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Dissidente condenada é libertada em Cuba
Dania Virgen García, detida em abril por suposta agressão a sua filha, diz à Folha que prisão foi uma "manobra" política
Jornalista opositora, cuja detenção foi criticada por órgãos internacionais, tem pena de 20 meses na cadeia revertida em multa de R$ 23
DA REDAÇÃO
Uma corte de apelações em
Havana deu liberdade ontem a
Dania Virgen García, jornalista
dissidente cubana que fora detida em 20 de abril e condenada
três dias depois a 20 meses de
prisão. Ela era acusada de ter
agredido sua filha de 23 anos.
A libertação foi vista como
uma vitória pela comunidade
dissidente de Cuba, num momento de pressão interna e externa sobre o regime castrista.
García disse à Folha por telefone que considera sua prisão
uma "manobra" política. Ela
negou ter agredido a filha (que
prestara queixa), de quem diverge politicamente.
"Tivemos uma briga normal
de mãe e filha, como acontece
em qualquer lugar", disse. "Sou
correspondente [de sites cubanos no exterior] e tenho uma
trajetória [de oposição ao regime]. Se aproveitaram da briga
para tentar me silenciar."
Pouco antes de ser presa,
García, 41, havia participado de
atos de protesto do grupo Damas de Branco, formado por
mulheres de dissidentes presos. Segundo o site CubaNet, a
jornalista foi condenada pela
Justiça, em 23 de abril, por
"exercício arbitrário do direito", "num julgamento sem advogado de defesa".
A prisão foi criticada pela Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), que viu indícios
de caráter político na pena.
García conta que, em sua primeira semana em Manto Negro -presídio feminino de alta
segurança nos arredores de
Havana-, testemunhou o suicídio de uma mulher que havia
sido condenada a dez meses de
prisão por vender bolsas no
mercado negro.
Na semana seguinte, "as detentas ficaram sabendo que eu
era uma presa política e quiseram me conhecer, para que eu
contasse ao mundo seus sofrimentos", disse.
No último dia 7, a jornalista
deixou a cadeia sob medida
cautelar e foi ordenada a esperar em casa o julgamento de
apelação, ocorrido ontem.
Sua liberdade está condicionada ao pagamento de multa
de 300 pesos cubanos (cerca de
R$ 23) -descontados os 18 dias
em que García esteve presa, terá de pagar 282 pesos. É cerca
de 70% do salário médio mensal dos cubanos.
A blogueira dissidente Yoani
Sánchez divulgou no Twitter
campanha para arrecadar o dinheiro da multa.
Pressão e repressão
O regime castrista tem estado sob maior pressão desde fevereiro, quando morreu o dissidente preso Orlando Zapata,
após 85 dias de greve de fome.
Desde então, outros opositores iniciaram jejum em protesto -o jornalista Guillermo Fariñas está sem comer há mais
de dois meses.
Para García, a pressão não resultou em avanços nos direitos
humanos. "Tem havido ainda
mais repressão e violência."
Dissidentes alegam que há
200 opositores presos arbitrariamente em Cuba. O governo,
por sua vez, nega que os detidos
sejam presos políticos e acusa
os dissidentes de serem financiados pelos EUA para desestabilizar o regime.
(PAULA ADAMO IDOETA)
Com agências internacionais
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