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Funcionalismo pressiona Chávez por salário
Redução no ritmo de obras públicas e contenção de reajustes provocam protestos no setor estatal; Odebrecht é afetada
Receita menor devido à queda do petróleo prejudica setor que aumentou com ampliação dos serviços e nacionalização de empresas
Presidência Venezuelana-28,fev.09/France Presse
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Chávez acena antes de falar à Assembleia Nacional; governo sente pressão de seu super-Estado
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Com o cobertor mais curto
após a queda do preço do petróleo, o presidente Hugo Chávez
enfrenta uma série de protestos de funcionários públicos e
de trabalhadores de empresas
contratadas pelo governo em
busca de aumento salarial e
contra a diminuição no ritmo
de obras federais.
Nesta semana, houve protestos de funcionários da estatal
PDVSA, do metrô de Caracas,
das empresas elétricas, do Ministério da Agricultura, das empresas do setor de alumínio e
até do programa social mais popular de Chávez, o Barrio
Adentro, de instalação de módulos médicos nas áreas mais
pobres do país.
Os protestos também têm
mobilizado sindicatos de trabalhadores da Odebrecht, construtora brasileira encarregada
de algumas das principais obras
do governo Chávez, como a ampliação do metrô de Caracas.
"Nas mesas de trabalho, a
Odebrecht diz que o governo
está atrasando o repasse de recursos", disse à Folha Jancarlos Fonseca, secretário-geral
do sindicato dos trabalhadores
da terceira ponte sobre o Rio
Orinoco (sudeste de Caracas).
Anteontem, ele participou de
reunião no Palácio Miraflores
para cobrar a atualização dos
repasses, mas disse que não
houve avanços porque não havia representantes do Ministério da Infraestrutura.
De acordo com Fonseca, desde 15 de dezembro a empresa
mantém "suspensos" 517 trabalhadores -ou seja, não foram demitidos, mas tampouco
trabalham ou recebem salários.
A obra continua com outros
1.200 trabalhadores.
Em resposta aos protestos
dos sindicatos e aos relatos de
atrasos na imprensa local, a
Odebrecht publicou ontem
uma nota paga nos principais
jornais venezuelanos. Nela, a
empresa diz que "o ritmo das
obras se adaptará à disponibilidade de recursos, mas nunca as
paralisaremos".
Desde que Chávez assumiu o
poder, há dez anos, o preço do
barril do petróleo e o aumento
do funcionalismo público seguiam o mesmo passo. Em
1999, o governo tinha 14 ministérios -dois a menos do que o
antecessor. Hoje, esse número
dobrou, com a criação de pastas como o Ministério do Poder
Popular para as Comunas.
Um ponto crítico são as empresas estatais localizadas em
Puerto Ordaz, a 700 km a leste
de Caracas. São ao todo 17 estatais e cerca de 18 mil trabalhadores, sem contar a siderúrgica
recém-nacionalizada Sidor, a
maior do país. Além de aumentos salariais, os sindicatos dizem que a produção está quase
paralisada em algumas fábricas, sobretudo no setor de alumínio, por falta de investimentos, e ainda acusam dirigentes
de corrupção.
Em visita recente à região,
Chávez rejeitou as reivindicações e fez duras críticas aos trabalhadores. "São uns privilegiados (...). Muitos trabalhadores o que querem é ser ricos.
Estão enganados se querem
que eu dê dinheiro às empresas
para que ganhem 3.000 [bolívares, o equivalente a R$
3.220]. O que eles querem é
que paguemos os melhores colégios privados para seus filhos.
Isso é corrupção."
Chávez também ameaçou
militarizar o metrô de Caracas
caso haja uma paralisação dos
funcionários, que estão sem
aumento há três anos, apesar
da inflação de 30,9% apenas
em 2008.
"Quem parar aqui uma empresa do Estado está se metendo comigo, isso é sabotagem e
não vou tolerar", disse.
No caso do programa Barrio
Adentro, a Sociedade Bolivariana de Medicina Geral Integral disse que o governo suspendeu um bônus de 15% sobre
o salário por exclusividade e
atividades administrativas. A
decisão teria afetado cerca de
2.000 médicos.
Dobro de ministérios
A Venezuela nunca teve tantos funcionários públicos como
agora. Chávez também promoveu nacionalizações nos setores petroleiro, siderúrgico e de
telecomunicações. Os funcionários públicos em 2009 chegaram a cerca de 2,1 milhões,
55% a mais do que em 2000.
No entanto, o barril de petróleo venezuelano, responsável
por 94% das exportações do
país, caiu cerca de 70% desde
julho passado. Na semana passada, o ministro das Finanças,
Alí Rodríguez, anunciou a redução de compras e de viagens.
Mas negou que haja cortes no
funcionalismo e descartou cortes nos programas sociais.
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