São Paulo, domingo, 15 de março de 2009

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Kirchner volta a páreo político na Argentina

Com projeto governista de antecipar eleição legislativa, ex-presidente deve liderar lista oficial de candidatos à Câmara

Objetivo da presidente Cristina Kirchner é garantir a vitória do governo na Província de Buenos Aires, maior colégio eleitoral

THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES

Um dia após a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, anunciar projeto para adiantar em quatro meses as eleições legislativas nacionais na Argentina, líderes do governo no Congresso saíram ontem a defender a candidatura do ex-presidente Néstor Kirchner à Câmara dos Deputados.
"É um candidato fundamental e necessário ao governo", afirmou a uma rádio o líder do governo no Senado, Miguel Pichetto. "Se há alguém que represente nossas idéias, não há uma figura melhor que Néstor Kirchner", ecoou Agustín Rossi, líder da bancada oficialista na Câmara.
Os dois foram os únicos congressistas na reunião de quinta à noite, na residência presidencial, em que Cristina e Néstor tomaram a decisão de propor a antecipação do pleito, de outubro para 26 de junho.
Suas declarações reforçam o que a Folha ouviu de analistas anteontem. Pressionado pela crise internacional e deserções na base legislativa, o governo dobra a aposta com sua maior carta: Néstor liderando a lista do governo para deputados na Província de Buenos Aires.

Trâmite-relâmpago
Na Argentina, o voto nas eleições proporcionais é em listas fechadas, de partidos ou alianças. No pleito legislativo nacional deste ano, se renovam metade da Câmara e um terço do Senado. A medida precisa ser aprovada nas duas Casas do Congresso até 28 de março para entrar em vigor -o governo já anuncia um trâmite-relâmpago e maioria para passá-la.
A primeira candidatura legislativa do ex-presidente Kirchner (2003-2007), hoje na condução do Partido Justicialista (peronista, do governo), seria uma maneira de "puxar votos" para postulantes governistas na Província de Buenos Aires, que reúne 38% do eleitorado do país e a base do kirchnerismo: a periferia pobre da Grande Buenos Aires.
E é justamente nessa faixa do eleitorado que a hegemonia dos Kirchner estaria ameaçada, por receber primeiro os efeitos do aumento da pobreza e do desemprego causados pela queda da atividade econômica. Daí um dos motivos de ir às urnas antes do terceiro e quarto trimestres, quando se prevê que os impactos da crise econômica sejam maiores.
O próprio Kirchner participou do ato em que Cristina anunciou a antecipação: "Há que dedicar todo o esforço a cuidar da governabilidade. Para cuidar também do emprego e da indústria", pregou.
Para o analista Rodrigo Mallea, o governo reforçará sua lista na Província com pesos-pesados como os ministros Sérgio Massa (chefe-de-gabinete) e Graciela Ocaña (Saúde), o que levaria a uma reestruturação do ministério de Cristina.
"A crise é pretexto para o cálculo político", disse Mallea.
Além da queda de popularidade que vem desde o conflito com o setor rural, iniciada no ano passado (Cristina é aprovada hoje por um terço da população), o governo enfrenta baixas na base aliada e a reorganização da oposição.
Com a antecipação, o governo encurta os prazos de diálogo interno dos partidos e grupos opositores e "dobra a aposta" eleitoral, diz Mallea.


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