Caracas. São ao todo 17 estatais e cerca de 18 mil trabalhadores, sem contar a siderúrgica recém-nacionalizada Sidor, a maior do país. Além de aumentos salariais, os sindicatos dizem que a produção está quase paralisada em algumas fábricas, sobretudo no setor de alumínio, por falta de investimentos, e ainda acusam dirigentes de corrupção.
Em visita recente à região, Chávez rejeitou as reivindicações e fez duras críticas aos trabalhadores. "São uns privilegiados (...). Muitos trabalhadores o que querem é ser ricos. Estão enganados se querem que eu dê dinheiro às empresas para que ganhem 3.000 [bolívares, o equivalente a R$ 3.220]. O que eles querem é que paguemos os melhores colégios privados para seus filhos. Isso é corrupção."
Chávez também ameaçou militarizar o metrô de Caracas caso haja uma paralisação dos funcionários, que estão sem aumento há três anos, apesar da inflação de 30,9% apenas em 2008.
"Quem parar aqui uma empresa do Estado está se metendo comigo, isso é sabotagem e não vou tolerar", disse.
No caso do programa Barrio Adentro, a Sociedade Bolivariana de Medicina Geral Integral disse que o governo suspendeu um bônus de 15% sobre o salário por exclusividade e atividades administrativas. A decisão teria afetado cerca de 2.000 médicos.

Dobro de ministérios
A Venezuela nunca teve tantos funcionários públicos como agora. Chávez também promoveu nacionalizações nos setores petroleiro, siderúrgico e de telecomunicações. Os funcionários públicos em 2009 chegaram a cerca de 2,1 milhões, 55% a mais do que em 2000.
No entanto, o barril de petróleo venezuelano, responsável por 94% das exportações do país, caiu cerca de 70% desde julho passado. Na semana passada, o ministro das Finanças, Alí Rodríguez, anunciou a redução de compras e de viagens. Mas negou que haja cortes no funcionalismo e descartou cortes nos programas sociais.


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