São Paulo, terça-feira, 15 de junho de 2010

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Brasil estuda retomar a mediação com o Irã

Na ONU, Amorim dirá esperar que não se perca a chance de diálogo

Chanceler mantém contato sobre o tema com colega turco; fator crucial será resposta de Teerã a Grupo de Viena

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

Apesar da aprovação das sanções contra o Irã no Conselho de Segurança da ONU, a diplomacia brasileira não descarta retomar, ao lado da Turquia, um papel nas negociações sobre o programa nuclear iraniano.
Em discurso hoje na Conferência de Desarmamento da ONU, o chanceler Celso Amorim defenderá a validade da Declaração de Teerã, firmada em maio pelos três países.
"Só podemos esperar que a oportunidade mais promissora até agora de engajar o Irã em um diálogo sobre seu programa nuclear não seja perdida", dirá ele.
O chanceler, que mantém contato sobre o tema com o colega turco, Ahmet Davutoglu, lamentará que o acordo de Teerã não tenha sido "testado" antes das sanções.
Mas insistirá em que ele é "uma plataforma para mais negociações", visando uma "fórmula" que concilie "o direito do Irã ao uso pacífico da energia nuclear" com as "garantias" de que o programa atômico "tem propósitos exclusivamente pacíficos".
A possibilidade de que Brasil e Turquia mantenham papel mediador foi levantada em público pela secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton. Também surgiu em telefonema do conselheiro de Segurança Nacional, James Jones, a Marco Aurélio Garcia, assessor internacional do presidente Lula.
A primeira reação brasileira foi negativa, por acreditar que as sanções invalidavam o acordo de Teerã.
Mas a avaliação não é mais tão taxativa, por duas razões:
1) A resposta do chamado Grupo de Viena (EUA, França e Rússia) à Agência Internacional de Energia Atômica não rejeita de modo terminante o acordo de Teerã.
O grupo faz restrições à quantidade de urânio levemente enriquecido que o Irã se comprometeu a enviar à Turquia, que hoje equivale a 50% de seu estoque.
Também pede que o Irã suspenda o enriquecimento a 20% -que o país alega ter iniciado para prover combustível para seu reator de uso médico, caso a troca não se concretize.
São duas questões difíceis, mas não impossíveis de superar em negociações, estimam diplomatas.
2) O Irã, devido a disputas internas, ainda não entregou sua contrarresposta ao Grupo de Viena.
Existiria a possibilidade, apesar da retórica desafiadora com que as sanções foram recebidas, de que ainda haja uma porta aberta para a retomada da negociação.


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