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análise
Paquistanesa vê futuro mais perto da Índia
CLARA FAGUNDES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Separado em 1947 "enquanto o mundo dormia",
o subcontinente indiano
caminha, a passos trôpegos, para a reaproximação.
"A longo prazo, talvez seja
possível construir um pacto nos moldes da União
Européia", disse à Folha
Yasmin Khan, autora de
"The Great Partition: The
Making of India and Pakistan" (a grande divisão:
a formação da Índia e do
Paquistão), ainda sem tradução no Brasil.
Khan descarta uma futura unificação dos países,
porém ressalta que, mais
que seus próprios governos, indianos e paquistaneses desejam reconstruir
a conexão histórica que os
une. O principal trunfo colonial britânico se dissolveu em agosto de 1947 em
duas nações: República Islâmica do Paquistão, ela
própria dividida em Ocidental e Oriental (futura
Bangladesh), separadas
por uma imensa Índia de
maioria hindu.
"O imperialismo ajudou
a criar um forte sentimento de comunidade religiosa, um sectarismo que não
necessariamente existia
antes da colonização", diz.
Tentativas de constituir
algum tipo de federalismo,
que talvez tivesse evitado
a secessão, falharam.
Khan explica que o governo indiano acreditava na
economia planejada, centralizada pelo Estado
-modelo inaceitável para
a minoria muçulmana,
que queria mais autonomia. Com discreto apoio
da metrópole, líderes dos
dois grupos decidiram os
termos da divisão.
Na madrugada entre os
dias 14 e 15, horas depois
do Paquistão, a Índia libertou-se formalmente.
Milhares de pessoas se
moviam entre as novas
fronteiras, enquanto o primeiro presidente indiano
pronunciava seu discurso
histórico sobre o "país que
acordava para a vida e a liberdade". Dois meses depois, eclodia o primeiro
conflito indo-paquistanês,
provocado por disputas
sobre a Caxemira.
Após a morte de Gandhi
por um radical hindu, a
Índia consolidou-se como
uma democracia secular.
O nacionalismo hindu,
derrotado como poder de
Estado, sobrevive em partidos como BJP e RSS.
O Paquistão, altamente
militarizado já sob o domínio britânico, manteve
regimes militares durante
a maior parte de sua história. Especialistas são céticos quanto a mudanças
após uma eventual queda
de Musharraf. "O regime
não é baseado na figura do
líder. O Exército permeia
a estrutura de poder no
país", diz Khan.
A secessão deixou 12
milhões de refugiados.
Muçulmanos, hindus e
sikhs seguiram em trens,
carroças ou a pé para o que
seria seu novo país. Entre
eles, muitos Khans e alguns Musharrafs -inclusive o pequeno Pervez,
atual ditador do Paquistão. Um dos Khans emigrou, anos depois, para a
Inglaterra, onde sua filha
Yasmin faria doutorado
em Oxford e escreveria sobre a travessia. O livro, a
ser publicado em setembro nos EUA, é uma das
poucas perspectivas não-britânicas do fim do império editadas no Ocidente.
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