São Paulo, quarta-feira, 15 de agosto de 2007

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Em crise, Paquistão celebra independência

Premiê Shaukat Aziz evoca soberania nacional em crítica a EUA, que cobram mais esforço no combate a Taleban e Al Qaeda

Aos 60 anos do fim do domínio britânico, ditador Musharraf, que almeja ser reeleito pelo Congresso, vê sua base de apoio diminuir

B. K. Bangash/Associated Press
Em Islamabad, paquistanesas comemoram a independência do país, que vive turbulência


DA REDAÇÃO

Cerimônias cívicas e militares, com participação popular, marcaram ontem o 60º aniversário da independência do Paquistão do Reino Unido. As festividades, que incluíram fogos de artifício e salvas de canhão em diferentes cidades, foram no entanto mais modestas do que em anos passados, em virtude da turbulência política que o país atravessa.
Indícios das várias faces da crise paquistanesa estavam nos discursos das autoridades máximas do país. O primeiro-ministro, Shaukat Aziz, declarou, em evento na presença de militares, diplomatas e outros funcionários públicos, que as Forças Armadas estão bem equipadas e prontas para defender a soberania do Paquistão -que é o único país muçulmano a possuir armamento nuclear.
"Nós nunca permitiremos que estrangeiros interfiram em nossas fronteiras", disse Aziz, numa referência velada à hipótese aventada na semana passada por Barack Obama, pré-candidato democrata à Presidência dos EUA, de combater militantes da Al Qaeda e do Taleban em território paquistanês.
A pressão que vem dos EUA, também do governo republicano do aliado George W. Bush, é só um dos componentes da crise enfrentada pelo ditador paquistanês, Pervez Musharraf.
Musharraf enfrentou neste ano protestos populares, após destituir o presidente da Suprema Corte, que se notabilizou pela crítica a seu governo. O juiz Iftikhar Chaudhry acabou sendo reconduzido ao cargo, em 20 de julho, por decisão da própria Corte.
Também em julho, uma incursão militar à Mesquita Vermelha, em Islamabad, desencadeada para sufocar uma insurreição de um grupo islâmico pró-Taleban, acabou na morte de mais de cem pessoas. Como conseqüência do confronto, houve uma série de atentados perpetrados por grupos radicais muçulmanos no Paquistão, os quais mataram outras 200 pessoas. A operação também indispôs os partidos religiosos que integram a base de apoio de Musharraf com o governo.

Eleições
Musharraf, que tomou o poder em 1999 e agora vê sua base política minguar, fez ontem um apelo, em menção às eleições presidenciais, que se avizinham, para que os paquistaneses se "envolvam no processo eleitoral e se tornem instrumentos de um esclarecimento moderado".
As eleições indiretas, que devem ocorrer entre 15 de setembro e 15 de outubro, significam um dilema para o ditador: para concorrer, ele tem de renunciar ao generalato, como exige a Constituição. Ele já conseguiu adiar essa decisão mais de uma vez, contando com uma Suprema Corte outrora manipulável, mas agora a situação é outra. Se concorrer como militar, Musharraf corre o risco de enfrentar processo legal e protestos populares.
Uma das opções do ditador é fazer um acordo com a ex-premiê Benazir Bhutto, que atualmente vive exilada, no Reino Unido. Seus termos, ainda em discussão, também envolveriam o abandono do generalato por Musharraf, que teria então apoio do partido da ex-premiê para concorrer à Presidência, com Bhutto como candidata a premiê. O general ainda resiste a ceder parte de seu poder.
Com toda essa pressão à sua volta, Musharraf ameaçou na semana passada decretar estado de emergência -ação da qual foi dissuadido, muito provavelmente, por um telefonema da Secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice.


Com agências internacionais


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