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CUBA
Em raro discurso sem censura no país, o ex-presidente americano condena embargo à ilha, mas pede liberdade política
Ao vivo na TV cubana, Carter critica o regime de Fidel
DA REDAÇÃO
O ex-presidente norte-americano Jimmy Carter (1977-1981) condenou o embargo que os Estados Unidos impõem a Cuba há quatro
décadas, porém pediu ao ditador
de Cuba, Fidel Castro, que abra as
prisões do país para inspeções da
Cruz Vermelha.
Em histórica visita à ilha caribenha, Carter fez seu discurso em
espanhol e na presença de Fidel.
Excepcionalmente, o encontro foi
transmitido pela TV cubana ao vivo e sem censura.
"Queria pedir a vocês que permitam ao Comitê Internacional
da Cruz Vermelha que visite as
prisões e que recebam um enviado das Nações Unidas para os direitos humanos com o objetivo de
examinar temas como o dos prisioneiros de consciência", disse.
O antigo mandatário dos EUA
foi mais longe no tom crítico. Disse que "Cuba adotou um governo
socialista que não permite a seu
povo que organize nenhum tipo
de movimento de oposição".
As críticas do americano já
eram esperadas. Carter, que é o
primeiro presidente dos EUA, no
cargo ou fora dele, a visitar Cuba
desde 1928, havia dito, durante
uma visita a escolas na noite de
anteontem, que discutiria "as diferenças de enfoque" que os dois
têm sobre governo no discurso
pela TV de ontem à noite.
"Nos EUA, acreditamos que seja muito importante ter absoluta
liberdade de expressão e liberdade de associação."
Fidel, que está no poder há 43
anos, argumentou, na mesma
oportunidade, que o conceito de
democracia nasceu na antiga Atenas, com menos de 20 mil cidadãos governando cerca de 50 mil
não-cidadãos e 80 mil escravos.
Fidel comparou as democracias
modernas ocidentais a uma Atenas na qual uma minoria domina
a maioria e disse que Cuba busca
uma "sociedade justa e com oportunidades iguais". Segundo ele,
Cuba busca "um sonho de justiça,
liberdade, democracia e direitos
humanos verdadeiros".
Acusações
A visita de Carter, que termina
sexta-feira, está encoberta pela
polêmica em torno de acusações
americanas a Cuba. O governo
americano reconheceu ontem
não ter provas sobre o suposto desenvolvimento de armas biológicas por Cuba, mas disse que tem
razões para estar preocupado.
"Temos preocupação sobre a
capacidade de investigação e desenvolvimento de Cuba na guerra
biológica", disse o porta-voz da
Casa Branca, Ari Fleischer.
A acusação de que Cuba estaria
desenvolvendo armas químicas e
fornecendo biotecnologia a países
inimigos dos EUA havia sido feita
há duas semanas pelo subsecretário de Estado americano John
Bolton, em discurso batizado de
"Além do Eixo do Mal".
O "eixo do mal" foi a denominação dada pelo presidente George W. Bush a Iraque, Irã e Coréia
do Norte.
Após visitar um centro de biotecnologia em Havana, anteontem, Carter havia dito não ter provas sobre a acusação de seu governo e afirmou que qualquer um
que tivesse indícios de que Cuba
está desenvolvendo armas de destruição em massa deveria aproveitar a oferta feita por Fidel para
inspecionar livremente suas instalações.
Bush afirmou ontem que apoiará todos os cubanos que "pedirem
liberdade". "Minha mensagem
aos cubanos é: peçam liberdade,
vocês têm um presidente do seu
lado", disse Bush. "Aprecio a concentração de Carter nos direitos
humanos. Creio que isso seja importante para Cuba, onde não há
direitos humanos", completou.
Mesmo rumo
Alguns analistas haviam indicado que a visita de Carter poderia
atrapalhar a política de linha dura
da administração Bush.
"Nada mudou em minha política exterior. Fidel Castro é um ditador, um repressor. Ele tem de
convocar eleições livres, dar liberdade de imprensa, liberar seus
prisioneiros e impulsionar o mercado livre", afirmou o presidente
americano.
Hoje dedicado a iniciativas pela
defesa dos direitos humanos e a
uma fundação que leva seu nome,
Carter foi presidente pelo Partido
Democrata, entre os mandatos
dos republicanos Gerald Ford e
Ronald Reagan.
Com agências internacionais
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