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Projetos de reforma marcam 100 dias de Cameron no poder
Premiê britânico quer deixar como sua marca redução do Estado, inflado após 13 anos de domínio trabalhista
Ideia do governante
conservador é reformar
educação, sistema de
saúde e cortar 25% dos
gastos públicos do país
VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES
O novo governo britânico,
que completa cem dias na
quarta-feira, dia 18, começou
a 200 km por hora. Ao menos
no campo das ideias.
De um corte de gastos sem
precedentes a mudanças na
educação, de reestruturação
da polícia ao atendimento
médico, quase todos os dias
apareceram projetos para reformar um Estado gastão e
centralizador.
David Cameron, 43, o primeiro-ministro mais jovem
do Reino Unido em 198 anos,
quer deixar uma marca, como fez Margareth Thatcher
(1979-1990) com a sua política de privatizações que mudou a face do país.
Cameron chama sua mudança de "big society" (grande sociedade, numa tradução óbvia), que significa reduzir o Estado, inchado nos
13 anos de governo trabalhista, e dar à sociedade poder
para administrar serviços e
fiscalizar o governo.
Na área da educação, na
qual faltam vagas em boas
instituições, a ideia é facilitar
que cooperativas ou grupos
de pais possam criar suas
próprias escolas, que receberão dinheiro do governo.
Será pago um valor por
aluno para que haja competição por estudantes e a concorrência melhore a qualidade do ensino.
Na saúde, que é pública e
universal, o governo quer
cortar a burocracia e entregar
parte do orçamento aos médicos. Acredita que assim
eles escolherão melhor exames e tratamentos e reduzirão os desperdícios.
Na segurança pública, a
proposta é que os chefes de
polícia sejam eleitos pelos
próprios cidadãos, para que
prestem conta diretamente a
seus "novos patrões".
O premiê também anunciou que pretende contratar
empresas privadas para apurar fraudes na concessão de
benefícios sociais.
DINHEIRO
Mas a medida mais impactante até agora diz respeito a
dinheiro. Logo em junho, o
governo anunciou que todos
os setores (com exceção de
saúde e ajuda externa) deverão fazer cortes nos gastos
de, em média, 25%.
A intenção é acabar com o
deficit público ao reduzir o
valor despendido pelo Estado (637 bilhões de libras por
ano, cerca de R$ 1,76 trilhões) e aumentar a arrecadação de impostos.
Os cortes deverão ser detalhados no dia 20 de outubro,
quando o novo governo começará a ser de fato colocado
à prova.
A previsão é que esses cortes provoquem a demissão
de cerca de 600 mil dos
atuais 6 milhões de servidores públicos. Outros 700 mil
podem perder o emprego em
empresas que têm o governo
como principal cliente.
Sindicatos, que ainda são
muito fortes no Reino Unido
e ligados aos opositores do
Partido Trabalhista, prometem uma onda de greves.
Além disso, a redução de
gastos passará a ser sentida
pelos cidadãos comuns, que
por enquanto veem propostas nos jornais e na TV, mas
não entendem a maioria.
Na verdade, como é verão,
apesar de as temperaturas
estarem abaixo dos 20ºC, a
maioria pensa em onde passar o final das férias. Quando
a vida voltar ao normal, voltarão os olhos para o governo. Aí, Cameron precisará de
ações, não apenas de milhões de ideias por minuto.
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