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América do Sul dá salto em compra de armas
Levantamento mostra que aquisições de países da região aumentaram 150% nos últimos cinco anos; no mundo, aumento foi de 22%
Brasil é o 3º comprador sul-americano, atrás de Chile e Venezuela, alavancado por ideia de país como potência global, avalia especialista
13.mar.2010/France Presse
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Hugo Chávez na cabine de um dos 18 caças K8W comprados da China
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
As compras de armas pela
América do Sul cresceram
150% nos últimos cinco anos na
comparação com o período entre 2000 e 2004, enquanto no
mundo o aumento foi de 22%,
mostram dados apresentados
hoje pelo Instituto Internacional de Pesquisas da Paz de Estocolmo (Sipri).
O salto é maior do que o de
qualquer outra parte do planeta. Ainda que as aquisições sul-americanas continuem sendo
uma parcela menor do total
global, o instituto mostra preocupação com o rápido crescimento e com o que que vê como
"indícios claros de comportamento competitivo" -um país
reagindo à compra por outro.
Tensões fronteiriças históricas ou recentes não são o único
fator a pesar para essa aceleração. "O Brasil em particular
tem ligado desenvolvimento
com a ideia de que é preciso adquirir uma força militar mais
moderna para se tornar uma
potência global, como o presidente Lula tem enfatizado nos
últimos anos", disse por telefone Mark Bromley, especialista
do Sipri na região.
Os dados, detalhados à Folha
antecipadamente, tomam como base as encomendas de armas convencionais pesadas
que foram entregues (e não
apenas solicitadas) para cada
país, o que cria expectativa de
que o avanço persista.
O Brasil foi o terceiro comprador de armas da região e o
30º do planeta no período em
foco, atrás do Chile (rival histórico do Peru e 13º comprador
global) e da Venezuela (o 17º,
constantemente em tensão
com a Colômbia desde que Hugo Chávez e Álvaro Uribe chegaram ao poder em Caracas e
Bogotá). Em seguida vêm exatamente Peru e Colômbia.
No quinquênio anterior, o
país era o maior comprador da
América do Sul e o 24º do mundo. Mas isso não significa que
se gastou menos. Apenas que
outros governos transformaram palavras em atos, e que
tensões domésticas no sudeste
da Ásia, em países como Malásia e Indonésia, catapultaram
essa parte do mundo para um
lugar mais alto da lista.
"As importações [de armas]
pelo Brasil se mantiveram estáveis nos últimos dez anos,
mas o volume global subiu",
afirmou Bromley. Apesar do
avanço dos vizinhos, nenhum
deles manteve trajetória tão
perene quanto a brasileira.
"Com as encomendas que o
Brasil tem feito mais recentemente [como os caças do projeto FX-2, que renovará a frota
da FAB], é provável que o país
suba no próximo ranking", afirma o especialista.
Falta de confiança
O pesquisador aponta ainda
para a necessidade de maior
transparência nas transações
de Defesa no subcontinente ("o
histórico da América Latina aí
ainda é volúvel") e de medidas
que reforcem a tíbia confiança
entre governos.
Ele ressalta, no entanto, que
parte desse salto se deve ao fato
de as compras terem ficado
praticamente congeladas na região nos anos 80 e 90.
No bolo global, a fatia sul-americana ainda é pequena -a
América, EUA inclusos, adquiriu só 11% dos novos armamentos nesse intervalo. A Ásia e a
Oceania, líderes, compraram
41% (a entidade não dividiu a
tabela por sub-região, nem forneceu dados suficientes para o
cálculo).
A lista é encabeçada pela China, que tem gradualmente renovado seu arsenal para se
equiparar a outras potências e
recebeu 9% das armas do planeta. Em seguida vêm países
com questões de fronteira como Índia, Coreia do Sul, Emirados Árabes Unidos e Grécia. Israel é o sexto, e os EUA, com o
poder bélico há muito consolidado, são os oitavos. O Irã é o
29º, e a Rússia, a 80ª.
De todas as entregas no período, 27% foram de aeronaves
militares. Os americanos continuam sendo os principais vendedores de armas, com 30% da
oferta mundial, seguidos pela
Rússia (23%). A China é apenas
o nono, mas os pesquisadores
chamam atenção para seu papel ascendente.
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