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Laços com a mídia impulsionam Santos
Família do presidente tem participação em rádio, TV, jornal e revista, o que assegura "lua de mel" com imprensa
Licitação de canal de TV com um só candidato, ligado aos Santos, vai testar relação de líder colombiano com o setor
Carlos Ortega - 21.jun.2010/Efe
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Homem em Cali lê jornal editado por grupo fundado pela família Santos
FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS
O novo presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos,
em oito dias de governo, fez
tudo para se afastar da "herança maldita" de seu padrinho político Álvaro Uribe,
amado pelas conquistas em
segurança, mas incômodo
no quesito escândalos e na
etiqueta para tratar a oposição e os vizinhos.
De sábado até hoje, o novo
governo pactou trégua com a
Venezuela, com a Corte Suprema de Justiça -em pé de
guerra com Uribe-, e acenou
até à diminuta oposição, oferecendo participação em comissões no Legislativo.
Sem falar na nomeação de
um gabinete "de luxo", com
acadêmicos, políticos de renome e nomes do setor privado com formação no exterior.
Nem o atentado em Bogotá, na quinta-feira, foi capaz
de afetar a atmosfera de lua
de mel do novo governo.
"Rapidamente Santos tratou de corrigir as tensões do
governo anterior. Foi uma
surpresa que tenha sido tão
rápido e, de alguma maneira,
exitoso", disse Rodrigo Pardo, ex-chanceler no governo
Ernesto Samper (1994-1998)
e parte do conselho editorial
da famosa revista "Semana".
A dourada estreia de Santos foi coroada pelos elogios
de colunistas críticos de Uribe, como Pardo, e vem embalada pelos laços do presidente com os principais meios de
comunicação e com a elite
tradicional do país.
LICITAÇÃO
É justamente da sua estreita ligação com a mídia -a família é fundadora e acionista
do principal jornal colombiano, o "El Tiempo"- que devem vir os primeiros desafios
concretos do "estilo Santos".
Em primeiro lugar, está em
curso a controversa licitação
do terceiro canal de TV nacional da Colômbia. Em uma
batalha que se arrasta ao menos por um ano, o processo
está paralisado porque só há
um candidato: o grupo espanhol Planeta, sócio da família Santos no "El Tiempo".
Os dois demais concorrentes, o também espanhol Prisa
e o magnata venezuelano
Gustavo Cisneros, desistiram
de disputar a concessão por
falta de "garantias jurídicas".
"É uma das primeiras provas para Santos, de passar do
estilo à ação. Vamos ver se
ele deixa a licitação como está e outorga o terceiro canal à
família ou se muda as regras
do jogo", diz Pardo.
A licitação está à espera de
um parecer do Conselho de
Estado, um órgão consultivo
do Executivo. E Santos terá
de coordenar a escolha do
quinto integrante da comissão governamental que terá a
última palavra no caso.
Se a nova emissora terminar de fato nas mãos do Planeta, analistas alertam para
a perigosa concentração do
poder midiático em torno da
família do novo presidente.
Seu primo, Francisco Santos, vice de Uribe, anunciou
nesta semana que será diretor de notícias da rádio RCN,
a segunda do país, cujo grupo controla uma das TVs. O
sobrinho do presidente, Alejandro, dirige a "Semana".
O irmão de Santos, Luis
Fernando, acaba de anunciar que deixará a direção da
Casa Editorial El Tiempo, para evitar conflito de interesse.
Mas textos do jornal não
escondem a admiração pelo
novo presidente, que já foi
subdiretor da casa. "Não sabiam os colombianos, por
exemplo, de sua obsessão
por pontualidade, por dizer a
verdade, por reconhecer seus
erros e sua disposição de corrigir", diz o perfil dele, na edição do dia da posse.
Daniel Samper Pizano, colunista do jornal centenário,
expressou seu desconforto.
Escreveu no "El Tiempo", em
31 de julho, que a Presidência
de Santos pode ser "uma desgraça" para o diário.
Samper Pizano pede a
Santos que não repita "como
chefe de Estado as pressões
que aplicava como ministro"
da Defesa de Uribe. "Mais de
uma vez escutei redatores e
editores expressarem irritação ou surpresa por interferências suas -diretas ou por
meio de mensageiros- no
processo informativo."
Em fevereiro deste ano, o
grupo El Tiempo fechou a revista "Cambio", responsável
por trazer à tona alguns escândalos do governo Uribe.
A razão foi financeira, disse.
Mas os ex-editores da revista, entre eles Pardo, não
disfarçaram à época o incômodo pelas críticas feitas semanas antes por Santos. Ele
insinuara que os jornalistas
da "Cambio" eram "idiotas
úteis" por criticar o governo.
CAPATAZ
Passar da retórica de mudança à distância das investigações de escândalos da era
Uribe na Justiça é outro desafio para o novo governo.
"Foi-se o capataz e chegou
o dono da fazenda, como dizem alguns", escreveu Daniel Samper Ospina, ácido
colunista humorístico da
"Semana", na edição que circulou na segunda passada.
Ele ironizava o que aparecia de forma mais ou menos
explícita na mídia para representar a volta da elite bogotana ao poder, em substituição
aos emergentes do uribismo,
ligados ao poder rural e fortalecidos sob o reinado do paramilitarismo até 2005.
"As elites bogotanas e o
uribismo se usaram mutuamente. E essa frase expressa
o alívio pelo fim do tom fundamentalista de Uribe", diz
Omar Rincón, especialista
em comunicação e coautor
do blog Midiática do Poder,
no portal político colombiano LaSillaVacía. "É como para dizer: vamos para frente,
não importa como. Não tenhamos memória!"
Santos terá como embaixador no Vaticano o ex-secretário de Imprensa do governo anterior César Mauricio Velázquez, um dos quatro
assessores de Uribe chamados a depor no "escândalo do
grampo", a interceptação ilegal de juízes e opositores feitas pelo DAS, a agência de inteligência colombiana.
O novo presidente ainda
ratificou no cargo o presidente do DAS, Felipe Muñoz.
"[Santos] perdeu a oportunidade de assumir uma atitude séria frente às investigações que estão ocorrendo",
diz Rodrigo Pardo.
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