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Kirchner volta a páreo político na Argentina
Com projeto governista de antecipar eleição legislativa, ex-presidente deve liderar lista oficial de candidatos à Câmara
Objetivo da presidente Cristina Kirchner é garantir
a vitória do governo na Província de Buenos Aires, maior colégio eleitoral
THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES
Um dia após a presidente da
Argentina, Cristina Kirchner,
anunciar projeto para adiantar
em quatro meses as eleições legislativas nacionais na Argentina, líderes do governo no Congresso saíram ontem a defender a candidatura do ex-presidente Néstor Kirchner à Câmara dos Deputados.
"É um candidato fundamental e necessário ao governo",
afirmou a uma rádio o líder do
governo no Senado, Miguel Pichetto. "Se há alguém que represente nossas idéias, não há
uma figura melhor que Néstor
Kirchner", ecoou Agustín Rossi, líder da bancada oficialista
na Câmara.
Os dois foram os únicos congressistas na reunião de quinta
à noite, na residência presidencial, em que Cristina e Néstor
tomaram a decisão de propor a
antecipação do pleito, de outubro para 26 de junho.
Suas declarações reforçam o
que a Folha ouviu de analistas
anteontem. Pressionado pela
crise internacional e deserções
na base legislativa, o governo
dobra a aposta com sua maior
carta: Néstor liderando a lista
do governo para deputados na
Província de Buenos Aires.
Trâmite-relâmpago
Na Argentina, o voto nas eleições proporcionais é em listas
fechadas, de partidos ou alianças. No pleito legislativo nacional deste ano, se renovam metade da Câmara e um terço do
Senado. A medida precisa ser
aprovada nas duas Casas do
Congresso até 28 de março para entrar em vigor -o governo
já anuncia um trâmite-relâmpago e maioria para passá-la.
A primeira candidatura legislativa do ex-presidente Kirchner (2003-2007), hoje na condução do Partido Justicialista
(peronista, do governo), seria
uma maneira de "puxar votos"
para postulantes governistas
na Província de Buenos Aires,
que reúne 38% do eleitorado do
país e a base do kirchnerismo: a
periferia pobre da Grande Buenos Aires.
E é justamente nessa faixa do
eleitorado que a hegemonia dos
Kirchner estaria ameaçada, por
receber primeiro os efeitos do
aumento da pobreza e do desemprego causados pela queda
da atividade econômica. Daí
um dos motivos de ir às urnas
antes do terceiro e quarto trimestres, quando se prevê que
os impactos da crise econômica
sejam maiores.
O próprio Kirchner participou do ato em que Cristina
anunciou a antecipação: "Há
que dedicar todo o esforço a
cuidar da governabilidade. Para
cuidar também do emprego e
da indústria", pregou.
Para o analista Rodrigo Mallea, o governo reforçará sua lista na Província com pesos-pesados como os ministros Sérgio
Massa (chefe-de-gabinete) e
Graciela Ocaña (Saúde), o que
levaria a uma reestruturação
do ministério de Cristina.
"A crise é pretexto para o cálculo político", disse Mallea.
Além da queda de popularidade que vem desde o conflito
com o setor rural, iniciada no
ano passado (Cristina é aprovada hoje por um terço da população), o governo enfrenta baixas
na base aliada e a reorganização
da oposição.
Com a antecipação, o governo encurta os prazos de diálogo
interno dos partidos e grupos
opositores e "dobra a aposta"
eleitoral, diz Mallea.
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