São Paulo, sábado, 15 de maio de 2010

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Dissidente condenada é libertada em Cuba

Dania Virgen García, detida em abril por suposta agressão a sua filha, diz à Folha que prisão foi uma "manobra" política

Jornalista opositora, cuja detenção foi criticada por órgãos internacionais, tem pena de 20 meses na cadeia revertida em multa de R$ 23


DA REDAÇÃO

Uma corte de apelações em Havana deu liberdade ontem a Dania Virgen García, jornalista dissidente cubana que fora detida em 20 de abril e condenada três dias depois a 20 meses de prisão. Ela era acusada de ter agredido sua filha de 23 anos.
A libertação foi vista como uma vitória pela comunidade dissidente de Cuba, num momento de pressão interna e externa sobre o regime castrista.
García disse à Folha por telefone que considera sua prisão uma "manobra" política. Ela negou ter agredido a filha (que prestara queixa), de quem diverge politicamente.
"Tivemos uma briga normal de mãe e filha, como acontece em qualquer lugar", disse. "Sou correspondente [de sites cubanos no exterior] e tenho uma trajetória [de oposição ao regime]. Se aproveitaram da briga para tentar me silenciar."
Pouco antes de ser presa, García, 41, havia participado de atos de protesto do grupo Damas de Branco, formado por mulheres de dissidentes presos. Segundo o site CubaNet, a jornalista foi condenada pela Justiça, em 23 de abril, por "exercício arbitrário do direito", "num julgamento sem advogado de defesa".
A prisão foi criticada pela Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), que viu indícios de caráter político na pena.
García conta que, em sua primeira semana em Manto Negro -presídio feminino de alta segurança nos arredores de Havana-, testemunhou o suicídio de uma mulher que havia sido condenada a dez meses de prisão por vender bolsas no mercado negro.
Na semana seguinte, "as detentas ficaram sabendo que eu era uma presa política e quiseram me conhecer, para que eu contasse ao mundo seus sofrimentos", disse.
No último dia 7, a jornalista deixou a cadeia sob medida cautelar e foi ordenada a esperar em casa o julgamento de apelação, ocorrido ontem.
Sua liberdade está condicionada ao pagamento de multa de 300 pesos cubanos (cerca de R$ 23) -descontados os 18 dias em que García esteve presa, terá de pagar 282 pesos. É cerca de 70% do salário médio mensal dos cubanos.
A blogueira dissidente Yoani Sánchez divulgou no Twitter campanha para arrecadar o dinheiro da multa.

Pressão e repressão
O regime castrista tem estado sob maior pressão desde fevereiro, quando morreu o dissidente preso Orlando Zapata, após 85 dias de greve de fome.
Desde então, outros opositores iniciaram jejum em protesto -o jornalista Guillermo Fariñas está sem comer há mais de dois meses.
Para García, a pressão não resultou em avanços nos direitos humanos. "Tem havido ainda mais repressão e violência."
Dissidentes alegam que há 200 opositores presos arbitrariamente em Cuba. O governo, por sua vez, nega que os detidos sejam presos políticos e acusa os dissidentes de serem financiados pelos EUA para desestabilizar o regime.
(PAULA ADAMO IDOETA)

Com agências internacionais



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