São Paulo, sexta-feira, 15 de maio de 2009

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Junta de Mianmar estende a prisão de Nobel da Paz

Suu Kyi, que, livre, seria candidata em 2010, é acusada de violar regras da detenção

Hillary Clinton exige que militares à frente do país libertem a oposicionista, que passou boa parte dos últimos 19 anos detida

Ahn Young-joon/Associated Press
Mianmarenses na Coreia do Sul manifestam apoio à líder opositora


DA REDAÇÃO

A principal líder da oposição em Mianmar (antiga Birmânia), Aung San Suu Kyi, 63, foi acusada ontem pelo governo militar que a mantém em prisão domiciliar pela maior parte dos últimos 19 anos de ter infringido as regras de sua detenção depois que um americano invadiu sua casa.
O homem, John William Yettaw, descrito pela imprensa local como um estudante de psicologia de 53 anos, chegou até a casa de Suu Kyi, à beira de um lago, a nado. Lá permaneceu por dois dias, o que, segundo o grupo no poder, viola o isolamento imposto à líder política.
Prestes a ganhar a liberdade no fim deste mês, ela foi transferida para uma penitenciária, será julgada e pode pegar de 3 a 5 anos de prisão.
A extensão de sua detenção já impedirá que tome parte nas eleições, marcadas para o ano que vem. Seu partido acusa o governo de usar o incidente como subterfúgio para inviabilizar a candidatura de Suu Kyi.
Vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 1991 por seus esforços para democratizar o país e filha de Aung San, líder da independência local, Suu Kyi era o principal nome da Liga Nacional pela Democracia quando o partido conquistou a maioria dos votos nas eleições parlamentares de 1990.
A junta militar à frente do governo desde um golpe em 1962, no entanto, impediu que a legenda governasse o país, argumentando que era preciso antes promulgar uma Constituição para Mianmar, uma das nações mais pobres da Ásia.
A nova Carta só foi aprovada no ano passado. Rascunhado pelos própria junta, o documento reserva 25% dos assentos do Parlamento para os militares e diz que, em caso de estado de emergência, é o Exército que assume o poder, além de seu comandante ter a incumbência de designar alguns dos principais ministros.
O processo de aprovação da nova Constituição, em referendo no ano passado, foi confuso. Apesar da morte de mais de 40 mil pessoas em decorrência da passagem de um ciclone pelo país, os militares mantiveram a votação, adiada em duas semanas na zonas mais devastadas.
A oposição disse que isso facilitou fraudes e denunciou que pessoas chegaram a ser removidas de centros de refugiados para que os locais servissem como colégios eleitorais.

EUA e ONU protestam
Os advogados de Suu Kyi dizem que não é a primeira vez que o tal estudante americano tenta invadir sua casa.
Ele já havia alcançado a residência no ano passado, mas foi retirado do local. Segundo o advogado Kyi Win, desta vez "ele disse estar muito cansado", e "passou a noite" ali.
A ameaça de possível extensão da prisão de Suu Kyi gerou protestos de vários países. A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, instou Mianmar a libertar imediatamente a líder da oposição.
Hillary se disse "profundamente preocupada" com a acusação "sem fundamentos" feita contra Suu Kyi e disse que a junta militar procurou um "pretexto" para restringir sua liberdade.
O secretário-geral da ONU, o sul-coreano Ban Ki-moon, também expressou "grande preocupação" com o incidente.
Segundo comunicado de sua porta-voz, Ban identifica na líder opositora "uma parceira fundamental para o diálogo de reconciliação nacional em Mianmar."
Ele pediu ao governo local que "não tome nenhuma outra medida que possa prejudicar esse processo".


Com agências internacionais


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