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Berlusconi tem vitória folgada na Itália
Milionário sobe à chefia do governo pela terceira vez; comunistas deixam Parlamento e xenófobos da Liga Norte avançam
Mesmo fortalecido, líder da direita terá de buscar apoio fora de sua coligação; ele convida centro-esquerda a negociar reforma eleitoral
Chris Helgren - 10.abr.08/Reuters
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Silvio Berlusconi cercado de partidários em comício da campanha no Coliseu; ontem, após vitória, ele só deu entrevista pela TV
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A ROMA
O milionário Silvio Berlusconi volta ao governo da Itália,
após um curto intervalo de dois
anos, com uma vantagem sobre
Walter Veltroni, o candidato de
centro-esquerda, maior do que
aparecia nas pesquisas divulgadas na reta final da campanha.
Volta também com uma oferta de diálogo rara em um político que provoca amores e ódios.
"Estamos prontos a trabalhar
junto com a oposição sobre as
reformas", disse Berlusconi em
telefonema ao programa "Porta a Porta", da Rai-1, um dos
três canais da televisão estatal.
Mas o velho Berlusconi apareceu também no telefonema,
ao insistir em que houve irregularidades na eleição de 2006,
na qual foi derrotado por Romano Prodi, o líder da coalizão
de centro-esquerda derrubada
em janeiro ao perder a maioria
no Senado.
A principal das reformas sobre as quais o vencedor promete diálogo é a política, para modificar um sistema eleitoral que
é um convite à instabilidade e
que dá aos partidos pequenos
poder de chantagem sobre seus
próprios sócios em coalizões,
de esquerda ou direita.
Apuradas mais de 99% das
seções, a coligação liderada por
Berlusconi tinha 46,8% dos votos para a Câmara dos Deputados, cerca de nove pontos a
mais que os 37,6% da coalizão
de Veltroni. No Senado, para o
qual se esperava um empate, a
vantagem de Berlusconi foi
também de cerca de nove pontos percentuais (47,3% a 38%).
As projeções feitas pela Rai-1
davam a Berlusconi 340 cadeiras na Câmara, maioria absoluta das 630 vagas, contra apenas
241 para a coligação entre o PD
(Partido Democrático, de Veltroni) e o partido Itália dos Valores, liderada pelo ex-juiz Antonio di Pietro, responsável
principal pela chamada "Operação Mãos Limpas", que dinamitou o sistema partidário italiano, nos anos 90.
No Senado, a diferença pró-Berlusconi seria de 163 a 141,
mas um cálculo mais preciso
dependia da definição no Lázio,
a região que circunda Roma, na
qual havia um virtual empate. A
Lei Eleitoral italiana dá um
"prêmio de maioria" ao partido
mais votado, o que lhe assegura
sempre 55% das cadeiras na
Câmara.
Na Câmara, o "prêmio" leva
em conta a votação nacional.
No Senado, também há um prêmio, mas distribuído regionalmente -quem ganhar o Lázio,
por exemplo, leva um prêmio, o
que pode modificar a composição da Casa.
Estabilidade
A vitória relativamente folgada de Berlusconi abre caminho
para uma maior estabilidade do
seu futuro governo. Mas seus
adversários se apressaram a dizer que quem mais ganhou foi a
Liga Norte, um dois grupos coligados com o PdL (Povo da Liberdade), o partido de Berlusconi. O outro é o pequeno Movimento pela Autonomia do Sul
(na verdade, da Sicília).
A Liga Norte é um grupo xenófobo, forte no rico norte italiano e que tem como agenda
principal a independência do
que chama de Padânia, embora
publicamente fale apenas em
"mais federalismo". A Liga ficou com 9% dos 46% obtidos
pela coligação de Berlusconi.
No pronunciamento em que
admitiu a derrota, Veltroni disse que o resultado mostra "um
reforço da Liga" com a formação de uma maioria que "terá
dificuldades em manter-se unida porque as diferenças programáticas persistem".
Na mesma linha manifestou-se a União de Centro, o maior
grupo que sobrou da outrora
hegemônica Democracia Cristã: "O governo estará na mão da
Liga", acha Ferdinando Adornato, um de seus líderes.
São exatamente as disputas
no interior de cada coligação
que tornam instável a governança na Itália. O próprio Berlusconi caiu nove meses depois
da posse, na primeira vez em
que chegou ao poder, em 1994.
Romano Prodi, o premiê que
governou até janeiro, ficou dois
anos no cargo (o mandato teórico é de cinco anos).
Por isso, há um clamor pela
reforma política. Nesta eleição,
em que as coligações principais
foram formadas por um número menor de partidos, o voto
nos grandes grupos mal passa
de um terço do total. O Povo da
Liberdade ficou com 36% e o
PD de Veltroni levou 33%.
Logo, Berlusconi dependerá
não apenas da Liga Norte e do
Movimento pela Autonomia,
mas também de trazer de volta
para seu lado a União de Centro
(5,6%), único dos partidos fora
das coligações principais que
superou a cláusula de barreira
(4% dos votos) e, portanto, estará representado tanto na Câmara como no Senado.
Quem não chegou aos 4% foi
a coligação Esquerda Arco-Íris,
formada pela Refundação Comunista e pelos "verdes". Com
isso desaparece do Parlamento
o que ainda havia de comunismo na Itália, único país do Ocidente em que um PC esteve
próximo de chegar ao poder pelo voto, nos anos 70.
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