São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Política dos EUA para latinos está obsoleta, diz documento

Painel de especialistas cobra reforma imigratória e fim das barreiras para o álcool

Texto cita laços da região com Ásia e Europa e afirma que, "se houve uma era de hegemonia americana na América Latina, ela acabou"


FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO

"Se houve uma era de hegemonia dos EUA na América Latina, ela acabou", e a nova conjuntura exige dos americanos uma reformulação de sua política para a região, que passa pela aprovação de uma abrangente reforma imigratória e pela redução, e até eliminação, dos subsídios ao setor agrícola e das tarifas ao álcool brasileiro.
O diagnóstico e as recomendações -com mira na troca de comando na Casa Branca e na renovação do Congresso- fazem parte do estudo "Relações EUA-América Latina - Uma Nova Diretriz para uma Nova Realidade", produzido por um painel de especialistas coordenado pelo influente Council on Foreign Relations, com sede em Nova York.
Nos últimos 20 anos, diz o texto, a América Latina mudou: houve crescimento e a região tornou-se importante fornecedora de energia, minérios e alimentos, o que promoveu seus laços com Europa e Ásia, em especial. São essas novas linhas de força -também citam o esforço diplomático Sul-Sul do Brasil- que tornam "obsoleta" a política americana "baseada na idéia de que os EUA são o ator externo mais importante" por aqui.
Perpassa o estudo a recomendação de que os idealizadores da política externa dos EUA mudem "a maneira de pensar" a região, ilustrada com frases como "não é possível remodelar políticas", mas apoiá-las, ou "o destino da América Latina está principalmente em suas próprias mãos".
Lançado ontem, o documento, redigido por ex-diplomatas, militares e altos conselheiros de empresas de investimento, foi coordenado por Charlene Barshefsky, ex-representante de Comércio da Casa Branca, e teve a participação, entre outros, do general James T. Hill, ex-chefe do Comando Sul das Forças Armadas americanas.
Peter Hakim, do centro de estudos Inter-American Dialogue, endossou o documento, mas pediu para fazer um aparte. Disse que as relações da Casa Branca com a região serão mais construtivas quando os "EUA respeitarem as leis internacionais e acordos multilaterais, diminuírem sua confiança no uso da força militar e eliminarem o uso da tortura (especialmente quando pregam respeito a direitos humanos)".
Para os especialistas, os americanos devem aprofundar as relações com o Brasil -dizem que a cooperação em energia alternativa é uma "oportunidade única" - e também com o México e redefinir a pauta com Venezuela e Cuba.
No caso venezuelano, o documento aconselha a Casa Branca a manter canais diplomáticos com Caracas e a acompanhar de perto os movimentos do presidente Hugo Chávez, mas desestimula duelos diretos.
Recomenda, por exemplo, que os EUA "resistam a reagir unilateralmente" ao pronunciamento que a Interpol fará hoje sobre a autenticidade dos documentos que, segundo alega o governo da Colômbia, contêm provas de laços entre Chávez e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Já para Cuba, o texto prega o fim do embargo econômico, precedido da eliminação de outras restrições. "Os EUA devem assegurar aos cubanos, principalmente aos jovens, que querem uma relação respeitosa com a ilha."


Texto Anterior: Nuclear: Irã entrega à UE projeto para um "consórcio"
Próximo Texto: Cúpula de Lima não dará aval ao álcool
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.