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Política dos EUA para latinos está obsoleta, diz documento
Painel de especialistas cobra reforma imigratória e fim das barreiras para o álcool
Texto cita laços da região com Ásia e Europa e afirma que, "se houve uma era de hegemonia americana na América Latina, ela acabou"
FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO
"Se houve uma era de hegemonia dos EUA na América Latina, ela acabou", e a nova conjuntura exige dos americanos
uma reformulação de sua política para a região, que passa pela aprovação de uma abrangente reforma imigratória e pela
redução, e até eliminação, dos
subsídios ao setor agrícola e das
tarifas ao álcool brasileiro.
O diagnóstico e as recomendações -com mira na troca de
comando na Casa Branca e na
renovação do Congresso- fazem parte do estudo "Relações
EUA-América Latina - Uma
Nova Diretriz para uma Nova
Realidade", produzido por um
painel de especialistas coordenado pelo influente Council on
Foreign Relations, com sede
em Nova York.
Nos últimos 20 anos, diz o
texto, a América Latina mudou:
houve crescimento e a região
tornou-se importante fornecedora de energia, minérios e alimentos, o que promoveu seus
laços com Europa e Ásia, em especial. São essas novas linhas
de força -também citam o esforço diplomático Sul-Sul do
Brasil- que tornam "obsoleta"
a política americana "baseada
na idéia de que os EUA são o
ator externo mais importante"
por aqui.
Perpassa o estudo a recomendação de que os idealizadores da política externa dos
EUA mudem "a maneira de
pensar" a região, ilustrada com
frases como "não é possível remodelar políticas", mas apoiá-las, ou "o destino da América
Latina está principalmente em
suas próprias mãos".
Lançado ontem, o documento, redigido por ex-diplomatas,
militares e altos conselheiros
de empresas de investimento,
foi coordenado por Charlene
Barshefsky, ex-representante
de Comércio da Casa Branca, e
teve a participação, entre outros, do general James T. Hill,
ex-chefe do Comando Sul das
Forças Armadas americanas.
Peter Hakim, do centro de
estudos Inter-American Dialogue, endossou o documento,
mas pediu para fazer um aparte. Disse que as relações da Casa Branca com a região serão
mais construtivas quando os
"EUA respeitarem as leis internacionais e acordos multilaterais, diminuírem sua confiança
no uso da força militar e eliminarem o uso da tortura (especialmente quando pregam respeito a direitos humanos)".
Para os especialistas, os americanos devem aprofundar as
relações com o Brasil -dizem
que a cooperação em energia
alternativa é uma "oportunidade única" - e também com o
México e redefinir a pauta com
Venezuela e Cuba.
No caso venezuelano, o documento aconselha a Casa Branca
a manter canais diplomáticos
com Caracas e a acompanhar
de perto os movimentos do
presidente Hugo Chávez, mas
desestimula duelos diretos.
Recomenda, por exemplo,
que os EUA "resistam a reagir
unilateralmente" ao pronunciamento que a Interpol fará
hoje sobre a autenticidade dos
documentos que, segundo alega o governo da Colômbia, contêm provas de laços entre Chávez e as Farc (Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia).
Já para Cuba, o texto prega o
fim do embargo econômico,
precedido da eliminação de outras restrições. "Os EUA devem
assegurar aos cubanos, principalmente aos jovens, que querem uma relação respeitosa
com a ilha."
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