São Paulo, domingo, 15 de abril de 2007

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[+]entrevista

Falta virtude cívica, afirma ex-presidente

DE CARACAS

Com a oposição em frangalhos, a liderança da campanha contra uma nova Carta para o Equador ficou com o ex-presidente Osvaldo Hurtado (1981-1984). Aos 67 anos e até há pouco afastado da arena política, sua participação baseou-se principalmente nas duras críticas contra a falta de "virtudes cívicas" de políticos e cidadãos do seu país.
"Há muitos cidadãos que consideram a consulta popular e a Constituinte um grave risco para o futuro da economia e da democracia. Era necessário que alguém viesse para dizer-lhes que o seu pensamento é correto", disse Hurtado à Folha, por telefone.
Hurtado, que também presidiu a última Assembléia Constituinte, aprovada em 1998, disse que o problema do Equador não se resolverá com uma nova Carta. "A menos que se encontre a pedra filosofal que permita resolver todos os problemas políticos do país, não creio que a conduta dos atores políticos e dos cidadãos possa ser mudada", afirmou.
Em tom duro contra o seu país, disse que "o problema do Equador não são as instituições e as leis, o problema é a conduta de muitos cidadãos e de muitos líderes, que não corresponde à de uma sociedade democrática, com o debate racional dos problemas, a subordinação do interesse particular ao interesse público e o cumprimento estrito da lei".
Hurtado também disse se opor a uma nova Constituinte devido ao tipo de liderança exercida pelo atual presidente, o esquerdista Rafael Correa.
"Veja você: temos um presidente educado na Europa [Bélgica] e nos EUA, que pôde ver como funciona a economia nesses lugares. Eu não posso entender como um cidadão com esses antecedentes conduz a economia de forma populista e conduz a democracia de maneira autoritária", afirmou o ex-presidente, considerado de centro-direita. "No Equador, a cultura populista, a cultura autoritária, a cultura caudilhista está fortemente enraizada."
Mas Hurtado também tem sido duramente atacado. Recentemente, Correa chamou-o de "cadáver político insepulto". Já o influente analista César Montúfar escreveu que "Hurtado não vê ou não quer ver que, se tem alguém com maior responsabilidade nos problemas do desenho constitucional, é ele". (FM)


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