|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Vice dos EUA sabia que Halliburton levaria contrato
JOSHUA CHAFFIN
DO "FINANCIAL TIMES", EM WASHINGTON
Assessores do vice-presidente
americano, Dick Cheney, participaram de duas reuniões com funcionários do Pentágono em que se
discutiu o controvertido contrato
de US$ 7 bilhões para a reconstrução do setor petrolífero do Iraque.
As reuniões ocorreram antes
que o contrato fosse entregue à
Halliburton, empresa da qual
Cheney já foi presidente.
Uma dessas reuniões teve a participação de Lewis Libby, chefe-de-gabinete de Cheney. Sua presença contradiz o argumento da
Casa Branca e do próprio vice-presidente de que este nada sabia
sobre o contrato antes que ele fosse tornado público.
Anteontem, um dos congressistas mais críticos à administração
Bush, Henry Waxman, democrata da Califórnia, interpelou Cheney por meio de uma carta.
Waxman escreve que informações recebidas do Pentágono revelam que a decisão sobre a empresa que seria contratada foi tomada por pessoas que ocupam
cargos de confiança no governo e
não por funcionários de carreira,
conforme versão da Casa Branca.
Por mais que em sua carta Waxman diga não ter provas de que
Cheney influenciou na decisão do
governo, o fato de a informação
vir a público levanta dúvidas sobre a maneira pela qual a administração George W. Bush decide
sobre os contratos do Iraque.
O contrato de US$ 7 bilhões foi
entregue em março de 2003 à Halliburton sem que houvesse concorrência pública, para que a empresa reconstruísse a infra-estrutura petrolífera iraquiana.
A decisão de privilegiar a empresa partiu de Michael Mobbs,
conselheiro de Douglas Feith,
subsecretário do Pentágono para
questões de defesa.
Mobbs disse ter passado informações a Libby sobre os planos
que beneficiariam a Halliburton
em outubro de 2002, bem antes de
as operações militares no Iraque
serem desencadeadas.
O gabinete de Cheney disse
manter as afirmações anteriores
sobre a questão e que não se pronunciaria sobre a carta do deputado Waxman antes de recebê-la.
Em setembro do ano passado,
Cheney disse à rede de televisão
NBC que não teve "absolutamente nenhuma influência, envolvimento ou conhecimento" do contrato em questão. A Halliburton
tem repetidamente afirmado que
ganhou os contratos do Iraque
em razão de seu longo e confiável
desempenho empresarial.
Waxman também se refere, em
sua carta a Cheney, a um e-mail
enviado pelo alto funcionário da
área militar Stephen Browning a
Feith, no dia 5 de março do ano
passado, três dias antes de a Halliburton ser contemplada.
Na mensagem, Browning diz
que a decisão sobre a concorrência "foi coordenada" com o gabinete do vice-presidente.
"Está mais que claro que eles [a
equipe de Cheney] foram contatados e que estavam em posição
de influenciar a escolha", disse
um dos assessores de Waxman.
39 mortos no Iraque
Na última sexta-feira 250 pessoas compareceram a um hotel de
Houston, no Texas, na esperança
de serem contratadas pela subsidiária da Halliburton no Iraque, a
KBR. Desde o início da guerra, 39
funcionários daquela empresa já
morreram e dois estão desaparecidos naquele país.
O risco é compensado por salários elevados. Mesmo que a empresa não os revele, uma das candidatas disse que um amigo seu
estava recebendo US$ 100 mil por
ano, num emprego pelo qual ganharia US$ 40 mil se estivesse trabalhando nos Estados Unidos.
A KBR tem 24 mil funcionários
em solo iraquiano, entre os contratados diretos e terceirizados
para tipos específicos de serviços.
Além dos salários, o "Financial
Times" encontrou candidatos a
empregos -estão sendo contratados 2.000- que dizem estar
dispostos a participar "do esforço
para combater o terrorismo".
Texto Anterior: EUA entregarão Saddam ao Iraque em duas semanas Próximo Texto: Trégua: Bush e Clinton trocam elogios na Casa Branca Índice
|