São Paulo, domingo, 15 de agosto de 2010

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Projetos de reforma marcam 100 dias de Cameron no poder

Premiê britânico quer deixar como sua marca redução do Estado, inflado após 13 anos de domínio trabalhista

Ideia do governante conservador é reformar educação, sistema de saúde e cortar 25% dos gastos públicos do país


VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES

O novo governo britânico, que completa cem dias na quarta-feira, dia 18, começou a 200 km por hora. Ao menos no campo das ideias.
De um corte de gastos sem precedentes a mudanças na educação, de reestruturação da polícia ao atendimento médico, quase todos os dias apareceram projetos para reformar um Estado gastão e centralizador.
David Cameron, 43, o primeiro-ministro mais jovem do Reino Unido em 198 anos, quer deixar uma marca, como fez Margareth Thatcher (1979-1990) com a sua política de privatizações que mudou a face do país.
Cameron chama sua mudança de "big society" (grande sociedade, numa tradução óbvia), que significa reduzir o Estado, inchado nos 13 anos de governo trabalhista, e dar à sociedade poder para administrar serviços e fiscalizar o governo.
Na área da educação, na qual faltam vagas em boas instituições, a ideia é facilitar que cooperativas ou grupos de pais possam criar suas próprias escolas, que receberão dinheiro do governo.
Será pago um valor por aluno para que haja competição por estudantes e a concorrência melhore a qualidade do ensino.
Na saúde, que é pública e universal, o governo quer cortar a burocracia e entregar parte do orçamento aos médicos. Acredita que assim eles escolherão melhor exames e tratamentos e reduzirão os desperdícios.
Na segurança pública, a proposta é que os chefes de polícia sejam eleitos pelos próprios cidadãos, para que prestem conta diretamente a seus "novos patrões".
O premiê também anunciou que pretende contratar empresas privadas para apurar fraudes na concessão de benefícios sociais.

DINHEIRO
Mas a medida mais impactante até agora diz respeito a dinheiro. Logo em junho, o governo anunciou que todos os setores (com exceção de saúde e ajuda externa) deverão fazer cortes nos gastos de, em média, 25%.
A intenção é acabar com o deficit público ao reduzir o valor despendido pelo Estado (637 bilhões de libras por ano, cerca de R$ 1,76 trilhões) e aumentar a arrecadação de impostos.
Os cortes deverão ser detalhados no dia 20 de outubro, quando o novo governo começará a ser de fato colocado à prova.
A previsão é que esses cortes provoquem a demissão de cerca de 600 mil dos atuais 6 milhões de servidores públicos. Outros 700 mil podem perder o emprego em empresas que têm o governo como principal cliente.
Sindicatos, que ainda são muito fortes no Reino Unido e ligados aos opositores do Partido Trabalhista, prometem uma onda de greves.
Além disso, a redução de gastos passará a ser sentida pelos cidadãos comuns, que por enquanto veem propostas nos jornais e na TV, mas não entendem a maioria.
Na verdade, como é verão, apesar de as temperaturas estarem abaixo dos 20ºC, a maioria pensa em onde passar o final das férias. Quando a vida voltar ao normal, voltarão os olhos para o governo. Aí, Cameron precisará de ações, não apenas de milhões de ideias por minuto.


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