|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Em crise, Paquistão celebra independência
Premiê Shaukat Aziz evoca soberania nacional em crítica a EUA, que cobram mais esforço no combate a Taleban e Al Qaeda
Aos 60 anos do fim do
domínio britânico, ditador
Musharraf, que almeja ser
reeleito pelo Congresso, vê
sua base de apoio diminuir
B. K. Bangash/Associated Press
|
Em Islamabad, paquistanesas comemoram a independência do país, que vive turbulência |
DA REDAÇÃO
Cerimônias cívicas e militares, com participação popular,
marcaram ontem o 60º aniversário da independência do Paquistão do Reino Unido. As festividades, que incluíram fogos
de artifício e salvas de canhão
em diferentes cidades, foram
no entanto mais modestas do
que em anos passados, em virtude da turbulência política
que o país atravessa.
Indícios das várias faces da
crise paquistanesa estavam nos
discursos das autoridades máximas do país. O primeiro-ministro, Shaukat Aziz, declarou,
em evento na presença de militares, diplomatas e outros funcionários públicos, que as Forças Armadas estão bem equipadas e prontas para defender a
soberania do Paquistão -que é
o único país muçulmano a possuir armamento nuclear.
"Nós nunca permitiremos
que estrangeiros interfiram em
nossas fronteiras", disse Aziz,
numa referência velada à hipótese aventada na semana passada por Barack Obama, pré-candidato democrata à Presidência
dos EUA, de combater militantes da Al Qaeda e do Taleban
em território paquistanês.
A pressão que vem dos EUA,
também do governo republicano do aliado George W. Bush, é
só um dos componentes da crise enfrentada pelo ditador paquistanês, Pervez Musharraf.
Musharraf enfrentou neste
ano protestos populares, após
destituir o presidente da Suprema Corte, que se notabilizou pela crítica a seu governo.
O juiz Iftikhar Chaudhry acabou sendo reconduzido ao cargo, em 20 de julho, por decisão
da própria Corte.
Também em julho, uma incursão militar à Mesquita Vermelha, em Islamabad, desencadeada para sufocar uma insurreição de um grupo islâmico
pró-Taleban, acabou na morte
de mais de cem pessoas. Como
conseqüência do confronto,
houve uma série de atentados
perpetrados por grupos radicais muçulmanos no Paquistão,
os quais mataram outras 200
pessoas. A operação também
indispôs os partidos religiosos
que integram a base de apoio de
Musharraf com o governo.
Eleições
Musharraf, que tomou o poder em 1999 e agora vê sua base
política minguar, fez ontem um
apelo, em menção às eleições
presidenciais, que se avizinham, para que os paquistaneses se "envolvam no processo
eleitoral e se tornem instrumentos de um esclarecimento
moderado".
As eleições indiretas, que devem ocorrer entre 15 de setembro e 15 de outubro, significam
um dilema para o ditador: para
concorrer, ele tem de renunciar
ao generalato, como exige a
Constituição. Ele já conseguiu
adiar essa decisão mais de uma
vez, contando com uma Suprema Corte outrora manipulável,
mas agora a situação é outra. Se
concorrer como militar, Musharraf corre o risco de enfrentar processo legal e protestos
populares.
Uma das opções do ditador é
fazer um acordo com a ex-premiê Benazir Bhutto, que atualmente vive exilada, no Reino
Unido. Seus termos, ainda em
discussão, também envolveriam o abandono do generalato
por Musharraf, que teria então
apoio do partido da ex-premiê
para concorrer à Presidência,
com Bhutto como candidata a
premiê. O general ainda resiste
a ceder parte de seu poder.
Com toda essa pressão à sua
volta, Musharraf ameaçou na
semana passada decretar estado de emergência -ação da
qual foi dissuadido, muito provavelmente, por um telefonema da Secretária de Estado dos
EUA, Condoleezza Rice.
Com agências internacionais
Texto Anterior: Em Cabul, presidentes do Afeganistão e do Irã mostram desacordo com EUA Próximo Texto: Análise: Paquistanesa vê futuro mais perto da Índia Índice
|