São Paulo, terça-feira, 15 de junho de 2004

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Vice dos EUA sabia que Halliburton levaria contrato

JOSHUA CHAFFIN
DO "FINANCIAL TIMES", EM WASHINGTON

Assessores do vice-presidente americano, Dick Cheney, participaram de duas reuniões com funcionários do Pentágono em que se discutiu o controvertido contrato de US$ 7 bilhões para a reconstrução do setor petrolífero do Iraque.
As reuniões ocorreram antes que o contrato fosse entregue à Halliburton, empresa da qual Cheney já foi presidente.
Uma dessas reuniões teve a participação de Lewis Libby, chefe-de-gabinete de Cheney. Sua presença contradiz o argumento da Casa Branca e do próprio vice-presidente de que este nada sabia sobre o contrato antes que ele fosse tornado público.
Anteontem, um dos congressistas mais críticos à administração Bush, Henry Waxman, democrata da Califórnia, interpelou Cheney por meio de uma carta.
Waxman escreve que informações recebidas do Pentágono revelam que a decisão sobre a empresa que seria contratada foi tomada por pessoas que ocupam cargos de confiança no governo e não por funcionários de carreira, conforme versão da Casa Branca.
Por mais que em sua carta Waxman diga não ter provas de que Cheney influenciou na decisão do governo, o fato de a informação vir a público levanta dúvidas sobre a maneira pela qual a administração George W. Bush decide sobre os contratos do Iraque.
O contrato de US$ 7 bilhões foi entregue em março de 2003 à Halliburton sem que houvesse concorrência pública, para que a empresa reconstruísse a infra-estrutura petrolífera iraquiana.
A decisão de privilegiar a empresa partiu de Michael Mobbs, conselheiro de Douglas Feith, subsecretário do Pentágono para questões de defesa.
Mobbs disse ter passado informações a Libby sobre os planos que beneficiariam a Halliburton em outubro de 2002, bem antes de as operações militares no Iraque serem desencadeadas.
O gabinete de Cheney disse manter as afirmações anteriores sobre a questão e que não se pronunciaria sobre a carta do deputado Waxman antes de recebê-la.
Em setembro do ano passado, Cheney disse à rede de televisão NBC que não teve "absolutamente nenhuma influência, envolvimento ou conhecimento" do contrato em questão. A Halliburton tem repetidamente afirmado que ganhou os contratos do Iraque em razão de seu longo e confiável desempenho empresarial.
Waxman também se refere, em sua carta a Cheney, a um e-mail enviado pelo alto funcionário da área militar Stephen Browning a Feith, no dia 5 de março do ano passado, três dias antes de a Halliburton ser contemplada.
Na mensagem, Browning diz que a decisão sobre a concorrência "foi coordenada" com o gabinete do vice-presidente.
"Está mais que claro que eles [a equipe de Cheney] foram contatados e que estavam em posição de influenciar a escolha", disse um dos assessores de Waxman.

39 mortos no Iraque
Na última sexta-feira 250 pessoas compareceram a um hotel de Houston, no Texas, na esperança de serem contratadas pela subsidiária da Halliburton no Iraque, a KBR. Desde o início da guerra, 39 funcionários daquela empresa já morreram e dois estão desaparecidos naquele país.
O risco é compensado por salários elevados. Mesmo que a empresa não os revele, uma das candidatas disse que um amigo seu estava recebendo US$ 100 mil por ano, num emprego pelo qual ganharia US$ 40 mil se estivesse trabalhando nos Estados Unidos.
A KBR tem 24 mil funcionários em solo iraquiano, entre os contratados diretos e terceirizados para tipos específicos de serviços.
Além dos salários, o "Financial Times" encontrou candidatos a empregos -estão sendo contratados 2.000- que dizem estar dispostos a participar "do esforço para combater o terrorismo".


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