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Zelaya revela a Lula escala em base dos EUA
Voo que o levou a Costa Rica parou em instalação americana; Brasil qualifica informação de "inquietante"
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O governo brasileiro considerou "inquietante e inacreditável", nas palavras do assessor
internacional da Presidência,
Marco Aurélio Garcia, a informação do presidente deposto
Manuel Zelaya de que o avião
militar de Honduras que o sequestrou em 28 de junho fez
um pouso numa base aérea
americana no país, entre a decolagem em Tegucigalpa e o desembarque na Costa Rica.
No encontro que teve com o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, na quarta, em Brasília,
Zelaya contou a história, disse
que não acreditava na hipótese
de ser uma "parada técnica para abastecer", porque Honduras é um pequeno país, além de
ser próximo à Costa Rica. O
avião militar que o transportou
teria autonomia para um voo
direto entre os dois países.
"A informação de Zelaya [sobre o pouso do avião militar na
base americana] confirma o
quanto é importante haver garantias sobre essas bases estrangeiras na região. É uma
confirmação de que elas sempre podem servir para ações
descontroladas", disse Marco
Aurélio Garcia.
"Mas, veja bem, estou me referindo exclusivamente à questão hondurenha", acrescentou
logo depois, tentando amenizar
a evidente insinuação ao motivo da nova crise política na
América do Sul: a ampliação do
acordo EUA-Colômbia para
que tropas americanas utilizem
bases militares colombianas.
Depois de isentar o presidente Barack Obama de responsabilidade, na conversa com Lula,
Zelaya acusou explicitamente
setores do governo dos EUA de
apoio e participação no golpe.
Segundo Garcia, o presidente
deposto se referiu a "condutas
autônomas de funcionários
americanos" no golpe. Uma leitura possível dessa referência
na diplomacia brasileira é que
ainda perdure no governo Obama um conflito de poder entre
o Departamento de Estado e o
Pentágono, comandado pelos
"falcões".
Isso explicaria, por exemplo,
a conduta relutante do governo
Obama diante do golpe. Primeiro, demorou a condená-lo.
Depois, acompanhou a posição
consensual dentro e fora do
continente e condenou verbalmente. Enfim, dividiu-se internamente e passou a se envolver
o menos possível com a questão. Hoje, é acusado de fazer
corpo mole para o retorno de
Zelaya ao poder.
Na reunião da Unasul (União
de Nações Sul Americanas) na
última segunda-feira, em Quito, Zelaya foi saudado como
chefe de Estado pelos presidentes presentes, e um deles, Evo
Morales, da Bolívia, disse em
discurso que tinha documentos
comprovando o envolvimento
dos EUA no golpe.
A questão trazida por Zelaya
a Lula, sobre a parada na base
americana, é assim um fator a
mais de polêmica no já conturbado clima entre os países da
região, sobretudo após o anúncio de ampliação do acordo da
Colômbia com os EUA.
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