São Paulo, quarta-feira, 15 de maio de 2002

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CUBA

Em raro discurso sem censura no país, o ex-presidente americano condena embargo à ilha, mas pede liberdade política

Ao vivo na TV cubana, Carter critica o regime de Fidel

DA REDAÇÃO

O ex-presidente norte-americano Jimmy Carter (1977-1981) condenou o embargo que os Estados Unidos impõem a Cuba há quatro décadas, porém pediu ao ditador de Cuba, Fidel Castro, que abra as prisões do país para inspeções da Cruz Vermelha.
Em histórica visita à ilha caribenha, Carter fez seu discurso em espanhol e na presença de Fidel. Excepcionalmente, o encontro foi transmitido pela TV cubana ao vivo e sem censura.
"Queria pedir a vocês que permitam ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha que visite as prisões e que recebam um enviado das Nações Unidas para os direitos humanos com o objetivo de examinar temas como o dos prisioneiros de consciência", disse.
O antigo mandatário dos EUA foi mais longe no tom crítico. Disse que "Cuba adotou um governo socialista que não permite a seu povo que organize nenhum tipo de movimento de oposição".
As críticas do americano já eram esperadas. Carter, que é o primeiro presidente dos EUA, no cargo ou fora dele, a visitar Cuba desde 1928, havia dito, durante uma visita a escolas na noite de anteontem, que discutiria "as diferenças de enfoque" que os dois têm sobre governo no discurso pela TV de ontem à noite.
"Nos EUA, acreditamos que seja muito importante ter absoluta liberdade de expressão e liberdade de associação."
Fidel, que está no poder há 43 anos, argumentou, na mesma oportunidade, que o conceito de democracia nasceu na antiga Atenas, com menos de 20 mil cidadãos governando cerca de 50 mil não-cidadãos e 80 mil escravos.
Fidel comparou as democracias modernas ocidentais a uma Atenas na qual uma minoria domina a maioria e disse que Cuba busca uma "sociedade justa e com oportunidades iguais". Segundo ele, Cuba busca "um sonho de justiça, liberdade, democracia e direitos humanos verdadeiros".

Acusações
A visita de Carter, que termina sexta-feira, está encoberta pela polêmica em torno de acusações americanas a Cuba. O governo americano reconheceu ontem não ter provas sobre o suposto desenvolvimento de armas biológicas por Cuba, mas disse que tem razões para estar preocupado.
"Temos preocupação sobre a capacidade de investigação e desenvolvimento de Cuba na guerra biológica", disse o porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer.
A acusação de que Cuba estaria desenvolvendo armas químicas e fornecendo biotecnologia a países inimigos dos EUA havia sido feita há duas semanas pelo subsecretário de Estado americano John Bolton, em discurso batizado de "Além do Eixo do Mal".
O "eixo do mal" foi a denominação dada pelo presidente George W. Bush a Iraque, Irã e Coréia do Norte.
Após visitar um centro de biotecnologia em Havana, anteontem, Carter havia dito não ter provas sobre a acusação de seu governo e afirmou que qualquer um que tivesse indícios de que Cuba está desenvolvendo armas de destruição em massa deveria aproveitar a oferta feita por Fidel para inspecionar livremente suas instalações.
Bush afirmou ontem que apoiará todos os cubanos que "pedirem liberdade". "Minha mensagem aos cubanos é: peçam liberdade, vocês têm um presidente do seu lado", disse Bush. "Aprecio a concentração de Carter nos direitos humanos. Creio que isso seja importante para Cuba, onde não há direitos humanos", completou.

Mesmo rumo
Alguns analistas haviam indicado que a visita de Carter poderia atrapalhar a política de linha dura da administração Bush.
"Nada mudou em minha política exterior. Fidel Castro é um ditador, um repressor. Ele tem de convocar eleições livres, dar liberdade de imprensa, liberar seus prisioneiros e impulsionar o mercado livre", afirmou o presidente americano.
Hoje dedicado a iniciativas pela defesa dos direitos humanos e a uma fundação que leva seu nome, Carter foi presidente pelo Partido Democrata, entre os mandatos dos republicanos Gerald Ford e Ronald Reagan.


Com agências internacionais


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