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Cúpula de Lima não dará aval ao álcool
Documento do encontro de líderes da América Latina, Caribe e União Européia é vago sobre energia e imigração
Eitan Abramovich/France Press
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Bandeiras no Museu da Nação em Lima, onde ocorrerá a cúpula
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LIMA
Por mais que a 5ª Cúpula
ALC-UE (América Latina-Caribe e União Européia) se concentre no que os governantes
vão chamar de "desafios interrelacionados", como a pobreza
e o desenvolvimento sustentável, o que engloba ambiente e
mudança climática, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não
sairá dela com uma declaração
de apoio à sua obsessão, que é a
de consagrar o álcool como matéria-prima de uma "revolução" energética no planeta.
O documento final, a ser emitido amanhã, é vago nesse tema
como em todos os demais, de
acordo com o rascunho a que a
Folha teve acesso.
Limita-se a pregar "cooperação" nas seguintes áreas: "diversificação de fontes de energia; melhor acesso a produção e
uso de energias limpas e uso
menos intensivo do carvão; desenvolvimento de novas tecnologias; produção e uso de fontes
de energia ambientalmente
sustentáveis". A palavra etanol
nem aparece no texto, embora
possa ser entrevista na menção
a "energia limpa".
A superficialidade do documento combina com o fato de
que, após uma fase de paixão
intensa pelo álcool, no mundo
todo, veio uma barragem de críticas, centradas, é verdade, no
etanol feito de milho (o dos
EUA), mas que acabou contaminando todo o universo do álcool combustível, inclusive o
brasileiro, de cana-de-açúcar.
De Lima, no entanto, o etanol
sai sem ser inteiramente vilão,
mas também sem ser sacramentado como a matriz da revolução energética, como defende Lula.
A Folha perguntou ontem a
Karl Falkenberg, diretor-geral-adjunto de Comércio Exterior
da Comissão Européia e o seu
principal negociador técnico,
qual era o seu suspeito preferido no caso da disparada mundial de preços de alimentos, se
os subsídios à agricultura dos
países ricos ou se o suposto ou
real desvio para os biocombustíveis de plantios para consumo humano.
"Nem um nem o outro. O elemento-chave é o aumento rápido da demanda, em especial da
Índia e da China, não acompanhado de crescimento da produção", respondeu.
É tese idêntica à que Lula
tem defendido. Mas, ao contrário do presidente brasileiro,
Falkenberg não inocenta completamente o etanol. "É certamente um dos elementos" (para o aumento de preços).
Ele diz, no entanto, que a tecnologia resolverá o problema,
quando ela permitir que se utilize biomassa em vez de matéria alimentícia para produzir o
biocombustível chamado de
segunda geração. O Brasil é líder mundial no de primeira geração, o álcool.
Nacionalização
A superficialidade do texto,
ainda em discussão, aparece
também no tema migração, que
está no topo das preocupações
em boa parte da Europa, com
reflexos eleitorais, e na América Latina.
O rascunho joga a questão
para um futuro "diálogo estruturado e abrangente, de forma a
identificar nossos desafios comuns e áreas de cooperação
mútua".
Ante um documento insípido, é previsível que a expectativa se transfira para os diálogos
entre os governantes, longe dos
olhos e ouvidos do público.
Por enquanto, a principal
preocupação européia não é o
suspeito usual, o venezuelano
Hugo Chávez, mas o boliviano
Evo Morales, por conta da nacionalização, em 1º de maio, de
uma empresa de telefonia de
capital italiano. Karl Falkenberg chamou ontem de ação
"extremamente desafortunada" a nacionalização de empresas. "É um sinal para que as empresas ajam com precaução nos
países em que ocorre."
Sempre segundo o funcionário europeu, a ação da Bolívia
torna mais difícil ainda a negociação para um acordo comercial entre a União Européia e a
Comunidade Andina (Peru,
Colômbia, Equador e Bolívia).
Quanto à idêntica negociação com o Mercosul, Falkenberg sepulta qualquer expectativa de retomada em Lima (a negociação parou em 2004).
"Os europeus não estão dispostos a apresentar uma proposta
detalhada sobre agricultura enquanto não ficar claro que concessões terão que fazer na Rodada Doha. E o Mercosul tampouco está disposto a negociar
bens industriais sem saber o
que acontecerá com Doha", diz.
O jornalista CLÓVIS ROSSI viajou a convite da
Comissão Européia
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