São Paulo, quarta-feira, 15 de agosto de 2007

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análise

Paquistanesa vê futuro mais perto da Índia

CLARA FAGUNDES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Separado em 1947 "enquanto o mundo dormia", o subcontinente indiano caminha, a passos trôpegos, para a reaproximação. "A longo prazo, talvez seja possível construir um pacto nos moldes da União Européia", disse à Folha Yasmin Khan, autora de "The Great Partition: The Making of India and Pakistan" (a grande divisão: a formação da Índia e do Paquistão), ainda sem tradução no Brasil.
Khan descarta uma futura unificação dos países, porém ressalta que, mais que seus próprios governos, indianos e paquistaneses desejam reconstruir a conexão histórica que os une. O principal trunfo colonial britânico se dissolveu em agosto de 1947 em duas nações: República Islâmica do Paquistão, ela própria dividida em Ocidental e Oriental (futura Bangladesh), separadas por uma imensa Índia de maioria hindu.
"O imperialismo ajudou a criar um forte sentimento de comunidade religiosa, um sectarismo que não necessariamente existia antes da colonização", diz.
Tentativas de constituir algum tipo de federalismo, que talvez tivesse evitado a secessão, falharam. Khan explica que o governo indiano acreditava na economia planejada, centralizada pelo Estado -modelo inaceitável para a minoria muçulmana, que queria mais autonomia. Com discreto apoio da metrópole, líderes dos dois grupos decidiram os termos da divisão.
Na madrugada entre os dias 14 e 15, horas depois do Paquistão, a Índia libertou-se formalmente. Milhares de pessoas se moviam entre as novas fronteiras, enquanto o primeiro presidente indiano pronunciava seu discurso histórico sobre o "país que acordava para a vida e a liberdade". Dois meses depois, eclodia o primeiro conflito indo-paquistanês, provocado por disputas sobre a Caxemira.
Após a morte de Gandhi por um radical hindu, a Índia consolidou-se como uma democracia secular. O nacionalismo hindu, derrotado como poder de Estado, sobrevive em partidos como BJP e RSS.
O Paquistão, altamente militarizado já sob o domínio britânico, manteve regimes militares durante a maior parte de sua história. Especialistas são céticos quanto a mudanças após uma eventual queda de Musharraf. "O regime não é baseado na figura do líder. O Exército permeia a estrutura de poder no país", diz Khan.
A secessão deixou 12 milhões de refugiados. Muçulmanos, hindus e sikhs seguiram em trens, carroças ou a pé para o que seria seu novo país. Entre eles, muitos Khans e alguns Musharrafs -inclusive o pequeno Pervez, atual ditador do Paquistão. Um dos Khans emigrou, anos depois, para a Inglaterra, onde sua filha Yasmin faria doutorado em Oxford e escreveria sobre a travessia. O livro, a ser publicado em setembro nos EUA, é uma das poucas perspectivas não-britânicas do fim do império editadas no Ocidente.


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